A ideia de que a acne é apenas um problema reservado a adolescentes já foi desmistificada há muito tempo.
Atualmente, não são apenas os jovens que se debatem para conseguir eliminar esta condição cutânea, mas também os adultos, principalmente as mulheres. Até porque nada custa mais do que esperar pelos 30 anos para conseguir uma pele limpa e uniforme, para depois perceber que afinal as borbulhas não terminam na adolescência.
Aceitar a acne tardia não é fácil, principalmente para quem nunca a teve na adolescência, mas descanse, não é a única mulher a sofrer com ela.
Estivemos à conversa com Miguel Trincheiras, médico dermatologista e Diretor Clínico em derme.pt – Skin Laser Clinic, para compreender o que é a acne e de que forma nos afeta.
Acne tardia: como acabar com ela
Segundo o médico, “é uma doença inflamatória da pele que afeta as áreas mais ricas em glândulas sebáceas. É um problema que pode ter um impacto físico e psicológico na saúde dos adolescentes e, cada vez mais, na idade adulta, geralmente a partir dos 25 ou 30 anos e mais frequentemente nas mulheres”.
Os seus efeitos são conhecidos e incluem borbulhas, pele oleosa, poros entupidos e, por vezes, quistos. Tal como explica o dermatologista, “a acne engloba vários tipos de lesões, as mais simples e não inflamadas – designadas por retencionais – são representadas por borbulhas ou pontos negros. Estas podem evoluir para lesões inflamatórias, como pápulas e pústulas, sobretudo pela proliferação bacteriana no seio das lesões de retenção”.
Para Miguel Trincheiras, deve optar-se por uma abordagem precoce do tratamento das lesões retencionais, de forma a travar esta evolução e reduzir o risco de cicatrizes.
Um, dó, li, tá
As diferenças entre a acne juvenil e a tardia não são grandes e traduzem-se principalmente pelo local onde surge: na juvenil a zona T é a mais afetada e já a acne tardia manifesta-se sobretudo na zona U, correspondendo ao queixo, mandíbula e pescoço.
No que respeita a encontrar tratamentos eficazes, é provável que já tenha experimentado todo o tipo de loções, essências, séruns e cremes disponíveis no mercado. Porém, precisa de compreender em primeiro lugar o que está a causar a acne.
Para o dermatologista, esta “varia muito entre diferentes pessoas e pode ser influenciada pela tendência genética de cada um, pela formação de rolhões de queratina (proteína da pele) nos folículos pilosos, pelo excesso de sebo, pelas bactérias presentes na pele ou até pela reação do sistema imunitário. No caso da acne tardia, acrescem ainda fatores como poluição, stresse, desregulação hormonal, tabaco ou até mesmo algum tipo de cuidados cosméticos oclusivos”.
Cuidado com…
Existem pequenos gestos que podem agravar ou piorar os casos de acne. Como tal, evite:
- Mexer na cara com frequência. Apenas tocar já é suficiente para transportar microrganismos e sujidade para a pele;
- Espremer ou rebentar lesões. Apesar de estar a drenar material inflamatório, este gesto pode ser contraproducente se a drenagem não for realizada para o exterior;
- Exposição solar excessiva, uma vez que o sol pode agravar o estado da pele;
- Dormir com maquilhagem, pois ao não remover este tipo de produtos deixa resíduos nos poros, que acabam por ficar entupidos.
Somos aquilo que comemos?
Há muito que se discute o peso da alimentação e a sua possível relação com o aumento e evolução da acne. No entanto, também existem muito mitos sobre esta mesma relação.
Para o médico dermatologista, o mito mais frequente está relacionado com o chocolate: “não é totalmente verdade que o chocolate agrava a acne, mas também não é totalmente mito. Isto porque o chocolate tem um elevado índice glicémico, o que estimula a produção de sebo pelas glândulas sebáceas, aumentando a oleosidade da pele e, consequentemente, piorando o quadro de acne.”
“Além disso, alimentos gordurosos, derivados do leite e doces são alguns dos possíveis responsáveis pelo agravamento do problema. Porém, não existem, até ao momento, evidências científicas que liguem de forma inequívoca o consumo de certos alimentos ao aparecimento de lesões cutâneas. Existe sim, a evidência de pessoas mais suscetíveis à influência de alguns alimentos do que outras”, acrescenta.
O nosso conselho? Evite o consumo excessivo de alimentos processados, ricos em açúcar ou lacticínios e aposte numa alimentação mais equilibrada e saudável.
Localizar e tratar
Apesar de ser uma condição cutânea difícil e demorada de cuidar, até porque o seu comportamento não é estável, a acne pode ser tratada e, se for diagnosticada cedo, é possível prevenir as manchas e cicatrizes permanentes. O primeiro passo? Consultar um dermatologista.
“A acne é uma patologia dinâmica que necessita de ser abordada de forma diferente em diferentes fases. Este dinamismo implica a necessidade de uma observação regular por parte de um profissional, com vista à realização de ajustes da terapêutica sempre que necessário”, garante Miguel Trincheiras.
Além de consultas com dermatologistas, deve conhecer a sua pele e compreender em que situações a acne piora. Esta pode ser influenciada pela menstruação, mudanças de estação, fadiga extrema ou situações de stresse.
Apesar de não existir uma cura definitiva, as marcas têm vindo a desenvolver produtos cada vez melhores e mais eficazes na luta contra a acne. Este género de cuidados ajuda a atenuar a sua evolução e, em alguns casos, evita situações mais complicadas.
“São produtos de aplicação tópica que, não sendo medicamentos, têm uma ação muito importante para o controlo dos vários fatores que causam ou agravam a acne. São também úteis para minimizar os efeitos indesejados de alguns medicamentos, como a irritação ou secura da pele e mucosas”, afirma o dermatologista.
A rotina de cuidados de rosto desempenha um papel importante para controlar a acne e deve ser feita diariamente. O foco deve estar na prevenção, uma boa higiene facial tanto de manhã como à noite, seguida da aplicação dos produtos indicados.
“Estes cuidados devem contemplar uma limpeza com líquidos específicos, como os desengordurantes suaves, que por vezes podem ser associados a queratolíticos, para fazer uma descamação superficial da pele. A hidratação deve ser feita com produtos não-comedogénicos, também conhecidos por oil free, adaptados a cada caso.”
Ou seja: “Devem ser mais hidratantes se o paciente estiver a fazer um tratamento com retinoides, mais queratolíticos se existirem lesões retencionais ou ainda matificantes, caso se verifique um excesso de oleosidade cutânea. No caso de necessidade de um tratamento oral, é fundamental tomar a medicação de forma regular e no horário recomendado”, explica Miguel Trincheiras.