* Na rubrica #PowerWorkGirls reunimos histórias de mulheres empreendedoras que todos os dias nos inspiram a perseguir os nossos sonhos. Mulheres que arriscaram sem medos, que trocaram o futuro por presente e o sonho por realidade, e iniciaram assim um árduo caminho em busca da felicidade, realização e reconhecimento.
A história começa em 2009 com a abertura da primeira loja Organii no Chiado, mas já se somam mais quatro, incluindo no Porto. As irmãs Curica começaram a jornada pela cosmética biológica quando ainda não se percebia bem o seu conceito nem a sua importância. Isso não as deteve.
Educar o público sobre a importância da sustentabilidade e dos cuidados de pele era, e é, o seu principal objetivo e, pelo caminho, decidiram ainda lançar a sua própria marca, a Unii. Mais de 10 anos depois, o sucesso tem sido crescente e ambas prometem continuar a inovar o mercado, com soluções portuguesas, seguras e eficazes, para a pele.
A Saber Viver entrevistou Rita e Cátia Curica que nos explicaram como tornaram a Organii num pilar fundamental da indústria da cosmética em Portugal.
Entrevista a Rita e Cátia Curica
Como é trabalhar com a irmã ao lado todos os dias? Quais são os maiores desafios que enfrentam?
Rita: Trabalhar com a família não é fácil, temos de ter muito em conta a compatibilidade dos feitios e temos alturas mais próximas e alturas mais distantes. Nunca fez parte do nosso plano virmos a trabalhar juntas, até porque vimos de áreas diferentes, eu de Arquitetura, a Cátia de Farmácia e depois de Medicina Tradicional Chinesa. Apesar de muito próximas, somos também pessoas muito diferentes. Mas houve algo que nos uniu: a pele sensível e reativa e uma missão muito clara do que queríamos fazer com isso – solucionar. Temos um objetivo em comum, isso é o que nos une no trabalho. E depois é tentar separar trabalho e família, mas resvala muitas vezes…
Cátia: Gerir as emoções com a família num negócio não é de todo fácil, é um processo mesmo muito complexo, mas com a família temos sempre confiança máxima para dizer o que sentimos e isso é inigualável. Eu até posso achar que a minha irmã está a fazer uma coisa mal, mas nunca duvido da intenção dela. Nós sabemos perfeitamente onde estão os nossos defeitos e as qualidades uma da outra. Temos muitas vezes que lidar com coisas que não nos servem assim tão bem, mas tentamos fazê-lo da melhor forma tendo em conta o que a Organii necessita.
Como é que olham para este projeto que já tem mais que uma década?
Rita: Parece cliché, mas realmente às vezes não acreditamos que passaram 12 anos. Crescemos em número de lojas, mudámos de localizações, fizemos um projeto em Madrid e uma loja de bebé. Ideias não nos faltam, mas vamos percebendo que precisamos de nos focar no essencial e sedimentar muito bem o nosso negócio.
Cátia: Continuamos a trabalhar para melhorarmos – as marcas e produtos que oferecemos, a forma como servimos os clientes, onde e como servimos os clientes. Com o crescimento da loja online, chegam-nos diariamente novos clientes que nunca experimentaram cosmética biológica ou que não conhecem as vantagens e as diferenças. Por isso temos de continuar a trabalhar para fazer crescer esta comunidade, informando com honestidade e servindo com propósito.
Quando começaram, em 2009, quais eram os planos para a Organii? Sentiram que cumpriram todos os vossos objetivos?
Rita: Quando abrimos a primeira loja, e sendo um projeto em família, era aquilo que queríamos e conseguíamos lidar. Aprendemos muito com o negócio e daí irmos crescendo. As coisas foram acontecendo, por forças externas e por vontades internas. Temos construído assim o nosso caminho, mas não era nada disto que estava no plano de negócios inicial, era mesmo só uma pequena loja.
Cátia: Os objetivos não são estáticos. Vão sendo trabalhados, melhorados e por isso mesmo sentimos sempre que atingimos metas, mas que temos um longo caminho pela frente que queremos percorrer. Queremos ser melhores a ouvir o nosso cliente, a servi-lo, a inspirá-lo. Quanto aos objetivos iniciais, mais do que cumprimos! Só queríamos oferecer alternativas de cosmética biológica.
Nessa altura ainda não se falava muito de cosmética biológica. Acham que conseguiram, de alguma forma, mudar o mercado? Quais foram os maiores desafios que se depararam quando decidiram abrir a primeira loja?
Quando abrimos a primeira loja Organii, no Chiado, esta foi também a primeira loja de cosmética biológica em Portugal, um conceito que tinha tanto de inovador quanto de desconhecido. Há 12 anos, era mesmo quase inexistente a informação sobre o que é este mundo bio. Tínhamos de explicar tudo e mostrar de várias formas de que forma os produtos fariam a diferença na vida dos clientes.
Atualmente as pessoas já sabem, já leram artigos, viram vídeos sobre o tema e as questões que nos fazem chegar já são muito mais aprofundadas específicas. Muitos novos clientes chegam à cosmética biológica depois de terem começado a fazer uma transição na vertente alimentar. E sentir que participamos neste ganho de consciência, é muito satisfatório.
Por que é que decidiram lançar a Unii? Era para preencher uma lacuna no mercado?
Cátia: Quando começámos, em 2016, a delinear este novo projeto – a Unii – Organic Skin Food – o nosso objetivo era oferecer a linha mais pura de produtos cosméticos biológicos que existia. Com ingredientes portugueses, alguns dos quais são únicos de Portugal ou da Península Ibérica. E claro, com isso estimular os produtores nacionais. Foi também criada a pensar nas peles do mediterrâneo, mais húmidas e menos secas. Somos cientistas, otimistas e profundamente ecologistas. Isso significa que somos adeptas do minimalismo e do baixo impacto ambiental. Daí a Unii ter uma política de baixo impacto ambiental e ser desperdício zero. A Unii permite-nos ser realmente criativas, pensarmos no que gostaríamos de oferecer e criá-lo. Cheirar aromas, testar as texturas, produzir, testar, falhar, melhorar.
Com o que é que os vossos clientes podem contar quando entram numa loja Organii?
Rita: Queremos que entrem com a ideia de que vão encontrar uma solução (cosmética pelo menos) para qualquer necessidade da sua pele e cabelo. O nosso aconselhamento é muito mais do que indicar os produtos que temos. Tentamos perceber as reais necessidades de cada pessoa, a experiência que tiveram com outros produtos, como são os seus hábitos. Se é a primeira vez que vão comprar cosmética biológica, que rotinas têm ou procuram ter. Ouvimos muito e aconselhamos conforme.
Como é que fazem a seleção de marcas que por lá estão, visto que o mercado é cada vez maior?
Cátia: Todos os produtos que temos são testados por ambas. Recebemos amostras, cheiramos, analisamos ingredientes e formulações, testamos, comparamos. Visitamos as marcas, as fábricas, conhecemos as pessoas. Pensamos sempre em produtos que vão ao encontro das necessidades dos nossos clientes e das tendências do próprio mercado.
Rita: Temos muito orgulho nas nossas marcas. Até porque, para terem estas certificações, estes cosméticos não podem usar derivados do petróleo, produtos sintéticos, mas sim extratos naturais e de agricultura biológica ou colheita selvagem. Nos seus processos de extração não usam solventes, não usam nada que seja poluente e químico. Como conservantes usam o vácuo, óleos essenciais, aloe vera. Também não usamos produtos testados em animais, além de temos cuidados com as embalagens e tintas e percebermos se as fábricas usam energias renováveis.
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Sendo ambas empreendedoras, que conselhos dariam a quem está agora começar um negócio?
Cátia: Acho muito importante que as pessoas tenham os seus valores e princípios bem definidos e se agarrem a eles com unhas e dentes. É fundamental obviamente estar aberto ao mundo e ir recebendo as indicações e sinais que vão chegando, estar atento e, uma vez mais, verdadeiramente disponível. Manter os ideais e ajustar o plano sempre que necessário.
Rita: Sim e com isto muito resiliência. Ter ideias é a parte fácil. Há sempre as questões do investimento, da viabilidade do negócio a longo prazo. Por isso é importante ouvir, pedir conselhos a quem já tem experiência, não desistir após os muitos nãos que surgem e ser fiel ao que acreditamos, sempre.
Em relação ao tema sustentabilidade, notam que houve uma procura crescente nos últimos anos por produtos amigos do ambiente?
Cátia: Sem dúvida! E as redes sociais e influenciadores que emergem nestas áreas específicas têm ajudado muito – porque contam as suas histórias, dão exemplos muito práticos. Sentimos que as pessoas estão em modo escuta ativa, querem mudar o seu estilo de vida, cuidar para prevenir primeiro e em seguida começa uma preocupação com o meio ambiente. Os clientes começaram a pedir-nos granel e, por isso, criámos uma zona a granel nas lojas. Recolhemos as cabeças de escovas de dentes e enviamos para a marca, Lamazuna. A Unii também foi criada a pensar no desperdício zero.
Na indústria da cosmética, quais acham que são os passos fundamentais que ainda não estão a ser dados, mas que são urgentes?
Cátia: Coerência na oferta. Uma empresa que não tem o mínimo de preocupação com a sustentabilidade, e depois cria uma linha bio, não é realmente uma empresa preocupada, mas sabe que há um nicho que o é, e por isso desenvolve, às vezes, somente esporadicamente este tipo de produtos. E o consumidor já se habituou a preços tão baixos ao seu dispor que nem sempre vai estar disposto a dar mais por um produto da mesma marca.
Para quem nunca usou cosmética biológica, quais são os maiores benefícios que traz para a pele em relação à tradicional?
Cátia: A pele é um tecido vivo que respira, que nos defende das agressões externas e absorve mais de metade do que nela colocamos, entrando na nossa circulação sanguínea. Por isso mesmo, os químicos sintéticos utilizados na maioria dos cosméticos, ao serem absorvidos, não são reconhecidos pelo nosso organismo, tentando eliminá-las, provocando sobrecarga dos órgãos que desempenham esta função. Muitas destas substâncias permanecem no organismo, algumas provocando distúrbios como os disruptores hormonais, outras tem efeitos mutagénicos, outras ficam acumuladas em tecidos do corpo.
Queremos isto para nós? A resposta parece-me óbvia. A maior das vantagens da cosmética biológica é haver uma compatibilidade automática, uma tolerância por parte das peles mais sensíveis e de propriedades hipoalergénicas. O processo de metabolismo das células das plantas ocorre de forma semelhante ao das células da pele humana. Os ingredientes ativos atuam do mesmo modo quando entram no corpo humano. O nosso organismo reconhece e compreende, os ingredientes ativos das células das plantas e é por esta razão que se torna biologicamente possível o seu envolvimento nos processos da vida celular da pele, melhorando o bem-estar celular, bem como da saúde em geral.
Rita: Aliam-se também outro tipo de vantagens que não são físicas, mas que para nós são muito relevantes: comércio justo e sustentabilidade, uma vez que este tipo de cosmé4ca zela pelo cumprimento desses parâmetros. É por isso que quando compramos um destes produtos é-nos dada a garantia de que, por exemplo, não foi testado em animais, de que os processos de fabrico devem ser seguros e não poluentes e de que as embalagens devem ser escolhidas com o maior respeito pelo meio ambiente, utilizando formatos recicláveis e com baixo consumo de energia.
Onde é que veem a Organii a chegar daqui a 10 anos?
Rita: O nosso propósito não vai mudar. Estamos sempre em processo de melhoria contínua. Criámos a Organii para servir o cliente, e é isso que vamos continuar a fazer. A encontrar formas, dentro do nosso negócio, de trazer saúde e sustentabilidade para a vida de quem nos procura. Queremos fazer crescer a Unii, a cosmética a granel, desenvolver mais produtos portugueses. Se conseguirmos inspirar pelo caminho, e promover boas mudanças, melhor ainda.
Cátia: Não é que não estejamos satisfeitas com o que atingimos até aqui, mas por sabermos que há tanto ainda por explorar, por melhorar. O nosso propósito é servir o cliente e por isso mesmo temos sempre muito caminho para trabalhar.
Rita: Há 12 anos começámos com soluções para peles sensíveis. Hoje continuamos a trabalhar para esses clientes, mas também pessoas ecologicamente responsáveis. Continuaremos a falar de pele e de valores que para nós são importantes, e se conseguirmos inspirar mais pessoas a fazer pequenas transições, ficaremos orgulhosas. Temos muito por onde melhorar todo o atendimento ao cliente e tornar a experiência online o mais semelhante à da loja física.