Confesse, quando comprou os vários pincéis e esponjas de beleza que acreditou serem imprescindíveis para a criação de looks diários comuns ou mais arrojados, a sua principal preocupação foi a sua utilização adequada. Isso, e claro, a qualidade inerente – de preferência que justifique preços que nos parecem muitas vezes irreais.
Depois de encontrar os pincéis perfeitos a para a base, para o corretor, mas também para o pó, blush e lábios, sem esquecer os olhos, nas suas várias funções – esfumar, delinear, aplicar sombra – o tempo foi passando.
Sabia o que tinha a fazer, mas nem por isso tomava uma ação. Ou ignorou completamente esta premissa necessária de utilização das ferramentas de maquilhagem – medo – ou livrou-se destes objetos altamente contaminados quando lhe pareceu estarem a dar as últimas.
Longe de serem as opções mais acertadas, mas não a julgamos por isso. A verdade é que na pesquisa para a realização deste artigo nos sentimos assoberbadas em informação, muitas vezes contraditória, um pouco por todo o universo digital da beleza.
Deste modo, tomamos a liberdade de conversar com o make-up artist Miguel Stapleton, que se disponibilizou de imediato a tirar as nossas (suas) dúvidas mais proeminentes, com um detalhe e rigor inigualáveis.
Afinal, porque é que é tão importante esta higienização?
Antes de saber como fazê-lo, consideramos de maior valor perceber primeiro porque é que é tão essencial a limpeza das ferramentas de maquilhagem.
Miguel Stapleton começa por explicar que “os produtos que se mantêm minimamente húmidos nos pincéis, como a base, os corretores ou os batons permitem o desenvolvimento de culturas de bactérias com alguma rapidez” e acrescenta “estas bactérias têm não só a matéria orgânica (a pele liberta, todos os dias, milhões de células mortas), como a humidade, a temperatura e a área de superfície (já viu quantos pelos tem um pincel?) para se desenvolverem”. Mais tarde, podem então originar reações cutâneas, fungos, entre outras complicações para a pele.
E relativamente à frequência desta limpeza? O make up artist releva que para os maquilhadores profissionais esta necessidade urge todos os dias, pois utilizam os pincéis em várias pessoas diferentes.
“No caso do consumidor em casa, diria que após cada uma ou duas utilizações dos pincéis de produtos líquidos ou cremosos – faz-se num instante” e para os pincéis de produtos em pó “pelo menos uma vez por semana seria o ideal” revela, prontamente.
7 passos para limpar os pincéis de maquilhagem
1. Molhe as cerdas do pincel. Não o atire para dentro de um lavatório cheio de água pois a tinta no cabo estala e a virola (a parte metálica) enferruja por dentro, no caso de entrar água. Assim, tente que o metal não toque na água.
2. Sabão. O sabão sólido é o mais fácil. Não interessa tanto que seja “extra hidratante”, o que se pretende é dissolver a componente gordurosa dos resíduos de maquilhagem. Faça círculos primeiro no sabão e depois na mão, de maneira a fazer espuma.
3. Enxaguar. Deve fazê-lo em água morna. Retire o excesso de sabão, esprema as cerdas e molhe novamente o número de vezes necessário para remover todo o sabão. Evite a água fria, que num pincel cheio de base e sabão é como congelar manteiga – só ficará mais resistente.
4. O teste. Não há nada pior que um pincel com restos de sabão. Para isso, sacuda o pincel com alguma força de maneira a livrar-se de toda a água e esprema as cerdas perto do ouvido. Se ouvir o “crepitar” de espuma, é porque ainda tem sabão. Se houver silêncio, está bom.
5. Uma ajuda ao secar. Um pincel a pingar água ou que o faça quando se espremem as cerdas não vai secar atempadamente – aliás, dependendo das condições meteorológicas, podemos estar a preparar o ambiente perfeito para o desenvolvimento de bolor. Assim, esprema as cerdas numa toalha e dê umas pinceladas suaves nessa mesma toalha de maneira a facilitar o trabalho ao fenómeno que é a evaporação.
6. O penteado. Se os pincéis parecerem que levaram um choque elétrico ou estiverem com um penteado um pouco punk, é assim mesmo que vão secar. Desta forma, oriente as cerdas com a toalha de maneira a que fiquem com o seu formato original. Se quiser ser mesmo exigente, tenha um pente fino à mão e alinhe as cerdas todas.
7. Deixar secar. Seria criminoso deixar os pincéis a secar dentro de um copo com as cerdas viradas para cima. A água residual iria escorrer para dentro da virola, enferrujando a mesma e dissolvendo a cola – levando a uma queda capilar prematura que não interessa a ninguém. Assim, deixe os pincéis a secar na horizontal numa bancada, com as cerdas fora da bancada de forma a estarem rodeadas de ar e não espalmadas contra a superfície achatada.
Há diferenças entre a lavagem de pincéis e esponjas?
Para Miguel Stapleton, as esponjas requerem um processo semelhante “molha-se a esponja em água morna, ensaboa-se e espreme-se vezes suficiente até ter a certeza de que o detergente penetrou toda a espessura da mesma” e continua “depois, espreme-se primeiro debaixo de água morna corrente, e depois para que não saia mais água, deixando-se secar em cima de uma toalha”.
Evitar a todo o custo
Perguntámos com alguma curiosidade, e para não virmos a cometer nenhum erro básico, o que nunca se deve fazer. O make up artist já nos havia explicado, sem que nos tivéssemos apercebido.
“Nunca se deve deixar que entre água para dentro da virola do pincel. Isto inclui não deixar os pincéis a secar dentro de um copo e nunca submergi-los”. Para além disto “deve-se evitar ao máximo que as cerdas dos pincéis contactem com o álcool”, acima de tudo porque “pode levar ao enfraquecimento e quebra do pelo e pontas espigadas, daquelas que não convém nada cortar”.
Mitos associados
Aqui o maquilhador profissional revela-nos que o principal mito associado à limpeza das ferramentas de maquilhagem se prende com o facto de as pessoas acreditarem que o álcool ou as “soluções de limpeza de pincéis” são mais higiénicos ou substituem uma lavagem correta dos pincéis com água e sabão.
Em relação ao álcool, seria “uma excelente opção se não estragasse as cerdas dos pincéis, e se estivesse em contacto com as mesmas tempo suficiente sem evaporar para matar os microrganismos”. O que acontece é que “normalmente aplica-se o álcool no pincel e limpamos imediatamente para remover a sujidade dissolvida” refere Miguel Stapleton. Mas não se iluda leitora, não significa isto “ensopar os pincéis em álcool e deixá-los a secar duas horas”, avisa.
Relativamente às “soluções de limpeza de pincéis”, o make up artist defende-as somente como solução rápida e temporária e deixa um desafio a quem as usa: “lavem de seguida os pincéis com água e sabão – vão ficar chocados com o a cor que ainda sai na espuma da lavagem”
Resumindo, com a experiência profissional que tem, Miguel Stapleton é um defensor, acima de tudo, da lavagem a água e sabão. “O detergente tira a tensão superficial à água e obriga-a a chegar a todo o lado – por muita gordura que haja”. Assim, ao passar por água “todas as partículas de maquilhagem e bactérias são mecanicamente removidas. O detergente dissolve a membrana celular das bactérias e de tudo o que é microrganismos, o que as mata”.