Apesar de já existir há alguns anos, com anúncios na televisão, partilhas nas redes sociais ou cartazes nos consultórios de dermatologia, ainda há quem não saiba ao certo para o que serve a máquina branca que vemos no canto da sala de tratamento.
Ora, a crioterapia define-se, como o próprio nome indica, por ‘terapia a baixas temperaturas’ e a criolipólise é uma modalidade da crioterapia que consiste na degradação das células acumuladoras de gordura com recurso a temperaturas baixas.
Tal como explica Áurea Lima, investigadora e especialista em Medicina Estética, “existem vários equipamentos de remodelação corporal baseados na criolipólise, de que é exemplo o CoolSculpting, e o seu funcionamento baseia-se em modificar o volume de tecido adiposo, sujeitando-o a baixas temperaturas e está indicado em situações de acumulação inestética de gordura e de forma localizada, podendo ser utilizado tanto a nível corporal como facial: abdómen, flancos, braços, coxas, joelhos, pescoço ou rosto”.
A crioterapia define-se por terapia a baixas temperaturas
O verdadeiro paradoxo
Tudo parecia meio estranho, mas seguro, indolor e inofensivo até Linda Evangelista vir a público dizer que, no seu caso, o CoolSculpting teve um efeito colateral conhecido como hiperplasia adiposa paradoxal (HAP).
O paradoxo deste termo refere-se ao facto de, em vez de diminuírem, as células de gordura recuperarem e acumularem-se, fazendo com que os depósitos de gordura se multipliquem e aumentem nas áreas tratadas.
De acordo com a ex-modelo, as áreas que tratou entre 2015 e 2016 (queixo, coxas, abdómen e flancos) estão maiores do que antes.
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Em relação à hiperplasia adiposa paradoxal, Áurea Lima diz tratar- se de “um efeito secundário raro e cujo mecanismo pelo qual ocorre não está completamente esclarecido. O que parece suceder nesta situação é um hiperdesenvolvimento (hiperplasia) das células de gordura (adipócitos) remanescentes, que faz com que se readaptem ao novo meio circundante. Consequentemente, o resultado final é ‘paradoxal’ ao pretendido. O seu aparecimento demora semanas após o términus do procedimento e, por isso, a sua deteção é tardia”.
Bem-estar mental antes do físico
Hipocrisias à parte – sim, porque também nós gostamos de usar um creme que promete tirar-nos dez anos de cima e de experimentar tratamentos de vanguarda –, o fundamental é sentirmo-nos bem na nossa pele e, quando decidimos mudar algo em nós, que seja pelo nosso bem-estar e autoestima.
Daí ser importante que haja uma consulta médica em que se partilha a história clínica detalhada, onde sejam abordados os antecedentes médicos e cirúrgicos do doente, a medicação habitual, entre outros aspetos de relevo. A história clínica tem ainda de ser complementada com um exame objetivo minucioso.
Na opinião da investigadora e especialista em Medicina Estética, ”quando, no decorrer da consulta, o médico suspeita da existência de alguma doença para a qual o procedimento possa estar contraindicado, tem de inicialmente excluir esse diagnóstico. De forma generalista, os procedimentos médico-estéticos estão contraindicados ou exigem elevada precaução aquando de doenças do tecido conjuntivo, doenças autoimunes e doenças de pele na zona a tratar. Por outro lado, a medicação habitual do doente pode comprometer a efetividade do tratamento e/ou a sua segurança. Objetivamente, o doente pode não ter indicação para o procedimento porque, na verdade, não tem acumulação de gordura de forma localizada ou quando o que pretende (ou o que necessita) é de perder peso e não de perder volume”.
Por isso, garanta que, a fazer um tratamento deste género, é observada e tratada por profissionais credenciados, que mais do que vender um produto, têm como missão melhorar o bem-estar dos pacientes. E isso inclui uma preocupação com a sua saúde mental.
“Por vezes, no decorrer da consulta, apercebemo-nos da existência de patologia psiquiátrica associada e que pode motivar a não realização do procedimento e, frequentemente, a remissão para consulta médica relacionada com a saúde mental (seja de Psicologia e/ou de Psiquiatria). A colegas com menos experiência ou até menor sensibilidade para a deteção de patologia psiquiátrica, aconselha- se a aplicação de questionários de autoavaliação prévia ao tratamento, de forma a ser possível avaliar o motivo pelo qual um doente nos procura para a realização de um dado procedimento médico-estético e, posteriormente, decidir-se quanto à sua realização, ou não”, defende Áurea Lima.
O que esperar de uma sessão
De acordo com Áurea Lima, a crioterapia “é uma alternativa não cirúrgica de remodelação corporal, não invasiva, indolor e segura, na qual se recorre a um dispositivo em forma de um copo ovalado que tem um conjunto de aplicadores de sucção que utilizam vácuo para aplicar frio de forma controlada nas regiões a tratar”.
Embora a duração do tratamento varie em função das zonas a tratar, uma sessão dura, habitualmente, 30 a 60 minutos e o número de sessões é muito variável.
“Depende, essencialmente, da quantidade de tecido adiposo existente e dos resultados alcançados em cada sessão. À medida que as sessões são realizadas e as células vão morrendo, a área corporal/ facial tratada irá diminuir de volume, de forma proporcional ao tecido adiposo que é destruído, ou seja, à gordura eliminada. Por este motivo, só ao final de algumas semanas é que são visíveis os resultados obtidos”, explica a especialista.
Alternativas à crioterapia
Para quem estava a pensar recorrer a este tratamento e perdeu a coragem depois de ler as notícias relacionadas com a supermodelo Linda Evangelista, Áurea Lima sugere os seguintes procedimentos:
- Lipólise, que consiste na aplicação de princípios ativos com ação lipolítica diretamente no tecido adiposo.
- Outros equipamentos, como ultrassom, laser, eletrolipólise, radiofrequência e lipocavitação.