Conhece os efeitos do stresse na pele?
A propósito do Dia de Consciencialização do Stresse, Sofia Santareno, cirurgiã plástica do Board Europeu e Diretora Clínica da The Dr. Pure Clinic, dá a conhecer os efeitos (e as soluções) do stresse na pele. Descubra tudo.
Quando começo uma consulta de avaliação de pele, não é raro que os meus pacientes assumam que notam uma relação estrita entre os níveis de ansiedade e stresse e o comportamento da sua pele.
De facto, a relação entre o stresse e as doenças da pele é alvo de interesse por parte da comunidade científica há já largas décadas. E as doenças da pele a que me refiro incluem não só as do espetro autoimune, atopia (alergia), eczema, manchas (melasma), acne, como até mesmo rugas e cicatrizes.
O stresse e a pele
Definir a palavra stresse não é fácil. Das várias definições disponíveis, talvez a de Cohen seja aquela com a qual mais concordo: “o stresse é o que surge quando um indivíduo não consegue enfrentar um conjunto de eventos que surgem na sua vida”.
Ora, as ferramentas de que cada uma de nós dispõe para lidar com os eventos da vida são diferentes, em estrutura e em eficácia. Logo, a própria definição de stresse varia de indivíduo para indivíduo – o que gera stresse num, pode não gerar no outro.
A resposta da nossa pele ao stresse psicossocial é complexa. Num estudo publicado em 2016, por Dixon, no British Journal of Dermatology, pode ler-se que “o stresse inclui relações bidirecionais entre os sistemas nervoso, endócrino e imune” e que “quem modula esta resposta são as vias centrais e as periféricas”. Podemos, portanto, dizer que a pele é um modelo psicossomático: em que psique (mente) influencia o soma (corpo).
Por outras palavras, a ansiedade (stresse) tem um impacto importante na pele, podendo, inclusive, levar à vasoconstrição, menor chegada de sangue a uma ferida e menor capacidade de cicatrização.
É por esta razão que digo a todos os pacientes que opero que não quero ninguém a sofrer com dor: a dor gera stresse, logo, diminui a capacidade de cicatrização.
Uma boa gestão da dor é fundamental num paciente cirúrgico de forma a garantir uma boa recuperação e, neste caso, cura da pele.
Ação, reação, stresse
Outra variação individual na forma como gerimos a ansiedade prende-se com a forma como cada um reage a eventos potencialmente geradores de stresse. Por exemplo, perante um evento gerador de ansiedade, um indivíduo pode corar e suar, outro pode não demonstrar fisicamente que está ansioso, mas internamente os seus sistemas estão em alerta.
Isto remete-nos para um dos conceitos mais discutidos nesta área – a sensibilidade para a ansiedade perante preocupações sociais (SAPS).
Caso um paciente seja muito sensível (elevado SAPS), é provável que a sua exposição na sociedade gere níveis muitíssimo elevados de stresse, o que, por sua vez, poderá levar à potenciação de problemas de pele e pode, ainda, agravar as patologias já existentes. Ora, isto tem um impacto importante na qualidade de vida daquela pessoa.
Soluções para o problema
É aqui que defendo que a psicoterapia entra, através de intervenções sofisticadas que permitem quebrar este ciclo infinitamente prejudicial. Recomendo-o na The Dr. Pure Clinic, através da equipa de psicólogas que agora realizam consultas online.
Quem não tem a possibilidade de aceder a psicoterapia pode, por exemplo, recorrer ao site SkinSupport (em inglês) que dispõe de um inquérito diagnóstico e de um conjunto de estratégias que podem ajudar a quebrar este ciclo.
Outra estratégia possível é a do mindfulness, que está tão em voga agora e ainda bem.
Espante-se quem julga que os efeitos do mindfulness são meramente teóricos, pois, há quase 20 anos, Kabat-Zinn e os seus colegas conseguiram comprovar que reduz a ansiedade e consegue melhorar a pele (além de melhorar a qualidade de vida).
Estes efeitos foram novamente comprovados em 2016, num estudo publicado no Bristish Journal of Dermatology por Montgomery e seus colegas. Para quem desconhece o mindfulness, o conceito passa por “prestarmos atenção ao presente, com foco e atenção no agora e sem atitudes de julgamento”.
Esta prática tem um impacto franco na nossa saúde mental e, ao encarar o stresse social, muitas vezes relacionado com a “vergonha do aspeto da nossa pele”, estamos também a contribuir para a sua melhoria.
Estes dados são de um interesse irrefutável, uma vez que, afinal, cuidar da pele não passa apenas pela aplicação de tratamentos médicos em clínicas especializadas, pela utilização de cremes aconselhados em consulta e que se aplicam em casa, ou até pela alimentação que promovemos – todas podemos cuidar da nossa mente e ao mesmo tempo estar a gerar um impacto positivo na pele.
Mais do que um diagnóstico
Enquanto médica e cirurgiã plástica, recorro muitas vezes à minha sensibilidade perante características dos pacientes que traduzem stresse, sintomas e emoções relacionadas com ansiedade social.
Em determinadas situações não vou apenas sugerir uma rotina de cremes e cuidados em casa, e/ou um plano de tratamentos na clínica. Alguns casos necessitam de medicar a pele com psicoterapia, pois, independentemente de lidar com a componente física, o stresse e ansiedade social, a vergonha de ter de lidar com determinada condição, seja ela acne, rugas ou manchas, pode agravar a situação, levando a níveis ansiogénicos basais que não permitem, por sua vez, tratar da melhor forma aquela pele.
Por isso, defendo que a intervenção psicológica deve ser sofisticada, com exploração e gestão dos eventos que geram stresse social. Tal só se consegue com um trabalho multidisciplinar coordenado e focado num objetivo comum: a felicidade absoluta daquela pessoa como forma de alcançar uma pele bonita.