Philippe d’Ornano: “Acho que alma transparece muito mais o que temos feito com a marca”
Uma boutique que é uma casa, uma marca adorada pelo mundo e uma família que transformou um pequeno negócio num império de beleza. Conheça a história da Maison Sisley.
Conhecer Philippe d’Ornano é entrar no universo da Sisley a um ponto em que nos sentimos parte da família (ou assim gostaríamos). A descontração com que fomos recebidas faz-nos esquecer que estamos perante o CEO de uma das marcas de beleza mais adoradas do mundo, e é também esse sentimento de pertença que pode encontrar na nova Maison Sisley.
Recentemente inaugurada em Lisboa, esta boutique é o local a visitar se quiser conhecer de perto os produtos da marca ou experimentar um dos tratamentos exclusivos.
Já a decoração esteve a cargo de Isabelle d’Ornano, uma das fundadoras da marca, e pretende homenagear Portugal e o espírito da empresa francesa. A Maison Sisley é um convite para relaxar do caos da cidade, estando a alma da marca espelhada em cada detalhe.
Entrevista a Philippe d’Ornano
Mais do que império de beleza, a Sisley é uma empresa familiar. Como é que tudo começou?
A minha família começou a trabalhar nesta indústria em 1936, na verdade, eram muitas vezes casais a trabalharem juntos. Primeiro, os meus avós, depois, o meu tio e, mais tarde, os meus pais, quando criaram a Sisley. Como sempre trabalhámos neste meio, já existe um know-how e muita experiência. Porém, não se consegue ter um sucesso prolongado nesta área sem produtos e tecnologia excecionais. A perceção do meu pai, no fim dos anos 1960, foi de que o futuro da cosmética estaria assente no uso de novos ativos que não fossem sintéticos, mas extraídos de plantas.
Quando começou a trabalhar para a empresa?
Estava a estudar para ser jornalista, adoro escrever, sempre gostei. Escrevo poesia, já escrevi para o teatro e como gosto de literatura, estava interessado em jornalismo. Quando terminei a faculdade, ia regressar ao grupo editorial onde tinha feito um estágio, nos Estados Unidos, mas o meu irmão mais novo teve um acidente de carro e faleceu. Como somos uma família muito chegada, foi algo que mexeu muito com todos. Na altura falei com os meus pais, disse-lhes que não ia para fora e que, se quisessem, ficava uns tempos a trabalhar para a marca. Comecei a trabalhar para a Sisley e gostei. Gostei de trabalhar com os meus pais. O meu pai tinha um feitio complicado, mas dava-me muita liberdade, responsabilidade; sempre fomos profissionais e trabalhávamos muito bem juntos.
Existem vantagens por serem uma pequena empresa familiar?
A realidade é que já não somos uma empresa pequena, mas existe uma vantagem em ser familiar: a visão a longo prazo quando desenvolvemos um produto. Era impossível manter-me o mesmo se a empresa fosse pública ou fizesse parte da bolsa de mercado. Ao sermos uma empresa familiar podemos continuar a desenvolver a marca e passá-la para outra geração. A maneira como desenvolvemos produtos é diferente, tal como o modo de gerir clientes e fornecedores. Todos estes tipos de projetos são feitos de maneira diferente quando pensamos num futuro.
Em que aspeto é que são diferentes?
No caso dos produtos, por exemplo, os meus pais trabalharam dez anos em Sisleÿa e existem mais de 50 ativos na fórmula. Tanto a minha irmã como eu nunca achámos que eles iriam lançar o produto. Quando finalmente terminaram, disseram “o produto é tão bom que vamos dar-lhe o nome da marca”. Podemos dar-nos a esse luxo de perder tempo com um produto que achamos que é bom ou acabar por não lançar outros.
É por isso que os produtos são tão eficientes?
O meu pai decidiu criar uma marca de cosmética que seria especializada em ativos de plantas. Quando formulamos um produto, utilizamos vários ativos e, de apenas uma espécie, é possível extrair-se cem mil ativos diferentes. Isso, associado a tecnologias inovadoras e conhecimento de pele, traduz-se em fórmulas e resultados eficazes. Apesar das dificuldades dos últimos anos, a marca tem vindo a crescer e agora conta com uma Maison Sisley em Lisboa.
Porquê a nossa cidade?
Lisboa foi uma escolha óbvia e claro que temos uma ligação à cidade, mas a realidade é que o projeto da Maison é uma espécie de ‘pesca’. Não só temos de encontrar o lugar certo, como existem vários aspetos a ter em conta, como o espaço para as cabines de tratamento.
O que torna este espaço único?
As Maisons Sisley acabam por ser uma homenagem ao país, um tributo ao sítio em que está sediada. Além dos produtos e tratamentos, temos consultoras e queremos providenciar um bom serviço. Para mim, é um trabalho muito humano colaborar com as equipas; são muito importantes para nós e embaixadoras da marca.
Acabam por ser uma extensão da família?
Sim, podem ser assim consideradas, mas também são essenciais para a empresa e apaixonadas pela marca. A Maison acaba por ser uma expressão disso, é o local onde os consumidores podem vir conhecer os produtos, fazer um tratamento e, quando chegam aqui, entender a alma da marca. Conseguem ver que valorizamos um bom serviço, que investimos em experiência e podem ainda apreciar arte.
Refere a alma da Sisley e não o ADN, porquê?
As palavras têm poder, e, talvez seja o poeta em mim, mas acho que alma transparece muito mais o que temos feito com a marca. É tão fácil usarmos palavras de modo excessi- vo que acabam por perder o seu significado.
A arte está muito presente tanto na marca, como em cada uma das Maisons Sisley. Porquê esta ligação?
Fomos criados numa família que sempre se interessou muito por arte e literatura, e, apesar de os meus pais trabalharem e viajarem muito, sempre sentimos que éramos importantes para eles. Enquanto crianças isso acaba por nos influenciar, tínhamos muitas discussões e debates sobre temas sempre diferentes. Sou um de cinco filhos e isso manteve-se, esse interesse pela arte. Apesar de a minha mãe ter quadros de pintores muito conhecidos, sempre teve um olho e um interesse especial por artistas emergentes. Ao ter uma empresa, temos mais sítios para expor o trabalho e todas as equipas acabam por beneficiar com isso. Em Paris, temos um prémio com a escola de belas-artes, ajudamos jovens artistas que terminaram o curso e adquirimos algumas peças para exibir nas Maisons Sisley.
A Maison Sisley de Lisboa é uma das três, a nível mundial, com uma cabine dedicada exclusivamente a tratamento capilar
Sei que a peça do Bordalo II pertencia à coleção privada da família. Qual é a história por detrás dela?
Na altura, a minha mãe estava a fazer um batom com o padrão zebra, aliás, o elevador em Paris também tem esse padrão, não sei bem porquê, mas estava fascinada com zebras. Alguém lhe falou sobre o Bordalo II e sobre esta peça e acabou por comprá-la. Estava exposta em casa, mas, quando o projeto da Maison Sisley em Lisboa começou a tornar-se real, dissemos-lhe que a peça tinha de regressar a Portugal.
A sua mãe está muito presente neste projeto?
A minha mãe é a visionária por detrás desta decoração, foi responsável por todas as Maisons na Europa e ainda esta manhã me ligou para confirmar se estava tudo bem. Muitas das peças que vemos nas Maisons é ela que as compra para si, mas acabam por ser postas nas boutiques. É uma pessoa muito engraçada e acabou por me dizer “sabes que estás a abrir demasiadas Maisons… Dei-te arte para as primeiras boutiques, mas estou a ficar sem peças, por isso, se queres arte, tens de começar a comprá-la”.
Desde a abertura da primeira Maison Sisley, em 2017, a marca tem crescido bastante. Como se sente pelo que já alcançaram?
Olho para trás e fico feliz com tudo o que fizemos. Existe um orgulho ao ver todas as equipas e saber que se mantiveram unidas de uma forma incrível, principalmente durante a pandemia.