Se os olhos são a janela da alma, será que podemos afirmar que a pele, o maior órgão do corpo humano, é o espelho da nossa saúde e bem-estar? Que levante a mão quem nunca viu o seu reflexo e se deu conta de que deveria pôr o sono em dia!
Há milhares de anos, os praticantes de medicina tradicional chinesa e de medicina ayurvédica aperceberam-se de que em partes específicas do corpo havia um reflexo do corpo inteiro, cujo princípio milenar ainda hoje é aplicado em diversas terapias, como na reflexologia podal, associada à planta do pé, e na auriculoterapia.
Mais recentemente, o foco virou-se para o rosto com o face mapping, que sugere que certos problemas em determinados órgãos podem manifestar-se em zonas específicas da face, seja na forma de borbulhas, oleosidade, secura ou irritação cutânea.
Conversámos com Maria Moreira, terapeuta de medicina tradicional chinesa, e Marta Ribeiro Teixeira, dermatologista, para descobrir.
O face mapping diz que o rosto pode espelhar problemas noutros órgãos
Face mapping: viagem pelo rosto
Testa e glabela
Aprender a controlar as imperfeições da pele, como a oleosidade na zona T (que inclui a testa, o nariz e o queixo), pode revelar-se uma verdadeira dor de cabeça, principalmente quando já tentámos de tudo.
Neste caso, o uso de produtos errados ou de demasiados princípios ativos simultaneamente pode estar a secar a pele em demasia e, na falta de hidratação, a mesma reage com uma “hiperprodução compensatória de gordura”, explica a dermatologista.
“Vemos também que nas fases de maior stresse, em que dormimos menos e temos uma alimentação pior, há uma resposta a todo esse processo inflamatório com a hiperprodução de sebo”.
Já de acordo com Maria Moreira, estas imperfeições na testa e entre as sobrancelhas poderão indicar a presença de toxinas no sistema digestivo e na bexiga, respetivamente.
Como tratar
A par do uso de cremes adequados ao seu tipo de pele – quem a tem mais oleosa deve optar por texturas fluidas e oil-free –, a solução passa pela introdução de novos produtos na rotina de forma mais faseada.
Aposte de igual modo na ingestão adequada de água, pois vai ajudara eliminar as toxinas do organismo, e na redução de alimentos processados e de açúcar na dieta.
Na ponta do nariz
O lugar preferido dos filamentos sebáceos e dos pontos negros é, sem dúvida, o nariz. Por outro lado, a sua vermelhidão e o aparecimento de vasos capilares mais fracos podem estar relacionados com doença cardíaca ou até problemas no sangue.
O conselho dos especialistas? Cortar na carne, diminuir o consumo de sal, aumentar a ingestão de líquidos, seja através de água, sopa, chá ou infusões, e incluir a prática de exercício físico na rotina.
Olhos inchados
Acordar com os olhos inchados está frequentemente associado a más noites de descanso, stresse e alimentação pouco saudável, mas sabia que também pode ser o resultado de alergias?
Este edema (inchaço) acontece, em parte, porque quando estamos a dormir o nosso corpo fica numa posição de 90 graus, o que em nada contribui para a drenagem linfática.
Similarmente, a medicina tradicional chinesa relaciona o inchaço nos olhos com a retenção de líquidos e, quando estão vermelhos ou com comichão, podem ser associados a alergias, e ainda ao fígado.
Como tratar
Se acorda de manhã com os olhos inchados, saiba que pouco ou nada os cremes que prometem eliminar os papos irão ajudar, e que a sua simples aplicação “tem um efeito limitado”, explica a dermatologista.
O que se pode fazer neste contexto é uma massagem cuidada ao mesmo tempo que se aplica o creme, o que terá “um efeito significativo na melhoria do edema, contribuindo para a drenagem linfática da região”.
Quando o inchaço advém de uma rinoconjuntivite alérgica, relativa a pólenes e ácaros, “a toma de um anti histamínico pode ajudar”.
Numa terceira hipótese, em que há uma herniação da gordura intraocular (ou seja, quando a gordura que está dentro dos olhos sai do sítio e se aloja sob os mesmos), o tratamento mais eficaz é a cirurgia.
A especialista de medicina chinesa aconselha ainda a diminuição do consumo de álcool, de comidas ricas em gorduras saturadas e de lacticínios, pois podem agravar a sintomatologia.
Olheiras
As olheiras, grandes inimigas de um aspeto saudável e luminoso, não são todas iguais. Enquanto a hiperpigmentação ao redor do olhar – muito associada a características étnicas e maus hábitos de descanso – pode ser melhorada com tratamentos despigmentantes, as olheiras vasculares – caracterizadas por edema e problemas de circulação sanguínea – são mais difíceis de solucionar.
Curiosamente, a medicina tradicional chinesa não vê as olheiras como hiperpigmentação da pele e relaciona-as com o funcionamento dos rins.
Como tratar
Antioxidantes como vitamina C, ideal para tratar a falta de luminosidade, e produtos à base de retinol, ácido azelaico ou ácido glicólico são boas opções para dar conta da hiperpigmentação, desde que seja skincare indicado para a zona dos olhos.
Por outro lado, cuidar das olheiras vasculares é mais complexo e muitas vezes exige a combinação de diversos métodos. Sem esquecer, ainda, as olheiras estruturais, caracterizadas pela falta de volume e depressão do sulco lacrimal, que podem ser melhoradas através de preenchimentos com ácido hialurónico, por exemplo.
Queixo e zona do maxilar
“Sabemos que muitas situações de acne tardia, entre os 25 e os 50 anos, estão relacionadas com problemas hormonais e que isso vai ao encontro do que diz o face mapping”, afirma a dermatologista.
Este tipo de acne tende a concentrar-se no terço inferior do rosto, junto ao queixo e maxilar, e tem uma etiologia multifatorial, como stresse, práticas de skincare erradas e hábitos de vida pouco saudáveis.
“O stresse afeta as hormonas, como as hormonas vão afetar os nossos níveis de stresse. É uma pescadinha de rabo na boca”, completa Maria Moreira.
Como tratar
Um estilo de vida baseado numa alimentação saudável, rica em antioxidantes e pobre em açúcares, com prática desportiva regular e equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é essencial para acabar com as borbulhas.
Pense assim: menos stresse e fatores inflamatórios traduzem-se numa acne mais controlada. A toma de ómega-3, 6 ou 9, ou de vitamina E, pode igualmente ajudar a regular a parte hormonal.
Maçãs do rosto
As maçãs do rosto estão ligadas aos pulmões e ao sistema respiratório, indica Maria Moreira, e podem ficar sensíveis
devido à alimentação, ao impacto da poluição, do tabagismo ou a vasos capilares mais frágeis.
É também na parte central da cara que condições cutâneas como a rosácea, caracterizada por vermelhidão, vasos dilatados e até pequenas borbulhas, se manifestam.
Estes apontamentos vermelhos podem ver-se ainda em pessoas com tensão arterial elevada e, mais raramente, em casos de lúpus eritematoso sistémico, uma doença autoimune cujos doentes têm um eritema na bochecha em forma
de borboleta”, clarifica Marta Ribeiro Teixeira.
Como tratar
No que toca à rosácea, deve-se evitar a ingestão de álcool, café e alimentos picantes, assim como a exposição solar.
É de igual importância escolher gamas próprias para a condição cutânea, que contenham propriedades calmantes, e nunca esquecer a aplicação de protetor solar. Um dos fatores que mais agrava a rosácea a longo prazo é o sol.
Pele a descamar
É natural que a pele fique mais sensível e comece a ‘descascar’ nos meses mais frios do ano, mas isto nem sempre se deve às temperaturas baixas.
Acontece de igual forma quando, na rotina de beleza, incorporamos produtos à base de retinol que, embora tenham propriedades antiaging necessitam de um período de habituação.
A descamação, principalmente nos cantos da boca, nariz e em redor dos olhos, é simplesmente uma reação natural ao novo princípio ativo, que deve ser usado à noite e acompanhado de proteção solar no dia seguinte.
“Aconselho começar estes tratamentos três vezes por semana e aumentar gradualmente a sua frequência”, aconselha a dermatologista.
Como tratar
Hidratação, hidratação, hidratação. O caminho leva-nos em direção aos produtos abundantes em ácido hialurónico e ceramidas, mas também em niacinamida, que além de estimular a produção de ceramidas, repara a barreira cutânea e ajuda a controlar a oleosidade.
Quem tem a pele muito seca pode pôr o creme à noite na pele húmida, o que irá aumentar a penetração e eficácia do mesmo.
“Um exemplo clássico é aplicar água termal, sérum hidratante e depois um creme com uma textura mais espessa”, recorda Marta Ribeiro Teixeira.