Batom vermelho: uma história de poder e feminismo
Icónico e intemporal, faz parte do universo feminino há vários anos. Mas conhece o simbolismo e a história do batom vermelho?
A ligação entre um batom encarnado e uma mulher é íntima e única. Um batom é uma camada emocional, uma capa capaz de definir o nosso estado de espirito e até de criar personagens. Mas a história do batom vermelho e a sua associação às mulheres remonta há algumas centenas de anos e tem um significado muito mais poderoso do que aquilo que se pensa.
Usar um batom encarnado foi e será para sempre um gesto político, de poder, de rebelião e de feminismo. Algumas mulheres usaram-no para definir o seu lugar no mundo, enquanto outras fizeram uso dele para ganharem coragem e quebrar estereótipos.
Grito de rebeldia
Ao longo dos séculos, o batom encarnado tem tido vários significados. Desde a elite do Egipto e as prostitutas na Grécia Antiga até aos anos dourados de Hollywood, onde era visto como um símbolo de glamour.
Nas suas diversas nuances, este produto usado nos lábios tem sido uma arma cultural, carregado com séculos de história e significado, passando pelas mãos de mulheres poderosas como Cleópatra, Rainha Isabel I ou Marilyn Monroe.
Porém, até à sua popularização, no início do século XX, os lábios encarnados eram vistos como falta de educação, imoralidade e até heresia, isto porque a maquilhagem era associada ao mistério, às bruxas e aos cultos femininos.
Apesar de ser considerado apenas um cosmético, no início do século XX era sinónimo de poder e força, especialmente durante o movimento das sufragistas, quando lutaram pelos seus direitos.
À medida que este movimento se foi espalhando pela Europa, o mesmo ia acontecendo com o batom, que acabou por se tornar parte do seu uniforme, ousado, feminino e poderoso. Um símbolo de força.
O batom encarnado é um símbolo da história do poder feminino
De maneira a ganhar mais notoriedade e atenção para a sua causa, algumas sufragistas usavam batom encarnado em eventos públicos. Isto era visto como um marco de independência, consideravam-se mulheres emancipadas. Este gesto era censurado pelos homens e por algumas mulheres que viam no ato de usar batom um grito de rebeldia.
Na verdade, o batom vermelho foi tão importante durante esta altura que a sufragista e proprietária da marca com o próprio nome, Elizabeth Arden, distribuía batons a todas as mulheres que marchassem, tornando este produto de cosmética uma forma de protesto por si só.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o batom vermelho teve um novo momento de fama, quando Hitler declarou odiar esta cor nos lábios. Nos países aliados, utilizar batom encarnado tornou-se um símbolo de patriotismo e de marcar uma posição contra o fascismo.
Durante a guerra, este cosmético tornou-se obrigatório para as mulheres que se queriam juntar às forças militares e a indústria da beleza aproveitou para lançar tonalidades que ressoavam com o momento que se vivia.
Primeiro, Elizabeth Arden, com o icónico Victory Red, e mais tarde, Helena Rubenstein, com o Redgimental Red. Porém, foi a Elizabeth Arden que o governo dos Estados Unidos pediu para criar uma cor de batom e verniz que acentuasse os seus uniformes. Assim nasceu o tom Montezuma Red.
Heroínas modernas da história do batom vermelho
A insinuação de que o batom vermelho é indecoroso é uma projeção que ainda hoje tem relevância. No entanto, usar esta cor produz a mesma sensação em todas as mulheres, independentemente daquilo que a história conta. Sentimo-nos confiantes ou usamos batom para um boost extra de confiança.
Atualmente, continuamos a ver esta cor de batom em mulheres em posições de poder. Alguns exemplos contam com Margaret Tatcher, primeira ministra do Reino Unido, ou Alexandra Ocasio-Cortez, congressista dos Estados Unidos da América.
Mais recentemente, a nível nacional, assistimos ao movimento #vermelhoembelem, que surgiu após os comentários misóginos de André Ventura à deputada Marisa Matias. Numa onda de solidariedade, as redes sociais pintaram-se de vermelho e foram várias as mulheres (e até homens!) de diferentes cargos a aderir ao movimento, incluindo ministras de Espanha e Luxemburgo.
Hoje em dia, o gesto de pintar os lábios de encarnado continua a ter um impacto profundo. Como tal, da próxima vez que usar um batom encarnado, lembre-se que está a fazer mais do que aumentar a sua confiança, está a exibir um símbolo de poder que faz parte da história dos direitos das mulheres.