Lipoaspiração: adeus gordura indesejada
A lipoaspiração é das cirurgias estéticas mais procuradas no mundo. Se tem excesso de gordura localizada, a lipoaspiração é a solução. Saiba mais sobre este procedimento eficaz, seguro e com efeitos duradouros.
A lipoaspiração, apesar de já ser muito falada, ainda suscita algumas dúvidas quanto ao seu propósito, eficácia, segurança e público-alvo.
O principal a reter é que não é uma técnica de emagrecimento e que não se destina a pessoas com excesso de peso. Muito pelo contrário! Trata-se de uma cirurgia estética, com o fim de remover gordura localizada e indesejada, que não sai nem com exercício físico.
Como tudo começou
Esta técnica existe há quase um século (mas não como é hoje), já que o primeiro procedimento de sucção de gordura foi realizado pelo cirurgião francês Charles Dujarier, nos anos 20. Mas foi em 1974 que a realização da lipoaspiração com recurso a cânula teve início, tendo sido inventada pelos médicos Arpad e Girgio Fisher (pai e filho).
Só que este procedimento ainda tinha muito que melhorar. Foi aí que “entrou” Yves-Gerard Illouz, que o desenvolveu e popularizou, a partir dos anos 80.
Hoje, a lipoaspiração é das cirurgias plásticas estéticas mais procuradas no mundo. E está entre as mais praticadas em 2018 – só a de aumento mamário é que ficou à sua frente, segundo dados da American Society of Plastic Surgeons (ASPS).
Nesta Associação, houve 313 mil mamoplastias de aumento contra 258 mil lipoaspirações. No entanto, estes resultados pecam por defeito porque são apenas baseados nas respostas dos seus associados.
Para ficar com uma ideia clara sobre em que consiste e o que envolve uma lipoaspiração, a Saber Viver esteve à conversa com o Professor Manuel Caneira, Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética, e com Luísa Magalhães Ramos, cirurgiã plástica.
O que é, ao certo, a lipoaspiração?
A lipoaspiração é um procedimento cirúrgico que visa eliminar depósitos de gordura localizada indesejadas, em áreas específicas do corpo, tais como abdómen, flancos, dorso, culotes, joelhos e pescoço, começa por explicar Luísa Magalhães Ramos, cirurgiã plástica.
O procedimento é feito através de um aparelho que gera pressão negativa. Este está ligado a umas cânulas (pequenos cilindros) com diferentes dimensões, que se introduzem numa incisão pequena do corpo e que o cirurgião faz oscilar num movimento vai e vem, para aspirar a gordura localizada.
Segundo o também coordenador da Cirurgia Plástica e Reconstrutiva dos Hospitais CUF Descobertas e CUF Infante Santo, Manuel Caneira, atualmente ninguém faz a lipoaspiração só com uma cânula, ligada ao aparelho de vácuo. Esta é incorporada num vibrolipoaspirador que a faz oscilar, para que o procedimento seja efetuado com o menor esforço físico (para o cirurgião) e mais precisão.
Quem pode fazer lipoaspiração?
“Os melhores candidatos à lipoaspiração são pessoas que estão no seu peso ideal, com gordura localizada em determinadas zonas do corpo e da qual não se conseguem ver livre, mesmo praticando exercício físico com regularidade, e tendo cuidados com a alimentação”, informa Luísa Magalhães Ramos.
Para que a lipoaspiração tenha o sucesso desejado, os cirurgiões entrevistados explicam que a pele do paciente tem de ser firme e elástica, com poder de retração. Se for flácida, esta não se readapta ao novo contorno e pode acentuar a flacidez.
Nesse caso, poderá ser necessária a combinação de outras técnicas cirúrgicas para remover o excesso de pele, como é o caso da lipoabdominoplastia, uma técnica que remove o excesso de gordura e, em simultâneo, a pele que fica a mais no abdómen.
“Se fosse realizada apenas uma lipoaspiração num paciente com ‘barriga de avental’, a gordura seria removida mas o paciente continuaria com a flacidez e a pele da barriga ficaria ainda mais descaída”, esclarece a cirurgiã.
Manuel Caneira sublinha que as melhores candidatas são as mais jovens, a partir dos 18/20 anos. O que não quer dizer que esta cirurgia não seja procurada por pessoas mais velhas, por norma mulheres até aos 50 anos.
Mas atenção que “a abertura dos homens para estes procedimentos tem crescido significativamente nos últimos anos e, atualmente, a lipoaspiração é a cirurgia estética mais realizada no sexo masculino”, sublinha Luísa Ramos.
O importante a reter é que qualquer pessoa pode fazer uma lipoaspiração, desde que não tenha contraindicações médicas, e que seja feita por cirurgiões plásticos devidamente certificados e habilitados.
Estética vs saúde
A lipoaspiração é claramente uma cirurgia plástica estética, já que é feita em pessoas saudáveis, de preferência com o peso certo, mas que queiram ver a sua silhueta mais bonita e moldada. No entanto, “também tem efeitos na saúde, uma vez que ajuda a autoimagem e a autoestima do indivíduo”, esclarece Luísa.
Mas Manuel Caneira ainda vai mais longe, chamando a atenção para o caso específico dos homens com mamas grandes. “Este problema pode ser-lhes resolvido com lipoaspiração, e isso tem um impacto psicológico”, sublinha.
O cirurgião explica ainda que, quando a lipoaspiração é associada a técnicas de dermolipectomia, em que se tira um avental abdominal, verificam-se melhorais óbvias nas pregas, onde se acumulam fluidos. E isso poderia fazer com que surgissem infeções fúngicas. Nesse aspeto, a lipoaspiração tem impacto direto na saúde.
Como se preparar para a lipoaspiração
Se está a pensar fazer uma lipoaspiração, é muito importante que, antes de se sujeitar a esta cirurgia, tenha alguns cuidados:
• A pele tem de estar hidratada;
• O peso deve ser estável, para que o cirurgião atue nas zonas mais problemáticas, com sucesso;
• não ter problemas de saúde em geral;
• não fumar nas semanas antes da operação.
“Convém que o paciente não tenha grandes variações ponderais, porque, embora seja mais difícil aumentar de volume na zona aspirada, se houver aumento de peso, a lipoaspiração acaba por ficar comprometida”, alerta Manuel Caneira.
Seja como for, o paciente nunca vai aumentar tanto na zona lipoaspirada em contrapartida com nas outras zonas. Isto porque quando se aspiraram os adipócitos, restam menos células que contribuam para o aumento de volume.
Nessa ordem de ideias, Luísa Ramos recomenda que um paciente bastante acima do peso normal, perca peso antes da cirurgia e seja avaliado antes da intervenção, para delinear um novo plano cirúrgico.
Manuel Caneira chama ainda a atenção para a necessidade de se fazer a avaliação do estado do paciente, não só no que diz respeito à capacidade de retração da pele, como da saúde em geral.
É importante que o cirurgião plástico fale com o médico de clínica geral (de família) que segue o paciente, para que fique a par da sua situação geral de saúde. “Imagine, se o doente tem problemas cardíacos ou toma anticoagulantes. Aí o risco aumenta”, exemplifica.
Luísa Ramos alerta também para a necessidade de se deixar de fumar algumas semanas antes e umas semanas após o procedimento. “Consoante a extensão da lipoaspiração, o paciente pode precisar de uma a duas semanas de repouso, pelo que se deve preparar a nível laboral, social e em casa (as atividades diárias)”, acrescenta.
O que esperar do procedimento
1. Duração
Segundo o Professor, a duração da lipoaspiração varia consoante a extensão de gordura a remover. Mas se for numa zona limitada, pode durar entre 45 minutos a uma hora.
“Se esta for feita de manhã, muitas vezes o paciente volta para casa no próprio dia. Mas se for feita à tarde, o melhor é passar a noite no hospital”, previne.
2. Anestesia
Uma lipoaspiração maior ou de várias zonas em simultâneo (ex. abdómen, flancos e dorso) é naturalmente um procedimento mais longo e requer outros cuidados. “Em alguns casos (muito poucos) até pode ser necessário recorrer a anestesia geral”.
Em termos gerais, “a lipoaspiração é realizada com anestesia local e sedação, mas cada caso é um caso, sendo avaliado individualmente em consulta”, explica Luísa Ramos.
No caso de uma lipoaspiração às coxas, por exemplo, Manuel Caneira afirma que pode fazer-se uma raquianestesia, anestesiando só a medula com uma epidural.
3. Pós-operatório
No que diz respeito ao pós-operatório da lipoaspiração, Luísa Ramos afirma que este não é muito doloroso, mas é muito comum a pessoa ficar inchada e ficar com hematomas (“nódoas negras”).
O tempo de recuperação depende também da extensão da lipoaspiração – cerca de 3 dias para lipoaspirações pequenas e cerca de 7/10 dias para maiores, refere.
“A sensação de dor e desconforto desaparecem após alguns dias e é aliviada com analgésicos”, informa, ao mesmo tempo que reforça a importância de se tomar os medicamentos prescritos pela equipa médica e de seguir todas as suas recomendações à risca.
“A falta de cuidados no período pós-operatório pode causar problemas na cicatrização, infeções, fibroses, manchas cutâneas, aderências e até consequências mais graves, que podem colocar a saúde do paciente em risco”, remata.
Cuidados após a lipoaspiração
O presidente da SPCPRE alerta para:
• Evitar a atividade física cerca de dez dias depois da intervenção;
• Uso de cintas de compressão (no caso da abdominoplastia), durante um mês;
• Fazer massagens de drenagem linfática, para ajudar a melhorar o edema, provocado pela incisão.
Passado um mês da cirurgia, o intervencionado deve gradualmente voltar a “mexer-se” como sempre e a alimentar-se ainda melhor. Como Luísa diz: “não há tratamento cirúrgico ou não cirúrgico que substitua uma dieta equilibrada e a prática de exercício físico”.
E vai ainda mais longe: “embora a lipoaspiração tenha resultados semelhantes ao do exercício físico em termos de redução de gordura, esta não se compara aos benefícios da atividade física, especialmente de melhoria do perfil cardiovascular.
Para manter os resultados da lipoaspiração, o paciente deve ter cuidados com o seu corpo, continuando a ter uma alimentação equilibrada e a praticar exercício físico”.
Primeiros resultados da cirurgia
O resultado da lipoaspiração é visível imediatamente após a cirurgia, mas é cerca de três meses depois que se pode avaliar o resultado final.
“Nas primeiras semanas ou mesmo alguns meses, as áreas aspiradas, além de apresentarem edema (estarem inchadas), podem apresentar algumas zonas mais densas que outros. Com o passar do tempo, realizando as drenagens linfáticas pós-operatórias e realizando exercícios orientados para a modelagem do contorno corporal, conseguimos ver uma melhoria gradual do resultado. Por este motivo, não devemos considerar o resultado final antes de três meses de pós-operatório”, esclarece a cirurgiã plástica.
Onde fazer e por que preço?
Os especialistas começam por alertar para a importância de se verificar primeiro a credibilidade do local e do cirurgião. “A lipoaspiração deve ser realizada apenas por cirurgiões plásticos, devidamente creditados e habilitados, que podem ser facilmente identificados na Ordem dos Médicos ou na Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica”.
“O problema é que há muita gente que arrisca fazê-las, sem poder, colocando em risco o paciente”, alerta Caneira. “É imperativo que o interessado verifique se o local está devidamente credenciado, se tem instalações próprias, bloco operatório, condições de higiene e unidades de recobro, porque a lipoaspiração não é uma cirurgia para se fazer num consultório”, continua.
Assim, “em Portugal, os locais mais aconselhados para este procedimento cirúrgico são os grandes grupos de saúde e clínicas privadas, que também têm condições para o fazer, embora não tenham uma estrutura tão grande”, finaliza o mesmo.
Os preços variam consoante o local, o cirurgião e até a zona do país onde é feita a cirurgia. Mas em termos gerais, o Professor arrisca-se a afirmar que uma lipoaspiração às coxas pode ir à vontade até aos 5.000€. Já ao abdómen, pode variar entre os 3.000€ e os 4.000€.
Quão seguro é fazer uma lipoaspiração?
“Se tivermos em conta as características do doente, a capacidade técnica de quem faz e o local onde é feito, a taxa de mortalidade ou de complicações graves é muito baixa”, avança Manuel Caneira. Mas ressalva que “pode sempre ocorrer arritmia cardíaca, embolia pulmonar, mas não é comum”.
Sobre este assunto, Luísa Ramos volta a chamar a atenção para os problemas que podem ocorrer quando o procedimento é realizado por não cirurgiões plásticos, que não estão familiarizados com a anatomia e com as técnicas cirúrgicas adequadas e seguras.
“Muitos desses profissionais, para além de não terem investido na mesma formação, trabalham em condições não adequadas e pouco seguras, cobrando valores mais baixos, o que, para alguns pacientes, é o principal critério de escolha”, lamenta.
Fonte: Saudecuf.pt; lmrcirurgiaplastica.pt; Baaps.org.uk; Plasticsurgery.org; Dev-journals2013.lww.com; Rmmg.org; Isaps.org;
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