Antes que pergunte, a reposta é não, microdosing em beleza não envolve psicadélicos no seu hidratante diário ou máscara de noite. Envolve, sim, o mesmo conceito de adotar uma abordagem precisa e rigorosa nos seus cuidados de pele e ingredientes que utiliza. Mas… já lá chegaremos.
A probabilidade de ao longo da vida ter ‘abusado’ de ingredientes ativos na sua rotina de pele é grande. O motivo pelo qual o fez é igual para todas: tentar ter um rosto mais jovem, luminoso e uniforme.
Como crianças numa loja de doces, empilhamos cosméticos na esperança de que atuem de forma mais rápida e eficaz. No entanto, esta abordagem elaborada pode provocar irritação, vermelhidão, acne ou escamação, isto para referir apenas alguns dos efeitos secundários.
É por esse motivo que ‘microdosear’ ingredientes se está a tornar uma das tendências de beleza com maior crescimento.
“O microdosing consiste em oferecer à pele cosméticos com concentrações reduzidas de ativos tendencialmente irritantes, nomeadamente retinol ou ácidos esfoliantes”, começa por explicar Catarina Santos, especialista em Medicina Estética e Ginecoestética na MyClinique.
“Durante a pandemia, o aumento do conhecimento dos consumidores e a procura por cuidados de rosto levou a que hoje seja frequente encontrar problemas de pele agravados pelo uso de concentrações extremamente desadequadas em produtos cosméticos de venda livre. Entre cosmética e saúde da pele não devia existir uma competição sobre quem produz a maior dose, mas uma maratona que se quer sustentável ao longo do tempo, para garantir bons resultados sem desistências”, garante.
O microdosing ajuda a pele a tolerar melhor os ingredientes ativos
Basta uma gota
Se, há uns anos, os consumidores tinham a ideia de que mais era sempre melhor, hoje isso não se verifica.
Gradualmente, tem-se vindo a assistir a uma alteração de comportamentos, em que as pessoas procuram rotinas mais simples e menos complexas.
Para a especialista, “todo o comportamento humano obedece a ciclos. Felizmente, temos esta tendência para nos autorregularmos e isso acontece nas tendências de consumo, moda e beleza. Devido à pandemia, à oclusão do rosto pelas máscaras e a todo o stresse a que estivemos sujeitos, deu-se um grande agravamento de casos de acne, eczema, rosácea ou manchas e surgiu a necessidade de cuidar da pele com mais delicadeza”.
Desde esse momento, não foi preciso muito para a palavra entrar para o vocabulário de beleza e já começarem a ser criados cosméticos que incorporam este conceito.
Então, o que difere? “O microdosing não é novidade, uma vez que, em determinados tipos de pele, é aconselhado escalar a concentração deste tipo de ativos, de forma a melhorar a tolerância da pele. Agora é um novo conceito de marketing, no qual surgem novas fórmulas orientadas para esta finalidade“.
“Como consequência da utilização de baixas doses de ativos, existe uma melhor adaptação da pele ao elemento e os benefícios surgem a longo prazo. Sejam eles dar luminosidade, aclarar manchas, melhorar a textura, rugas e poros dilatados, surgem mais devagar, mas de forma sustentada, prevenindo a desistência das rotinas de beleza, que são frequentes quando há efeitos adversos”, garante a Catarina Santos.
Como diminuir as agressões da pele e reconstruir a barreira cutânea?
- Investir na hidratação, um gesto muitas vezes descurado na pele acneica ou oleosa.
- Utilizar água termal na rotina de beleza ou ao longo do dia.
- Ter atenção aos esfoliantes mecânicos que, ao serem combinados com ácidos e retinol podem sensibilizar a pele.
- Utilizar protetor solar com FPS 30 ou mais elevado diariamente.
- Lavar o rosto com um gel de limpeza suave, hidratante e sem sulfatos.
- Usar antioxidantes e tomar suplementos orais com ceramidas, óleos essenciais, antioxidantes e probióticos.
- Manter uma alimentação saudável e, acima de tudo, reduzir o stresse.
Cuidado delicado
É impossível negar que alguns ingredientes ativos, como o retinol ou o ácido salicílico, fazem maravilhas pela pele. No entanto, estes elementos fazem parte de fórmulas que, só por si, já são poderosas.
Segundo a especialista, “devemos microdosear as substâncias potencialmente irritantes como a niacinamida, a vitamina C, os alfa, beta e os. Já o protetor solar nunca deve ser microdoseado, pois protege a pele do dano oxidativo provocado pela exposição solar, até porque estes ativos podem ser fotossensibilizantes”.
Mais do que uma tendência, o microdosing tem-se vindo a afirmar como uma técnica a adotar para melhorar a qualidade da pele.
“Reduzir a concentração destes ingredientes ativos permite usufruir de todos os seus benefícios, sem efeitos adversos”, garante a especialista em Medicina Estética.
“O melhor conselho para aderir à tendência, é procurar um especialista que possa personalizar os seus cuidados, adaptando-os à sua rotina e tipo de pele. É excelente que as pessoas estejam informadas e tenham a iniciativa de melhorar os cuidados cosméticos, mas a realidade é que todos os dias surgem no consultório situações de pele muito descompensadas porque seguiram o conselho de uma amiga, testaram um produto inovador ou usaram uma concentração altíssima de determinado ativo”, afirma a médica.
Logo, a tendência microdosing pode ser o futuro dos cuidados de pele, desde que seja acompanhada por um dermatologista, que saiba quais os ingredientes a utilizar e, claro, que consiga gerir as suas expectativas pois os resultados surgem a longo prazo.
Em doses pequenas
Pequenos, mas poderosos, estes produtos podem ser microdoseados para garantir uma melhor tolerância da pele.