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Perfumes retro: as nossas fragrâncias da adolescência estão de volta?

CK One, Happy, Pleasures, Trésor, Angel, Davidoff Cool Water, Acqua di Gio… Se olhou para estes nomes e percebeu logo sobre o que vamos escrever, recoste-se e junte-se a esta viagem no tempo perfumada.

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Perfumes retro: as nossas fragrâncias da adolescência estão de volta? Perfumes retro: as nossas fragrâncias da adolescência estão de volta?
© D.R.
Madalena Alçada Baptista
Escrito por
Jun. 21, 2024

No outro dia, dei por mim no Duty Free do aeroporto de Madrid a fazer tempo para um voo e a cheirar, um por um, os perfumes que marcaram a década de 1990. Em vez de me sentir atraída pelos stands mais vistosos, deu-me para vasculhar a fundo prateleiras recônditas e fazer uma viagem olfativa pela minha juventude.

Dos frescos aos intensos, dos femininos aos masculinos, dos cítricos aos amadeirados, acho que não me escapou nenhum daqueles perfumes que via em campanhas com top models entre as páginas da Ragazza e que, com muito esforço e mesadas, ia conseguindo juntar à coleção.

Nessa noite, já em casa, lembrei-me deste momento inusitado e comecei a investigar para perceber se era apenas uma millennial com uma crise de meia-idade, cheia de nostalgia, ou se haveria alguma razão para as fragrâncias dos anos 1990 terem voltado ao meu radar. A conclusão? De tudo um pouco.

A culpa é dos Y2K

Para as pessoas que, como eu, cresceram nos anos 1990, andar na rua hoje em dia ou entrar num elevador cheio de estranhos e ser invadida por aromas que nos enchem de sentimentos nostálgicos tornou-se banal. É que o revivalismo desta década é quase omnipresente, e já não se manifesta só através das roupas – o fascínio pela tendência Y2K (anos 2000) está a expandir-se também para a perfumaria.

Na pesquisa sobre o tema, encontrei um artigo do The Evening Standard, de outubro de 2023, que afi­ança que não estou sozinha. Muita gente está a abastecer-se de fragrâncias dos anos 1990, ou porque fazem parte das suas rotinas desde que foram lançados, ou porque querem evocar memórias simples da era pré-redes sociais.

 

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De acordo com o jornal britânico, “o relatório anual da rede de lojas John Lewis registou um aumento das vendas destes perfumes. O Angel, da Mugler, lançado em 1992, cresceu 23%, e o Aqua di Gio, da Armani, que chegou ao mercado em 1996, cresceu 29%”.

Faltou-lhes falar do CK One, o perfume unissexo que defi­niu aquela década e que fez com que toda a minha geração cheirasse ao mesmo. A icónica campanha a preto e branco com Kate Moss refletia de forma certeira o movimento grunge, a contracultura da altura e tornou a fluidez de género cool.

Pertencer à tribo

Uma das principais razões para o CK One ter tido um sucesso tão estrondoso deveu-se ao facto de ser um perfume leve e descomplicado, quase minimalista. Todos podiam usá-lo e ‘fazer parte do grupo’, fosse ele qual fosse. O seu aroma fresco, com notas de bergamota, ananás e almíscar, captou o espírito dos anos 90 do século passado como nenhum outro e fez dele um clássico incontornável.

Na altura, as fragrâncias defi­niam a tribo a que pertencíamos – se usássemos o Tommy, éramos betinhos, se usássemos o Angel, éramos artistas, se usássemos o Trésor, era porque o roubávamos à nossa mãe…

Todos queriam um perfume ‘de marca’ e tinham conhecimentos sobre o assunto, muito graças à explosão da cultura pop, com top models em anúncios nas revistas de moda e a MTV a divulgar as músicas das campanhas publicitárias em videoclips que nos viciavam. Tão viciantes que queríamos transpor aquele cenário para a nossa realidade e viver como os artistas que nos inspiravam, de preferência, a cheirar ao mesmo.

Uma era de visionários

Voltemos ao presente. A indústria cosmética está mais forte do que nunca, todos os dias são lançados novos aromas, envoltos em enormes campanhas, com o alto patrocínio das celebridades mais influentes, mas parece que nenhum tem o arrojo ou carácter inovador que a perfumaria dos anos 1990 esbanjou.

Arrisco dizer que foi a última grande era de ouro experimental na perfumaria mainstream, com muitos perfumes ousados, e até, difíceis de compreender, a serem lançados. Um exemplo perfeito desta abordagem experimental foi o icónico Angel, de Thierry Mugler.

 

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A criação de Olivier Cresp era surpreendente, algo nunca antes cheirado, com um acorde inusitado e inovador de algodão-doce e patchuli.

Trinta anos depois, ainda se sente o ‘efeito Angel’ pairar na indústria, com o lançamento em catadupa de perfumes gourmands, categoria que não existia antes de Angel.

Dois anos mais tarde, em 1994, sempre que se ligava a televisão ou se abria uma revista de moda, surgia a imagem psicadélica de um jardim com uma mulher nua que encontrava um homem, também nu, a tomar banho numa lagoa. Era o Jardim do Éden e o slogan, Le Parfum Defendu (O Perfume Proibido, em português), embora carregado de referências bíblicas, fazia menção a uma fragrância vanguardista. Tal como Angel, Eden não queria só cheirar bem, queria ser estranho e intrigante.

De ontem para hoje

Atualmente, parece não haver espaço para criações extravagantes; foram relegadas para circuitos de nicho alternativos e independentes.

A verdade é que talvez este não seja o momento ideal para desa­fiar e perturbar o universo da perfumaria, depois de uma pandemia, com tantos conflitos internacionais e problemas sociais ainda em curso… Hoje em dia, procuramos conforto e estabilidade.

Mas será que as grandes casas de perfumaria perderam o poder de nos fazer sonhar com um futuro alegre, mesmo que confinado a um frasco de perfume? Ou só conseguem olhar para maneiras de fazer dinheiro rápido e, portanto, estão menos propensas a correr riscos?

Pelo sim, pelo não, podemos sempre encontrar incentivos para a mudança para os perfumes retro, criados na década de 1990, e que ainda hoje podemos comprar.

Perfumes retro

  • Tommy Girl Cologne Spray

    perfumes retro

    Tommy Girl Cologne Spray

    Tommy Hilfiger

    76€ (100 ml)

    1 / 12

  • Trésor

    perfumes retro

    Trésor

    Lancôme

    170,99€ (100 ml)

    2 / 12

  • Rive Gauche

    perfumes retro

    Rive Gauche

    Yves Saint Laurent

    98,32€ (100 ml)

    3 / 12

  • L'Air du Temps

    perfumes retro

    L'Air du Temps

    Nina Ricci

    104,85€ (100 ml)

    4 / 12

  • Angel

    perfumes retro

    Angel

    Thierry Mugler

    126€ (100 ml)

    5 / 12

  • Allure Eau de Toilette

    perfumes retro

    Allure Eau de Toilette

    Chanel

    126,92€ (100 ml)

    6 / 12

  • Acqua di Gio

    perfumes retro

    Acqua di Gio

    Giorgio Armani

    79,40€ (100 ml)

    7 / 12

  • CK One

    perfumes retro

    CK One

    Calvin Klein

    55,90€ (200 ml)

    8 / 12

  • Eden

    perfumes retro

    Eden

    Cacharel

    26,18€ (100 ml)

    9 / 12

  • Happy

    perfumes retro

    Happy

    Clinique

    80,74€ (100 ml)

    10 / 12

  • Cool Water

    perfumes retro

    Cool Water

    Davidoff

    65,84€ (125 ml)

    11 / 12

  • Pleasures

    perfumes retro

    Pleasures

    Estée Lauder

    113,77€ (100 ml)

    12 / 12

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº288, junho de 2024.

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