Champô, lavagem, condicionador ou máscara é a ordem pela qual geralmente aplicamos os produtos de cabelo. Porém, a tendência de aplicar os produtos pela ordem inversa está a ganhar popularidade entre os consumidores, levando a que cada vez mais pessoas se questionem sobre os benefícios deste tipo de lavagem.
Estivemos à conversa com Joana Nobre, Mestre em Ciências Farmacêuticas e consultora científica em dermocosmética, para investigar a fundo este tema. Deixamos-lhe as respostas a todas as dúvidas aqui.
Mudar de direção
“O reverse wash é o que designamos em português de lavagem reversa e é bastante simples: em vez de começar o ritual de lavagem com o champô, começa-se com o condicionador. Depois de molhar o cabelo, distribui-se o produto, começando pelas pontas e trabalhando em direção aos comprimentos médios; é recomendado que se evitem as raízes do cabelo e o couro cabeludo. Deixa-se atuar de cinco a 20 minutos e enxagua-se, depois aplica-se o champô, lavando por fim”, explica Joana Nobre.
Apesar de não ser uma novidade, esta lavagem é cada vez mais conhecida por ser uma técnica indicada para quem tem cabelo fino, sem volume, oleoso ou quebradiço, mas pode ser experimentada em qualquer tipo de textura.
Contudo, para compreender porque surgiu esta versão de lavagem do cabelo, é necessário perceber a função de cada um dos produtos envolvidos.
“O champô foi criado para limpar o cabelo e couro cabeludo, enquanto o condicionador hidrata e repara a haste capilar. Os ingredientes que causam a ação de limpeza do champô são os tensioativos e por norma existem vários. Os tensioativos têm uma região hidrofílica (com afinidade para a água) e uma região lipofílica (com afinidade para a gordura)”, começa por explicar Joana Nobre.
“A extremidade lipofílica liga-se aos detritos e às sujidades, a hidrofílica liga-se às moléculas de água, para que os detritos sejam enxaguados e se elimine toda a sujidade. Embora existam diferentes tipos de produtos de limpeza, o champô tem geralmente um pH mais alcalino do que o condicionador. O seu pH faz com que a haste do cabelo inche, elevando as camadas externas da cutícula, responsáveis por proteger o funcionamento interno do cabelo. Apesar de existirem moléculas de condicionador na formulação de um champô, são numa quantidade reduzida e apenas suficiente para deixar o cabelo flexível e suave após a lavagem”, revela.
“Já os condicionadores têm um pH ácido e suavizam ou ‘fecham’ as cutículas, enquanto desembaraçam e preparam o cabelo para o penteado. Isso acontece através dos tensoativos catiónicos dentro do condicionador, que carregam uma carga elétrica positiva que se liga à carga negativa do fio de cabelo. Quando lavamos o cabelo com champô, este remove as sujidades, mas também parte do sebo ou óleo natural do cabelo. Na lavagem reversa, o condicionador atua como primer antes da lavagem e protegerá o fio de cabelo para que o champô não retire tão facilmente os seus óleos naturais, enquanto os tensioativos no champô lavam os resíduos deixados pelo condicionador no cabelo. O condicionador funciona porque deposita na haste capilar lubrificantes, contudo, se o aplicarmos antes, o champô tem uma tarefa acrescida de retirar esta película extra, além das sujidades do cabelo”.
Os benefícios da reverse wash
De acordo com Joana Nobre, a lavagem reversa pode ser benéfica em alguns casos:
• Em pessoas com cabelo sem volume, fino, fragilizado, com quebra ou queda, pois evita que o condicionador deixe o cabelo pesado.
• É útil para pessoas com couro cabeludo oleoso, pois os condicionadores podem contribuir para o problema se forem mal aplicados.
• Em pessoas que tentam evitar o uso de condicionadores, mas sofrem com pontas secas ou encrespadas.
• Pode aparentar estar limpo durante mais tempo.
• Em pessoas com cabelo grosso ou seco, para melhorar a textura do cabelo.
• Em casos de acne, alguns dermatologistas referem que esta técnica pode ser interessante porque se reduz a probabilidade de haver qualquer resíduo de condicionador na pele.
Uma nova ordem?
Inverter a ordem pela qual os produtos são aplicados pode ser apelativa, mas é preciso ter noção de que, independentemente do seu tipo de cabelo, existe a possibilidade de levantar a cutícula.
Isto significa que a haste fica desprotegida e mais suscetível a danos, como pontas espigadas ou quebra.
Quando questionada sobre a tendência reverse wash, Joana Nobre afirma que, “tendo em conta o tipo de fórmulas que são feitas atualmente, esta lavagem não se justifica. Concordo que se apliquem óleos de pré-lavagem para uma nutrição profunda da haste e que não se corra o risco de deixar resíduos no couro cabeludo, mas existem muitos condicionadores adaptados ao cabelo fino, sem volume ou oleoso. Logo, se aplicarmos bons produtos e nas doses certas, será mais benéfico para o cabelo lavar com champô e, só depois, colocar o condicionador.”
“Para quem sente que o método tradicional não garante bons resultados, precisará de encontrar novos produtos, mais adaptados às suas necessidades. Existe uma razão científica e lógica para o champô ser usado antes do condicionador: o champô terá, em princípio, um pH mais alto e o condicionador um pH mais baixo, o que equilibra o cabelo depois da lavagem, dando-lhe brilho, flexibilidade e hidratação. Noutras palavras, se não faz sentido cientificamente, não fará sentido na prática”, remata.