Beleza

Como é que, há 25 anos, se construiu uma marca de cosmética vegana?

Se hoje é uma tendência cada vez mais seguida, há 25 anos era impensável existirem marcas veganas e só com ingredientes naturais no mercado. A Ringana pôs os químicos de lado e todos os produtos que apresenta são formulados à base de plantas.

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Como é que, há 25 anos, se construiu uma marca de cosmética vegana? Como é que, há 25 anos, se construiu uma marca de cosmética vegana?
© D.R.
Marta Chaves
Escrito por
Mai. 26, 2022

Andreas Wilfinger e Ulla Wannemacher decidiram começar uma marca de cosméticos nos anos 90, depois de o seu filho trazer do jardim de infância para casa uma pasta de dentes com a substância preocupante triclosan (triclosano).

Nesta altura, era, de facto, difícil apresentar opções ao mercado que não incluíssem químicos e substâncias que pudessem prejudicar a pele e o organismo (a maioria das marcas assim o fazia, sem peso na consciência), mas o casal decidiu avançar com a ideia de criar uma empresa que excluísse estes ingredientes.

Assim surgiu a Ringana, uma marca austríaca que diz usar apenas ingredientes naturais nas suas fórmulas, provenientes de frutas e plantas, colocando de parte qualquer ingrediente sintético.

Passados estes 25 anos, além da cosmética, a marca decidiu introduzir também suplementos alimentar com fórmulas também elas naturais, mas o caminho para aqui chegar, fez-se com tumultos.

“No início, não tínhamos clientes, nem trabalhadores, nem dinheiro. Tivemos de fazer tudo. Nos primeiros anos tínhamos alguns empregados, sim, mas não na área de desenvolvimento de produto. Mas a verdade é que nós sabíamos que a marca ia resultar”, diz Andreas Wilfinger, um dos CEO’s.

Agora presente em 25 países, a Ringana tem o seu campus perto de Viena e é aqui que produz e distribui os seus produtos. Quem lá entra, percebe que esta poderia ser uma empresa de Sillicon Valley, nova, moderna e com um toque de vanguardismo com foco em quem lá trabalha.

“O campus é um espaço muito fixe para nós, ou seja, para os trabalhadores, para serem criativos. O mais importante é que produzimos os melhores produtos, a melhor ciência e este sítio é excelente para ter boas ideias. Estamos também a enfrentar uma mudança na forma de trabalhar, porque, sim, as pessoas gostam de trabalhar a partir de casa”, partilha o CEO.

O campus da Ringana fica em St. Johann in der Haide e tem dez misturadores e 17 linhas de engarrafamento. O telhado (9500 m2 ) destina-se à retenção de águas pluviais com o objetivo de reduzir as necessidades de refrigeração do edifício

© ATP/Pierer

A pandemia não abrandou o crescimento da marca, que afirma ter tido sempre um nível de vendas estável, garantindo que os clientes, após a primeira compra, voltam a encomendar os seus produtos. Nos planos da Ringana, o online continua a ser a grande aposta e não estão previstas aberturas de lojas, sendo que a única no mundo fica neste mesmo campus, na Áustria.

Voltando aos anos 90, a marca de cosmética trabalhou sempre com médicos holísticos e bioquímicos e, em 1996, lançaram a sua primeira linha de cosméticos após uma investigação realizada ao longo de vários anos. Entre os seus muitos lançamentos, hoje a Ringana já vende também cápsulas, bebidas e substitutos de refeição.

Quando perguntamos qual é o fator diferenciador desta para outras marcas, a resposta é unânime: a frescura dos produtos. À partida, o conceito causa estranheza e levanta algumas questões. Como é que os produtos de cosmética podem ser frescos? Tem a ver com os ingredientes? Ou com a forma como são armazenados?

A frescura da Ringana

Esta questão está relacionada com a forma de produção e com a data de validade curta que os produtos da Ringana têm. “Os nossos produtos são frescos, o que significa que têm uma data de validade muito curta. Queremos fazer produtos que sejam saudáveis para a pele. Com este conceito de puro e natural, temos ingredientes 100% naturais, por isso, não há nada de sintéticos neles”, explica-nos Julia Mösslacher, diretora de pesquisa e de desenvolvimento.

Em média, os produtos da Ringana têm uma data de validade de seis meses após a sua abertura, isto para garantir que todas as suas propriedades estão aproveitadas neste tempo e que a segurança é garantida. “Todos os nossos conservantes são extraídos de plantas e os seus maiores benefícios são, por exemplo, serem antioxidades e calmantes para a pele. Como todos os ingredientes são frescos, tentamos enviar o mais rápido possível para os nossos clientes”, refere Julia Mösslacher.

Andreas Wilfinger e Ulla Wannemacher, fundadores da Ringana

De realçar que a marca não tem um armazém para guardar os produtos, como acontece com a maioria das empresas de cosmética. A estratégia passa por produzi-los e enviá-los num curto espaço de tempo para os consumidores, garantindo que não há forma de se estragarem.

“Há dois tópicos distintos importantes para nós: primeiro, os conservantes são indispensáveis para manter os produtos seguros, para que não haja bactérias. Isto é possível com os nossos conservantes naturais e com as nossas embalagens. O segundo é a ação que os produtos têm”, esclarece a fundadora.

A ação significa eficácia. A marca aconselha a que todos os seus produtos sejam usados assim que estão abertos. O que nos questionámos de seguida é como é que estes produtos atuam na pele sensível, uma vez que toda a base é natural, proveniente de plantas, com ingredientes ativos, que muitas vezes são demasiado agressivos para esta condição.

“Fazemos testagens sob o controlo de dermatologistas para garantir que os produtos são seguros. E para a pele sensível temos algumas vantagens, como o facto de os ingredientes serem frescos e com um curto prazo de validade, que faz com que possamos evitar ingredientes que podem ser prejudiciais para a pele. Outra coisa positiva é que os nossos produtos são sem perfume, e este é um detalhe que está muitas vezes associado a alergias de pele. Não precisamos de perfume em skincare”, assegura Julia Mösslacher.

Todos os dias pensamos em novas formas de substituir o plástico – Andreas Wilfinger, CEO

A sustentabilidade está no ADN

Não é possível falar da Ringana sem falar de sustentabilidade. A marca leva a sério a questão ecológica e tenta implementar estratégias e métodos que garantam o respeito pelo meio ambiente.

Há muitos certificados que só olham para o produto e não para todo o seu ciclo. O que acontece após o produto ser usado?”, questiona Patrick Sonnleitner, expert de sustentabilidade. “Foi um desafio. Normalmente os produtos que são analisados para este certificado são os produtos de limpeza (como os detergentes, por exemplo, que têm menos ingredientes), então, também eles precisaram de ter pessoas especializadas, que não tinham, para analisarem o processo. Foi bom porque assim criaram o sistema de avaliação de produtos de beleza”, completa.

O certificado a que se refere é dado pelo próprio governo e analisa as práticas das empresas em relação à sustentabilidade. Mas a maioria dos produtos da Ringana têm também a certificação COSMOS, uma das mais conhecidas neste tema.

“Ao termos um produto eficiente também estamos a ser sustentáveis porque vamos usá-lo menos vezes. Se um produto é muito mais eficaz do que outro, vamos usá-lo em menor quantidade. Ao consumir mais devagar, também vamos fazer menos encomendas e usar menos transportes”, refere Patrick Sonnleitner.

A marca tem laboratórios próprios onde produzem os cosméticos

Ao encomendar um produto da Ringana, este vem embrulhado numa pequena toalha de algodão orgânico. “Se um produto quer estar numa loja a retalho, não pode estar numa embalagem destas, não é possível. Tentamos sempre melhorar. O algodão é orgânico, usamos menos 70% de água quando o produzimos e é isso que temos em mente: podemos melhorar? Podemos fazer diferente?”, questiona o CEO.

“Todos os dias pensamos em novas formas de substituir o plástico. Usamos cada vez mais PCR e PIR (post-consumer recycle plastic e post-industrial recycle plastic), são muito mais sustentáveis do que o plástico de origem vegetal do Brasil, por exemplo, que, sim, não contém óleo mineral, mas continua a ser plástico na sua essência”, acrescenta.

Suplementos, sim ou não?

Em 2000, a Ringana apresentou os seus suplementos ao mercado, com uma panóplia de opções que vão desde reforço ao sistema imunitário, para o intestino, cabelo, memória, sistema cardiovascular e para quem faz exercício físico.

“Usamos vários ingredientes naturais que temos já na cozinha, como sumo de limão, para aumentar o pH. Em algumas fórmulas usamos também sal quando queremos preservar alguma coisa e tentamos usar menos água para termos a certeza de que nada ‘cresce’”, exemplifica Lisa-Maria Müllern, responsável pela área de suplementação.

Mas, como é que o consumidor final pode ter a certeza do que está a tomar? “No mercado encontramos fórmulas em que há um ingrediente principal que é natural e o resto dos ingredientes são escolhidos ao acaso, sem contexto para ali estarem. A maioria são sintéticos. Com a Ringana, tudo o que está nas fórmulas tem um efeito real. Com as nossas cápsulas, por exemplo, temos cinco a 10 ingredientes, todos eles foram sujeitos a estudos e conhecemos bem os seus benefícios”, sustenta a especialista.

A equipa da Ringana assegura que a vontade de continuar a inovar é um dos seus pilares e, por isso, não mantém as mesmas fórmulas durante anos a fio. Vai procurando novas tendências, percebendo o que pode ser melhorado, e fazendo substituições de ingredientes, se necessário.

Usamos fruta concentrada para não ser necessário usar água e aumentar o tempo de validade. Não usamos conservantes e tentamos usar produtos que já conhecemos bem e que já temos na cozinha”, completa Lisa-Maria Müllern

Os 25 anos da marca, agora com mais afinco no mercado europeu, são celebrados com a promessa de se manterem ecológicos, veganos, e com ingredientes que tentam ser sempre provenientes de produtores locais.

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