O minimalismo chegou à pele. Se há um ano atrás as sheet masks e os 12 passos de beleza coreanos prometiam maravilhas, hoje o truque é fazer o menos possível.
O skin fasting é nada mais, nada menos que deixar a nossa pele em jejum. Popularizado pela Mirai Clinical, uma marca de cosmética japonesa, esta tendência inspira-se na teoria de Hipócrates de que jejuar pode ser um mecanismo de cura. A ideia é que, ao deixarmos de aplicar cosméticos, a pele tem tempo de fazer um reset e melhorar o seu estado.
Para Inês Rebelo, facialist, “menos é mais”. A especialista em cuidados da pele é apologista do skin fasting e, na sua experiência, o uso excessivo de cosméticos é um problema recorrente. “70/80% das minhas clientes têm problemas de pele por excesso de cosméticos, num target entre os 25 e os 35 anos”, confessa.
A indústria da beleza leva-nos a crer que quanto mais fizermos pela nossa pele, mais feliz ela e nós, por acréscimo, seremos. Mas a biologia diz-nos o contrário, como explica Inês Rebelo. “Na maior parte dos casos, realmente ela reage melhor quando fazemos menos. Nunca nos podemos esquecer que a pele é um órgão e tem o seu próprio metabolismo e os seus próprios mecanismos de defesa”.
Ao utilizarmos mais produtos, criamos um ciclo vicioso, já que “a pele cria um padrão de resposta ao que lhe aplicamos diariamente e, quanto mais fazemos, menos tem ela que fazer. Com o passar do tempo, o padrão de resposta pode já não ir ao encontro da necessidade: a pele ‘habitua-se’. Temos então que fazer mais e mais e sempre mais”.
Isto vai resultar nas tão indesejadas reações da nossa pele, que sucedem quando “não há uma recetividade adequada ou expectável aos ingredientes presentes nos cosméticos. Quantos mais cosméticos utilizamos, quão mais intensa é a nossa rotina, maiores são as reações”.
Mas será que o skin fasting funciona? Dei a pele ao manifesto
Quem me conhece sabe que sou a “doida dos cremes”, como as minhas amigas me gostam de chamar. Para além do meu trabalho muitas vezes o exigir, experimentar produtos novos sempre foi algo que me deu imenso prazer.
Tenho 26 anos e uma pele que descreveria como normal. Há cerca de dois meses a minha pele começou a mostrar sinais de descontentamento. Para além da limpeza, tónico, sérum, óleo e hidrante (ufa!) da minha rotina noturna, decidi adicionar à lista um tónico de ácido glicólico que prometia “iluminar a tez e reduz a aparência dos poros”.
Na manhã a seguir à primeira aplicação, a reação da minha pele foi aparente. Como um pedido de socorro, as borbulhas começaram a aparecer em jeito de aviso de que algo não estava a funcionar bem.
Segundo Inês Rebelo, “os ácidos são ingredientes maravilhosos e com resultados espetaculares se devidamente prescritos e se, também, devidamente utilizados. A tendência de acharmos, infelizmente um bocadinho empolada pela indústria cosmética, que melhor é quanto mais e mais forte, coloca-nos num patamar de risco para podermos cuidar da nossa pele.”
Medidas drásticas
Frustrada, com mais um produto para a coleção de tentativas furadas que vivem na minha prateleira, decidi tomar uma medida drástica e parar por completo toda a minha rotina.
Zero, nadinha! Nem sequer maquilhagem apliquei durante duas semanas. Ao fim de uma semana e meia, as três ‘crateras’ que tinham dominado o meu queixo começaram a desaparecer. E até algumas colegas no trabalho elogiaram a luminosidade da minha pele, à espera de que a resposta fosse um novo segredo de beleza.
Para Inês Rebelo, os passos essenciais de uma rotina de skin fasting passam por limpeza diária e a hidratação. “Aquando a exposição solar ou quando há indicação médica para tal, adicionar também a proteção solar. Uma pele limpa é a prevenção do aparecimento das temíveis borbulhas pela acumulação de impurezas e bactérias, e uma pele hidratada é a prevenção do envelhecimento cutâneo. Deixem os ácidos nas rotinas diárias para mais tarde”, aconselha a especialista.
Confesso que, por mais libertador que tenha sido, passado duas semanas senti a falta de lavar a minha cara e de aplicar um hidratante, pelo menos. Por isso, foi o que fiz. Comecei a introduzir um gel de limpeza muito suave e um creme hidratante básico. A minha pele não deu sinais de alerta e é o que tenho feito até agora, já lá vão dois meses.
Um método sem método
O skin fasting pode ser tão simples como reduzir os passos na sua rotina ou tão drástico como a abstenção total por umas semanas.
Se pensa que a sua pele precisa de uma pausa, a especialista Inês Rebelo aconselha “seriamente a que o faça”. Mas alerta para que não deixe de procurar o acompanhamento de um profissional devidamente certificado, por duas razões: “primeiro, para não retirarem cosméticos que podem ser efetivamente necessários à sua rotina e, segundo, para lhe retirarem aqueles que podem não ser de todo”, clarifica a especialista.
Se a nossa sociedade se está a mover para um futuro mais minimalista em tantas áreas, porque não na beleza? Lembro-me da minha avó que usava água de rosas, ‘zero’ maquilhagem e uma lata azul de creme Nivea para tudo o que fosse pele seca. Até aos 82 anos, as rugas dela eram profundas, mas com a suavidade da pele de um bebé.
Agora, cada vez que quero cair na tentação de comprar mais um produto, pergunto-me: se ela não precisava de mais, porque hei-de eu precisar? No final, rendi-me a este método que, na realidade, não tem método nenhum.
Fonte: O que é o skin fasting
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