O número de seguidores não é aquilo que as move, nem tão pouco as marcas que possam procurar colaborações. O que as move é a paixão e o conhecimento pela indústria de beleza e, nas contas pessoais de Instagram, o que publicam é sinónimo de transparência e honestidade com quem as segue.
São estes e outros motivos que fazem com esta nova geração de especialistas – um híbrido entre as influencers de beleza e farmacêuticas – tenha cada vez mais adesão.
A nível internacional as skinfluencers já são relativamente conhecidas e em Portugal, apesar de ainda serem poucas, já deram provas de que representam aquilo que os seus seguidores procuram.
Com a indústria a mudar rapidamente, evoluem também os consumidores e, se antes olhávamos para as rotinas de beleza de celebridades para procurar conselhos, hoje damos prioridade a especialistas.
A realidade é que, com cada vez mais marcas a surgirem diariamente e bloggers a comunicarem diferentes produtos simultaneamente, é impossível encontrar qualquer tipo de consistência. De manhã, o melhor desmaquilhante para o seu rosto é da marca ‘A’, mas ao final do dia, o melhor desmaquilhante é da marca ‘B’.
É precisamente por este motivo que as skinfluencers são cada vez mais procuradas, pessoas especializadas, com formação dentro da área, que comunicam com transparência e esclarecem quem os segue.
Ventos de mudança
No Instagram, hashtags como #skincare devolvem milhares de resultados e todas as semanas é possível encontrar publicações novas. Navegar neste oceano de vídeos e fotografias com milhares de produtos, pode ser uma tarefa difícil para o consumidor e encontrar aquilo que vai de acordo às necessidades de sua pele é algo que raramente conseguem. Ou talvez não.
Graças a mulheres como Joana Nobre (@joana__nobre), Ana Oliveira (@anacbalexandre), Marta Ferreira (@apelequehabitoblog) ou Andreia Neto (@andreianeto), as redes sociais tornaram-se um lugar um pouco mais seguro, onde podemos partilhar sugestões, tirar dúvidas e até pedir algum tipo aconselhamento.
Para Joana Nobre, publicar conteúdos de beleza foi algo que surgiu naturalmente. “Desde que tenho Instagram e pelo facto de trabalhar na indústria, fui sempre partilhando conteúdo informalmente nesta área. Porém, desde 2018 faço-o de modo mais regular através de fotografias, stories ou posts mais informativos. Gosto sempre de misturar ciência e tecnologia com a comunicação. Tanto pelas funções que desempenho na indústria, como pelas aulas que leciono em contexto académico, estudo diariamente e sinto-me tão empolgada com determinados temas que os partilho com os meus seguidores”.
Licenciada e mestre em Ciências Farmacêuticas e pós-graduada em Dermofarmácia, Joana é uma apaixonada pelo universo de beleza e defende que “nunca a ciência foi tão importante para a nossa saúde e bem-estar, a cosmética é ciência. Comunico sempre com o objetivo de dar uma perspetiva completa e neutra sobre o tema que estou a abordar, sem associação a marcas. Algo que realmente acrescente conhecimento a quem ler. Acima de tudo, sou cientista e sê-lo-ei sempre. Penso que quem me segue percebe que o rigor é a minha imagem de marca”.
Já para Ana Oliveira, licenciada em Farmácia e trabalhadora na área de dermocosmética há seis anos, a partilha de conteúdos surgiu por necessidade.
A acne, dermatite seborreica e a dermatite atópica de que sofria levaram-na a procurar soluções, “o facto de pesquisar para mim, acabou por me interessar na área. Sou de farmácia, mas a dermocosmética é apenas uma das áreas e antigamente não tinha grande interesse. Porém, esta pesquisa acabou por me aguçar a curiosidade e percebi que tinha ali uma plataforma onde podia arranjar soluções para as pessoas que não tinham o mesmo acesso e a mesma literacia científica do que eu”.
Para Marta Ferreira, mestre em Tecnologia Farmacêutica e pós-graduada em Cosmetologia Avançada, a partilha de conteúdos surgiu em 2015, quando ainda estava a terminar o curso. “Parece-me que as pessoas estão mais interessadas em conhecer a constituição dos seus cosméticos, com base em informação credível, de forma a fazerem escolhas mais informadas”, refere.
Beber conhecimento
Apesar da abordagem positiva, as três especialistas referem que ainda há muito espaço para melhorar dentro deste universo.
Segundo Joana Nobre, “o meu objetivo é promover a literacia nesta área. Quando vejo ou leio algo que vá no sentido contrário, sinto-me incomodada porque sei que o consumidor sairá prejudicado. Esta indústria tem um pé na saúde física e outro na saúde mental, mas falamos sempre de saúde. Incomodam-me estilos de comunicação que não distinguem uma review pessoal de um aconselhamento farmacêutico fundamentado. É muito perigoso analisar cosméticos e fazer diagnósticos, sem saber formular um produto nem o nome das células da pele”.
Já as restantes especialistas estão de acordo num aspeto, a ascensão das campanhas que incutem medo nos consumidores, é uma das características que menos gostam na indústria.
Para Ana Oliveira, “a moda de vender através do medo – também chamado de fearmongering –, onde as marcas vendem-se dizendo que o produto não tem determinados ingredientes e que por isso é melhor, não é tóxico, é seguro ou clean. Existe legislação, apesar de muita gente tentar fazer passar que não existe e que usar produtos cosméticos é um risco”.
Marta Ferreira concorda com esta afirmação e refere que, “todas as campanhas que se baseiam no ato de incutir medo nos consumidores para vender, seja relativamente a parabenos, sais de alumínio, sulfatos ou derivados do petróleo, é enganosa e resulta da incapacidade de algumas marcas para se destacar por aquilo que os seus produtos efetivamente contêm. Infelizmente, grande parte dos consumidores interiorizou, erradamente, que estes e outros ingredientes são nocivos, e nos dias que correm é um verdadeiro desafio vender cosméticos com estes ingredientes tão seguros, mas tão demonizados”.
Apesar do desafio, todas adoram aquilo que fazem e a prova disso está nas suas redes sociais. Logo, se também é apaixonada por beleza ou começou a dar os primeiros passos neste universo não deixe de as seguir e espreitar o que por lá se passa.