Se pensarmos bem, a técnica não é nova, embora lhe tenham dado um novo nome e esteja nas bocas do mundo do TikTok e do Instagram. E a verdade é que quando uma tendência chega às redes sociais é logo vista como a última moda a seguir.
Mas quem é que nunca revestiu os pés com vaselina e calçou umas meias de algodão durante a noite para acordar com a pedicura feita? Ou aplicou uma camada grossa de creme Nivea nas cutículas e calçou umas luvas para, de manhã, ter umas mãos suaves e hidratadas?
No fundo, o slugging já existe entre nós, fanáticas de beleza, há muitos anos, mas o facto de agora estar a ser aplicado no rosto requer alguns cuidados.
Falámos com Joana Nobre, mestre em Ciências Farmacêuticas e consultora científica em dermocosmética, para ficarmos esclarecidas sobre a melhor forma de adequar esta técnica à pele do rosto.
É que para a especialista, “as imagens iniciais que circularam no TikTok com esta tendência mostravam claramente um excesso de produto aplicado e a pessoa dormia com a pele brilhante como uma bola de espelhos. Isso é desnecessário e nada benéfico”!
ABC do slugging
A aplicação de vaselina no rosto como último passo da rotina noturna, ou slugging, é uma técnica que “tem como objetivo promover a hidratação da pele através do mecanismo de oclusão”, explica Joana Nobre, que adverte para o facto de os oclusivos não aportarem água à pele, mas sim aprisionarem a água na pele, evitando a sua evaporação através da formação de um filme hidrofóbico, podendo, ainda, substituir alguns lípidos em falta.
Pelo que podemos ler nas já referidas contas de Instagram de meios ligados ao universo cosmético e em diversos artigos da área, esta técnica potencia a ação dos produtos aplicados anteriormente.
E Joana Nobre confirma-o, apontando, no entanto, algumas ressalvas: “esse é o motivo pelo qual não deve ser feita nos dias em que são previamente aplicados ingredientes como retinoides ou hidroxiácidos, pois, ao aumentar a sua penetração devido à oclusão, aumenta também o seu potencial irritante”.
“Com a oclusão, o conteúdo de água da pele aumenta e isso leva a uma menor coesão do estrato córneo, por isso, quase tudo o que aplicamos à superfície previamente penetrará melhor na pele“, acrescenta.
“Adicionalmente, o facto de existir uma camada protetora sobre os restantes cuidados de pele ajuda a reduzir a sua remoção por fricção com a almofada, os lençóis ou, até, as próprias mãos”, conclui a especialista.
Fuja do slugging!
Não é preciso pensar muito para chegar à conclusão de que alguns tipos de pele poderão não beneficiar desta técnica. Que o digam as pessoas com pele oleosa ao imaginarem cobrir a cara com um produto tão denso como a vaselina…
“Está mesmo contraindicada”, garante a consultora.
“Apesar de a vaselina, parafina ou óleo mineral não serem comedogénicos, há indícios de que o slugging pode levar ao aparecimento ou ao exacerbar de borbulhas. Não há estudos que o comprovem, mas a comunidade científica é unânime em não a aconselhar às peles oleosas ou com tendência acneica”, justifica.
Mas não são só as pessoas com pele oleosa que não devem ceder a esta moda recente.
Há outras patologias cutâneas que a tornam completamente contraindicada, como explica Joana Nobre:
- A pele com rosácea, porque o slugging, ao ser feito com oclusivos, promove o aumento da temperatura da pele e, consequentemente, maior vasodilatação e rubor;
- A pele com eczema, psoríase ou queimaduras (solares inclusive), porque há uma alteração da função barreira da pele, que pode promover o maior desenvolvimento de bactérias e fragilizar ainda mais a pele;
- Pessoas a fazer tratamentos tópicos medicamentosos com tretinoína, por exemplo, porque aumentam a penetração.
Alternativas à vaselina
Boa, segura, barata e inócua para crianças e adultos, a vaselina é o ingrediente de referência na oclusão da pele.
“É o gold standard, mas, se o objetivo for fazer oclusão, basta usar um creme hidratante/nutritivo que contenha parafina, óleo mineral ou silicones”, aconselha a farmacêutica.
Existem ótimas alternativas que combinam vários ingredientes hidratantes e que acabam por ser mais eficazes, mais completas e, até, mais confortáveis de usar.
Para Joana Nobre, os ingredientes hidratantes a privilegiar são a glicerina, o ácido hialurónico, o esqualano, o pantenol, as ceras vegetais e os silicones (dimeticone).
Recorra ao slugging uma ou duas vezes por semana usando o equivalente ao tamanho de uma ervilha
Slugging capilar
Embora se fale desta técnica há mais de um ano, as beauty junkies encontram sempre forma de a fazer evoluir.
A última moda é aplicá-la também no cabelo, usando óleos ou outro tipo de produtos leave in.
Se pensa que é um gesto inofensivo ou com menos contraindicações do que o slugging facial, desengane-se. Joana Nobre, mestre em Ciências Farmacêuticas e consultora científica em dermocosmética, explica porquê.
“As regras não são exatamente as mesmas porque, contrariamente à pele, a haste capilar é uma estrutura morta”, explica.
“Contudo, o slugging capilar preconiza a aplicação dos produtos em cabelo húmido, após a lavagem, e o envolvimento do cabelo numa toalha ou numa touca. Isto está completamente contraindicado e é muito mau para a saúde do couro cabeludo”, acrescenta a especialista.
“Não devemos dormir sistematicamente com o cabelo molhado porque a cabeça encosta na almofada, há um ambiente quente que se instala e, juntamente com a humidade, é o meio perfeito para a proliferação fúngica. Daqui podem decorrer afeções como a caspa, por exemplo”, finaliza.
“Se optar por não fazer a aplicação no cabelo húmido, ou seja, aplicar na haste seca, aí não há problema em nenhum tipo de cabelo porque os produtos são apenas aplicados na haste e não no couro cabeludo”, afirma Joana nobre.
“No entanto, convém lembrar que o cabelo contacta com o rosto e deve ter cuidado, ao dormir, para evitar que tal aconteça, porque aí, sim, pode agravar acne, irritar a pele do rosto, etc. Muitas vezes, o slugging em cabelo seco contempla cobrir os comprimentos com uma meia macia e usar um elástico para prender”, adiciona.
“Tenha cuidado com os materiais escolhidos, que deverão ser mesmo macios. O elástico não deverá ser muito forte para não marcar o cabelo. O facto de proteger assim o cabelo protege a pele do contacto com os produtos e evita que o cabelo esteja solto e faça fricção na almofada. Isto é bom para evitar eletrificar o cabelo pelo atrito”, conclui.
“Os cabelos com hastes secas, muito secas ou fragilizadas, cabelos crespos ou muito encaracolados são os que mais beneficiam. Podem fazer durante a noite, com a periodicidade que entenderem ser a mais confortável, lavando no dia seguinte. Como ingredientes, saliento a manteiga de karité, ceramidas, óleos de marula, argão, jojoba, coco, abacate, amêndoa doce, rícino ou a mistura de vários destes óleos”, termina a especialista.