Cerca de 2,3 milhões de portugueses tomam vitaminas ou outros suplementos alimentares ao longo do ano, número que tem tendência para aumentar, isto segundo o estudo TGI, publicado pela Marktest, em 2021. Porquê? Poderíamos dizer que a covid-19 terá tido alguma influência ou que os consumidores estão mais informados, que existe uma maior preocupação não só em cuidar do organismo, mas também da qualidade da pele.
Ou talvez seja o facto de os corredores das farmácias, ervanárias e outros espaços onde podemos encontrar suplementos de beleza começarem a assemelhar-se a lojas de doces.
Aqui, gomas coloridas, comprimidos em tons pastel e ampolas néon fazem promessas e garantem aumentar a energia, a concentração, melhorar a luminosidade da pele, ajudar-nos a adormecer e muito mais.
Mas será que uma goma ou uma cápsula consegue, de facto, fazer isso tudo? Talvez, mas existem diferentes fatores a ter em conta, principalmente as condições de saúde individuais de cada pessoa.
Suplementos de beleza: de dentro para fora
Os suplementos alimentares não são novidade no universo da beleza. Aliás, há muito que os multivitamínicos tradicionais são tomados como complemento de uma dieta específica, funcionando como um apoio nas fases da vida em que temos alguma carência de nutrientes e vitaminas.
Contudo, todos os dias surgem novas fórmulas com um conceito do tipo “sinta-se mais bonita, sinta-se melhor” que
dizem atuar na pele, cabelo, corpo e até unhas.
Fale com um profissional de saúde antes de começar a tomar um suplemento
Apesar de parecem diferentes dos suplementos tradicionais, estes produtos foram criados para funcionar da mesma forma: preenchendo as lacunas nutricionais e atuando como uma ajuda extra. Ou seja, também gerem o cansaço, a ansiedade e o stresse – conhecidos por esgotarem os níveis de nutrientes do organismo e afetarem a nossa disposição e energia.
Por exemplo, uma deficiência de vitamina B6 pode resultar em fadiga, dificuldade de concentração ou má-disposição. Como tal, esta nova geração de suplementos é composta por ingredientes já clinicamente estudados, como minerais, aminoácidos, enzimas, mas também algumas plantas medicinais.
Basta pensar na ashwagandha, ou ginseng indiano, que provou ser capaz de reduzir os níveis de cortisol e melhorar a qualidade do sono; ou o hipericão, também conhecido por erva-de-são-joão, que reduz a ansiedade e depressão, aumentando os níveis de serotonina no cérebro.
Beleza encapsulada
Não há dúvida de que uma pele luminosa ‘nasce’ de dentro para fora e, apesar de um estilo de vida equilibrado e uma alimentação saudável contribuírem muito para que isso aconteça, existem cada vez mais adeptas dos suplementos de beleza.
Isto porque, quando as horas de sono são poucas, o stresse é elevado e as refeições pobres em nutrientes e vitaminas, é mais fácil fazer batota. Dentro dos ingredientes mais utilizados, o colagénio é provavelmente o mais conhecido e, ainda que a maioria das marcas o considere a fonte da juventude, não existem estudos suficientes que o comprovem.
Já a biotina, também conhecida como vitamina B7, pode ser encontrada na maioria dos suplementos para o cabelo e unhas, mas os seus benefícios só são sentidos por quem tem carência desta vitamina.
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Além destes, pode ainda encontrar gomas com antioxidantes para proteger a pele dos radicais livres, ampolas com vitamina E para combater a luz azul emitida pelos aparelhos eletrónicos, cápsulas que potenciam o bronzeado, entre tantos outros.
Mas, por muito que celebridades ou influencers façam promessas de amor eterno sobre a eficácia destes suplementos, são precisos mais estudos para que os consumidores estejam informados e tomem as suas próprias decisões.
Investigar a fundo
Na verdade, o problema destes suplementos de venda livre não é a eficácia dos ingredientes, mas qual a quantidade presente nas suas fórmulas.
Apesar de as marcas serem obrigadas a declarar os ingredientes e respetiva quantidade, um estudo publicado em 2017 no The American Journal of Clinical Nutrition revelou que muitos dos suplementos contêm uma maior quantidade de ingredientes ativos do que o que referem, excedendo a dose recomendada e podendo ter algumas consequências negativas para o corpo.
Por exemplo, os suplementos de hipericão, se forem tomados em conjunto com antidepressivos, podem levar à toxicidade da serotonina. O mesmo acontece com a melatonina que, quando tomada em doses elevadas, pode
anular o efeito de alguns antidepressivos.
Aliás, alguns países europeus, como a Dinamarca ou a República Chéquia, proibiram a venda de melatonina em suplementos, estando apenas disponível com receita médica.
Na verdade, quando refletimos sobre o assunto, é bastante lógico: se não podemos comprar estrogénio ou testosterona em qualquer balcão de beleza, uma vez que é perigoso, por que razão é que podemos comprar os restantes ingredientes ativos?
Claro que existem exceções à regra, mas o melhor é aconselhar-se com o seu médico antes de começar a adicionar uma colher com suplemento em pó ao seu café matinal.
Esta é ainda uma zona cinzenta da saúde, com pouca regulação e é preciso ter em conta que os suplementos não são poções mágicas que vão curar todos os seus problemas; são aliados em situações temporárias.
A verdade é que a solução para uma pele mais bonita, unhas mais fortes ou um cabelo saudável passa por alterar o estilo de vida, a alimentação e gerir expectativas. Os resultados podem não ser imediatos, mas vão manter-se a longo prazo.
Cuidados a ter
- Procure aconselhamento médico antes de tomar um suplemento;
- Alguns ingredientes podem reduzir ou anular o efeito da medicação;
- Escolha produtos com estudos que comprovem a sua eficácia;
- Nenhum organismo é igual, logo o que resultou com a sua amiga pode não resultar consigo;
- Não tome doses excessivas e siga sempre as instruções das embalagens.