Já estamos a assistir à fusão entre o mundo real e virtual e a tendência é crescente. Em 2022, os contracetivos digitais prometem ser uma realidade e a revolução alimentar continua a surpreender, assim como será possível o pagamento com bitcoins (sim, leu bem) em restaurantes.
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Tendências de lifestyle e bem-estar para 2022
Jogos e reuniões virtuais no metaverso
As redes sociais têm ganho cada vez mais peso, mas ainda assim têm estado, até agora, limitadas aos ecrãs do telefone ou do PC para onde passamos cada vez mais tempo a olhar. No futuro, que já está no hall de entrada a tirar o casaco, o mundo real e virtual irão misturar-se muito mais.
O entretenimento e as redes sociais vão à frente desta tendência, com o Facebook (agora renomeado Meta) a desenvolver o chamado metaverso, em que os utilizadores podem ter representações virtuais do seu corpo no Facebook Horizon e participar em jogos de realidade virtual ou entrar em chat rooms para conversar com outras pessoas usando óculos de realidade virtual (o potencial para aplicações tipo Tinder é enorme).
À medida que forem sendo criadas versões digitais de cada vez mais objetos, todos esses elementos poderão ser transpostos para os meios virtuais.
O mesmo casaco tanto pode ser usado na rua como numa plataforma digital. Funcionalidade no que toca a proteger do frio? Zero. Relevância disso nos jogos virtuais ou nas redes sociais? Zero. Quem gastava dinheiro no jogo The Sims que o diga. E as marcas sabem disso, pelo que já estão a fabricar coleções de roupa e maquilhagem virtuais. E vendem.
Profissionalmente, esta funcionalidade significa que poderemos reunir virtualmente não nos ecrãs dos computadores, mas em versão holograma, como a princesa Leya na Guerra das Estrelas (“Help me, Obiwan Kenobi!”) e, por isso, dizer adeus às reuniões de trabalho por Zoom em calças de pijama.
Num cenário mais perturbador, a nossa entrada na realidade virtual significa que os anunciantes também poderão aceder a dados como a nossa linguagem corporal e ver como reagimos em diferentes cenários, ou produtos, em tempo real, dados muito valiosos para as marcas.
Contracetivos digitais para a mulher real
O modus operandi do Homo digitalis emergente são as aplicações dos smartphones, claro. Há apps para comer, orar e amar. E para não engravidar também.
As aplicações para calcular o período fértil não são novas, mas uma delas, a Clue, está em vias de receber autorização da Agência Norte-Americana do Medicamento para comercializar um método contracetivo digital para todas as mulheres entre os 18 e os 45 anos com períodos regulares.
O sexo não tem de ser virtual, nem é preciso medir a temperatura diariamente ou avaliar o muco, dizem os fabricantes, basta inserir na app a data de início do período. Em vez de disponibilizar uma janela de fertilidade genérica, como até agora, o novo algoritmo, baseado no modelo matemático de Bayes, fornece uma janela de risco e de segurança para ter relações sexuais, cálculo que se vai tornando mais preciso a cada introdução de dados.
A eficácia está estimada em 92% com um uso considerado ‘típico’ (a pílula tem 93% e o preservativo 87%) e em 97% com um uso ‘perfeito’ (a pílula tem 99% e o preservativo 98%). Nada mau.
Todos os cidadãos poderão ter o estudo do seu genoma e outros dados clínicos inseridos em sistemas informáticos
Para onde vai o nosso genoma?
Mas há inovações que merecem reservas por parte de alguns especialistas. O estudo sistematizado do genoma humano começou em 1990, mas atualmente há projetos para a pesquisa coletiva dos genomas de populações inteiras.
Problema: se a pesquisa inicial era subsidiada por governos, atualmente são as farmacêuticas e biotecnológicas as principais interessadas em controlar a empreitada.
O presidente executivo do Fórum Económico Mundial, Klaus Schwab, considera que esta inovação põe o mundo à beira da Quarta Revolução Industrial e traça um cenário no qual todos os cidadãos poderão ter o estudo do seu genoma e outros dados clínicos inseridos em sistemas informáticos.
Na era da bioinformática, em caso de doença, em vez de consultar o médico, iremos interagir, através do telemóvel ou computador, com um sistema que faz o diagnóstico e dá a terapêutica, com a interpretação dos nossos dados feita por algoritmos. Estes e outros perigos, como o do uso dos nossos dados para fins menos nobres estão à vista, avisa Schwab.
Em 2018, também Portugal assinou uma declaração que autoriza a circulação e utilização de dados genómicos de portugueses para se fazer a sequenciação completa de um milhão de genomas europeus até 2022, sabia? Nós avisámos que o futuro era capaz de aparecer sem avisar para o almoço…
O mundo digital mudou a forma como olhamos para a comida, como esta nos chega a casa e até como procuramos receitas e restaurantes
Carne que não é carne e restaurantes que aceitam bitcoins
Numa nota mais leve, literalmente, os gases com efeito de estufa e outros problemas ambientais associados à produção pecuária intensiva têm motivado inovações no sentido de produzir substitutos da carne que possam convencer os seus apreciadores.
Uma das mais recentes é o filet mignon vegan da Juicy Marbles divulgado no último Web Summit, em Lisboa. Produzido à base de plantas, procura replicar a distribuição de gordura da carne de forma a aproximar a sua textura do verdadeiro filet mignon.
A tendência é para que apareçam cada vez mais alternativas do género. Se ainda não se sentir suficientemente bem no futuro a comer bife que não é bife, pode ir jantar ao restaurante La Paparrucha, em Lisboa, comer carne que é carne e pagar com criptomoedas como a Bitcoin, Ethereum, Dogecoin ou Litecoin.
Apesar do futuro desta moeda virtual ser incerto, há cada vez mais empresas a aceitar esta forma de pagamento. O restaurante japonês Ajitama, a Domus Ópticas, a clínica dentária Vip Sorriso ou a sociedade Filipa Correia Villas Advogados, também em Lisboa, são exemplos de locais recetivos a criptos na capital, mas pode consultar a lista nacional em Coinmap.org.
Comida digital
A indústria alimentar tem sofrido grandes alterações nas últimas décadas devido ao desenvolvimento da tecnologia, que mudou a forma de produzir alimentos, de cozinhar e até de comprar alimentos. O mundo digital mudou a forma como olhamos para a comida, como esta nos chega a casa e até como procuramos receitas e restaurantes.
• Redes sociais
Fotografar um prato para pôr nas redes sociais passou a ser regra, apostando-se, assim, na criação de filtros próprios para a comida e de cenários dignos das fotos, o que fez com que alguns restaurantes passassem a criar áreas para serem instagramáveis e a iluminar os espaços de forma a que as fotos ficassem com a melhor luz possível.
• Plataformas de entregas de comida
É ponto assente que já não é preciso sair de casa para experimentar os mais variados restaurantes, desde fast-food aos de chefs de renome, a tendência nasceu antes da pandemia, mas esta aumentou-a significativamente.
Através das aplicações de entregas, como o Uber Eats, ou de serviços próprios de entregas, os restaurantes adaptaram a sua oferta a esta tendência. A diversidade de escolhas, já que os menus disponíveis pertencem a restaurantes diferentes, a comodidade de todo o processo feito através do smartphone e as várias promoções têm chamado clientes.
Uma das últimas novidades nesta área é a chegada a Portugal da Rocket, uma plataforma de entrega de refeições com entregas gratuitas.
• Dark kitchens
Antes da pandemia, era um conceito ainda pouco explorado em Portugal, mas houve restaurantes que apostaram nas cozinhas virtuais para continuarem o seu negócio durante os confinamentos e alargarem as áreas cobertas pelas aplicações de entrega.
Houve ainda conceitos que abriram apenas desta forma, porque os empreendedores viram aqui uma oportunidade de negócio com custos reduzidos em relação a um restaurante com sala.
As dark kitchens funcionam através de serviços de entrega próprios ou das plataformas e de take away. Los Manolos foi uma das últimas cozinhas virtuais a abrir em Lisboa, no Príncipe Real. O conceito é de comida de rua e a ementa tem, entre outros pratos, a cuban sandwich e o lobster roll.
O digital a transformar a saúde
• 5G nos hospitais
A tecnologia 5G promete revolucionar a saúde com o objetivo de melhorar diagnósticos, tratamentos e a segurança dos mesmos. Esta tecnologia vai ser usada para o desenvolvimento de cuidados de saúde remotos, que já está a ser praticada, mas que sofrerá uma grande melhoria com o uso da realidade virtual e de sensores.
Não será errado dizer que o 5G vai levar o hospital até casa dos doentes, permitindo não só a monotorização de doenças crónicas e os internamentos domiciliários, mas também uma aposta na prevenção de problemas de saúde.
O uso do 5G possibilitará ainda a orientação de procedimentos por parte de médicos que não estão fisicamente presentes e será usada para agilizar a formação e o treino dos profissionais de saúde e dos alunos de Medicina, tudo isto através de aplicações de realidade virtual e de realidade aumentada.
Em Portugal, a primeira unidade de saúde 5G será o Hospital da Luz, em Lisboa, numa parceria com a NOS.
• Realidade virtual para tratar fobias
E, se em vez de imaginar as situações que provocam fobias, os doentes pudessem mesmo vê-las? É isto que acontece quando se usa a realidade virtual para tratar esse problema do foro psicológico.
Os doentes são confrontados com uma representação digital da fobia que têm (andar de avião, alturas, estar fechado ou estar perante uma plateia, só para dar alguns exemplos) através dos óculos de realidade virtual.
O Centro Cérebro, em Braga, já usa este tipo de tratamentos com excelentes resultados desde 2015, e as sessões podem ser feitas presencialmente ou à distância. A realidade virtual também tem sido usada com sucesso para tratar problemas de ansiedade, stresse pós-traumático, dependência de álcool e de estupefacientes.
• Fisioterapia digital
Também a fisioterapia pode ser feita no conforto do seu lar. Uma start-up portuguesa, a Sword Health, fundada em 2015, desenvolveu uma plataforma digital que combina inteligência artificial, sensores e equipas de fisioterapeutas para tratar doenças músculo-esqueléticas.
A Sword Health está presente em vários países, sendo os principais os Estados Unidos da América, Portugal e Austrália, e o seu mercado cresceu exponencialmente durante a pandemia.
• Hospitalização domiciliária
Os internamentos em casa já são possíveis, permitindo a libertação de camas dos hospitais. Um dos exemplos em Portugal resultou da parceria entre a Lean Health Portugal, a Vodafone, a Think Digital e o Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Os doentes levam consigo um kit de hospitalização domiciliária que permite que no hospital se consiga monitorizar e avaliar a recuperação do mesmo. O kit é composto por um tablet com uma ‘enfermeira virtual’ que orienta os doentes no uso de equipamentos como a balança, esfigmomanómetro, glicómetro, termómetro, oxímetro e botão de pânico.