Auriculoterapia: saiba em que consiste este método para deixar de fumar
No Dia Mundial Sem Tabaco, 31 de maio, voltamos a falar de auriculoterapia, um método que, quando aplicado a um fumador, promete resultados em 15 minutos. Será eficaz? Esta foi a nossa experiência.
Deixar de fumar é um desafio enorme para quem, durante anos e anos, se tornou refém do tabaco. Há quem culpe a rotina por isso, outros o stresse ou as interações sociais, no caso de quem tem mais dificuldade em deixar de fumar em contextos sociais, por exemplo. Pois bem, saiba que a auriculoterapia pode ajudá-la a travar esse vício.
Antes de entender exatamente em que consiste, é importante reforçar que o ponto de partida para uma terapia bem-sucedida é, sem dúvida, a vontade da própria pessoa em deixar de fumar, pois sem força de vontade os resultados podem ser comprometidos. Mas vamos por partes.
Em que consiste a auriculoterapia?
Tal como o próprio nome dá a entender, é uma terapia que consiste em choques na orelha (do latim, auricula). É um tipo de tratamento que estimula as áreas do cérebro responsáveis pela ansiedade, pelo stresse e pela irritabilidade, as mesmas que alimentam o desejo de fumar.
Desenvolvida por Paul Nogier nos anos 80, recorre à eletroestimulação auricular, atuando no Sistema Nervoso Central de forma a reequilibrar a energia necessária para o bom funcionamento do corpo.
Reconhecida pela OMS como uma terapia alternativa complementar, a auriculoterapia tem base na Medicina Tradicional Chinesa e pode ser utilizada para tratar dores, contraturas ou distensões musculares, problemas reumáticos, respiratórios, digestivos ou hormonais, e ainda a ansiedade ou depressão.
Aqui, falamos-lhe desta terapia quando utilizada como um recurso para quem procura deixar o vício do tabaco.
Como se processa o método Viver Sem Fumo?
O método Viver Sem Fumo baseia-se nesta terapêutica. Em apenas 15 minutos, promete deixar uma sensação de bem-estar, serenidade e provocar uma certa estranheza ao sabor e cheiro do tabaco. Porquê? Porque tem um efeito desintoxicante.
“Como será possível querer-se alcançar determinados objetivos estéticos, se a toxicidade dos compostos do tabaco compromete grandemente a qualidade da pele?”, questionou-se a fundadora do método. Partindo deste reconhecimento, Cristiana Machado decidiu aplicar os conhecimentos adquiridos na supressão e inibição da dependência tabágica de forma a fazer aquilo que considera uma “limpeza de dentro para fora”.
Durante o tratamento estimulam-se pontos específicos que correspondem às áreas do cérebro responsáveis pela vontade de fumar, assim como pela ansiedade, stresse e irritabilidade. Ao ativar estes pontos, são libertados vários neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que aumentam a sensação de bem-estar e que modulam o sistema endócrino.
Assim, finalizado o procedimento, os músculos relaxam e o stresse diminui, despoletando um processo de desintoxicação e de bem-estar.
Para além dos fumadores que procuram um estilo de vida mais saudável, este método pode também ser aplicado a quem deseja simplesmente trazer alguma tranquilidade e calma à sua vida.
Um choque na orelha depois
A convite da Viver Sem Fumo, a Saber Viver foi experimentar o método de que tanto se fala. Saiba como correu.
Cristiana Machado, formada em Auriculopunctura na Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa – CHINARTE e mentora deste método de auriculoterapia, recebeu-nos na sua clínica em Lisboa.
Nesta que foi a primeira conversa, falámos sobre como funciona o método e, principalmente, sobre os hábitos de consumo de tabaco, aquilo que em termos técnicos a especialista denominou como smoking triggers, isto é, os gatilhos que desencadeiam o ato de fumar.
No meu caso, apercebi-me que fumar é um hábito que mantenho principalmente em contextos sociais, mais do que propriamente pela adição à nicotina. Automaticamente pensei que deixar de fumar seria relativamente simples. Contudo, refletindo melhor sobre o assunto, percebi que estava enganada, pois não podia simplesmente abdicar da minha vida social para que esse gatilho não fosse ativado.
A solução passaria então por aprender a desassociar o cigarro a determinados contextos, ambientes e situações, seja a uma saída à noite com amigos, uma festa ou como ocupação em momentos de tédio, por exemplo quando estou à espera de um autocarro.
Ao longo da sessão, Cristiana foi dando dicas sobre como lidar com os smoking triggers que me foram identificados e nas circunstâncias em que poderiam surgir. Claro que, da teoria à prática vai uma enorme força de vontade.
Tal como explicou a especialista, “há que entender quais são os hábitos comportamentais, as rotinas e o nível de dependência de cada um. Tão importante como o tratamento é o comportamento que se adota após a realização do mesmo, e que haja um bom planeamento desse processo”.
Assim, após esta análise completa, profunda e detalhada, passámos então para o tratamento em si: os choques. Para além dos pontos específicos da orelha, são dados choques também no nariz (de forma a interferir com o cheiro do tabaco) e no pulso.
Mas como se processa ao certo? “Identificam-se os pontos associados às regiões do córtex cerebral que se pretendem atingir. Só depois é que nesses pontos são aplicados pequenos eletroestímulos, que irão saturar alguns neurotransmissores e, consequentemente, reeducar o cérebro para a desabituação tabágica”, explica Cristiana Machado.
Todo o processo é bastante rápido e praticamente indolor, sente-se apenas uma pequena pontada.
Após ter recebido os choques, fui avisada que poderia sentir um sabor intenso na língua e que isso seria a nicotina a sair do meu corpo. Senti, de facto, um sabor metálico na boca, mas durou apenas alguns minutos.
Terminada a consulta, antes de sair do consultório foi-me dada ainda a suplementação RenewBreath. Uns comprimidos à base de compostos 100% naturais que ajudam na supressão dos desejos e sintomas da privação de nicotina e na desintoxicação do corpo.
No primeiro contacto com o tabaco após esta experiência, isto é, com fumadores à minha volta, o cheiro não me incomodou de todo. Contudo, após a primeira recaída (sim, aconteceu cerca de três semanas após o tratamento), senti o sabor do tabaco na boca como se fosse a primeira vez que estivesse a fumar. Foi desagradável e nada prazeroso. Ou seja, o contrário do que é suposto ser para um fumador.
Voltei à clínica para uma sessão de reforço e, desde então, ainda não voltei a ceder à tentação. Um dia de cada vez.
De acordo com Cristiana Machado, o método Viver Sem Fumo tem uma taxa de sucesso de 92%.