Crónica. Os benefícios de uma prática de yoga consistente
Será que a falta de consistência dos treinos está a ter um efeito contrário ao desejado? O professor de yoga e cronista da Saber Viver, Jean-Pierre de Oliveira, tem a resposta.
Quando se gosta de yoga aproveitamos todas as oportunidades para o praticar, seja em aulas abertas ou experimentais, em eventos relacionados, ou a praticar com vários professores e experimentar estilos diferentes.
O que nos mantém motivados é o facto de sabermos que nos esforçamos e que iremos sentir benefícios no corpo e na mente, mas quando olhamos de uma forma crítica para os resultados obtidos, por vezes a prática não se desenvolveu como planeámos e parece que não sabemos qual o melhor caminho a seguir, mesmo que nunca nos tenhamos esforçado tanto para conseguir resultados.
É aqui que começam as dúvidas. Será que a falta de consistência dos treinos está a ter um efeito contrário ao desejado?
É no momento em que olhamos para a falta de resultados que nos comprometemos então a dar consistência à prática de yoga e decidimos avançar sozinhos, em casa.
Todos começamos fortes e seguros, com uma vontade inabalável de cumprir com o prometido, mas esta promessa muitas vezes passa para segundo plano quando pressionados pelos imprevistos da vida, do dia a dia. Obrigações familiares, trabalho extra, tarefas de casa, amigos que precisam de um ombro amigo… tudo é mais importante do que o compromisso que fizemos connosco.
Dicas para uma prática de yoga consistente
First things first!
Aceitar que não somos nem temos de ser perfeitos é essencial. Tente não se fustigar cada vez que falha o seu compromisso por ter tido um dia menos bom.
Não tem obrigatoriamente de praticar “x” vezes por semana para ser um yogi. E também não o faça sobre pressão, nem apenas porque tem de o fazer e, por último, não se avalie pela aparente qualidade da sua prática se o seu asana não se parecer com o que viu no Instagram….
Ser egoísta
Sim, parece mesmo anti-yogi, mas vamos pensar da seguinte forma: quando tratamos bem de nós, acabamos por ter mais disposição para os outros, para sermos uma melhor amiga, uma melhor mãe, irmã ou até chefe.
Por vezes, temos que dizer “não” aos outros para dizermos “sim” a nós próprios, para termos tempo para sermos a melhor versão que conseguirmos de nós.
Ser flexível
Aqui, não estou a falar do corpo. Se gostaria de uma prática mais dura para domar o seu lado mais mental, mas se o seu corpo lhe pede algo mais suave e gentil, então seja flexível.
É melhor fazer uma prática de yoga mais suave e sentir-se realizada do que a sensação que falhou face a um compromisso que tinha idealizado.
Criar pontos de referência
Praticar com regularidade um estilo de yoga definido e uma sequência de posturas específica pode ser um bom método para criar consistência.
Escolher um lugar certo onde praticar, um professor que lhe dê inspiração e comprometer-se com o mesmo, ajudará sem dúvida a criar esta consistência necessária à sua prática, para sentir os seus benefícios, podendo assim notar as diferenças e avaliar seriamente os seus progressos.
Praticar com foco, com coerência e de forma disciplinada pode ser uma grande descoberta no caminho do entendimento daquilo que é, realmente, o yoga.
Alguns benefícios de uma prática disciplinada
• Gerir a força de vontade
Saber que podemos escolher entre várias possibilidades (estúdios, professores) e que podemos decidir ir ou não ir as vezes que quisermos pode tornar-se contraproducente, ao remeter sempre para amanhã o que sabe que queria fazer hoje.
Reduzir o leque de possibilidades, escolher dias certos e horários fixos permite criar rotinas bem oleadas, necessárias para aqueles dias em que nos falta a força de vontade e determinação de escolher para onde e quando ir.
A decisão de definir uma única possibilidade é um ganho de tempo na obtenção de resultados.
• Do tapete para a sua vida
Com um estilo de prática certo, poderá revisitar as mesmas posturas com mais frequência, dando-lhe também a possibilidade de progredir nelas.
Com um yoga aleatório, a falta de coesão entre práticas não permitirá avaliar e tirar conclusões quanto à sua evolução.
• Desenvolver resiliência
O facto de regressar, resiliente e com frequência ao ponto de partida (as posturas que decidiu trabalhar), e através da repetição de posturas semelhantes, está também a criar referências para qualquer outro assunto relacionado com a sua vida. Passa assim a dispor de uma técnica de medição para avaliar o que funciona ou não funciona.
Terá o yoga como referência para definir as suas mudanças do quotidiano e, assim, a sua prática irá tornar-se mais do que apenas movimentar o corpo e fazer exercício mas também uma tentativa de conexão com algo maior; será a âncora para tirar mais proveito do melhor que a vida lhe pode apresentar e, com o tempo, tornar-se-a na melhor versão possível de si mesma.
A minha dica: experimente praticar as mesmas posturas, no mesmo lugar, à mesma hora num dia certo da semana, e verá como uma prática consistente lhe pode trazer mais benefícios.
Claro que existem centenas de posturas no yoga, mas para poder considerar o seu progresso, deverá insistir na repetição das mesmas antes de se estrear em posturas mais complexas.
Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.