O mundo de hoje pula e avança numa vertigem tão acelerada que só metáforas quânticas podem alcançar. O trabalho é um dos territórios desta revolução motivada pelos avanços tecnológicos.
Na edição mais recente do relatório Future of Jobs, elaborado pelo Fórum Económico Mundial (FEM), fica claro que as alterações em curso são de tal ordem que, daqui a umas décadas, a forma como trabalhamos hoje talvez pareça tão ultrapassada como a Idade Média.
Desde logo, o nosso emprego pode ser um dos cerca de 83 milhões que vão desaparecer até 2027, devido à automação crescente, sobretudo se for um trabalho administrativo ou de manutenção de registos.
E é quase certo que os nossos filhos podem vir a ocupar um dos 69 milhões de novos empregos para os quais ainda nem temos nome.
No saldo final, há 14 milhões de postos de trabalho que desaparecem para sempre, estima o relatório.
14 postos de trabalho irão desaparecer até 2027, graças à revolução tecnológica e transição energética em curso.
Neste novo mundo, fica claro que as plataformas digitais, o e-commerce, a análise de grandes dados (big data), a computação em nuvem (cloud computing) e a Inteligência Artificial (AI) são tecnologias que a maior parte das empresas tenciona adotar nos próximos cinco anos.
Trabalhos associados à área da sustentabilidade ambiental, encriptação de dados e cibersegurança são outras áreas em crescimento acelerado.
Neste cenário, desenvolver novas competências é urgente.
“Na Europa, só 50 por cento da população tem capacidades digitais básicas. Sabemos quais as profissões que vamos perder, sabemos que profissões vamos precisar… Temos de fazer com que isto resulte. E não é para 2050, é para hoje“, afirmou a CEO da SONAE, Cláudia Azevedo, durante a conferência What Next for Jobs?, do FEM.
Competências que deve desenvolver
Conheça o top 7 das capacidades a desenvolver segundo o relatório já citado.
1. Pensamento analítico e capacidade de resolução de problemas
A capacidade de analisar informações, avaliar situações e tomar decisões informadas é uma das competências chave mais valorizadas atualmente.
David Deming, professor de Economia em Harvard, é um dos pensadores que tem reforçado a sua importância, argumentando que à medida que automação e a inteligência artificial avançam, muitas tarefas rotineiras e técnicas podem ser automatizadas.
Isto levará a uma maior valorização das capacidades não técnicas – ou mais humanas – por parte dos empregadores, como analisar informações, avaliar argumentos, resolver problemas complexos e tomar decisões informadas de forma lógica e objetiva.
2. Criatividade e inovação
Pensar de forma criativa, gerar ideias originais e desenvolver soluções inovadoras para desafios e problemas é a segunda habilidade mais valorizada pelas empresas, juntamente com o pensamento crítico.
A pesquisadora e professora de Gestão da Harvard Business School, Amy Edmondson, destaca-a como essencial no mundo laboral do nosso tempo.
3. Literacia digital
Não há volta a dar. Teremos todos de desenvolver literacia digital para nos adaptarmos ao uso crescente das tecnologias digitais.
Habilidades básicas em computação, uso de dispositivos móveis, navegação na web e segurança cibernética serão essenciais para ter sucesso profissional num ambiente cada vez mais digitalizado, destaca o FEM.
Neelie Kroes, ex-comissária europeia responsável pela agenda digital, também já referiu que, no futuro, a literacia digital será tão importante como ler e escrever para todos os tipos de trabalho
4. Conhecimentos básicos de inteligência artificial e análise de dados
Segundo o FEM, é esperado que a inteligência artificial, um dos principais impulsionadores da substituição de tarefas realizadas por humanos, seja adotada por quase 75 por cento das empresas inquiridas e leve a uma alta rotatividade.
Neste cenário, um dos pontos altos da literacia digital é entender os princípios básicos da inteligência artificial, nomeadamente, aprender a analisar dados e ter conhecimento de como a IA pode ser aplicada em diferentes setores.
5. Aprendizagem contínua
Por motivos óbvios, a aprendizagem será uma constante ao longo da vida profissional do futuro, mas a responsabilidade não está só do lado das empresas.
“Existe uma ideia antiga sobre educação que está a deixar de fazer sentido. A de que é preciso ir aprender numa sala de aula”, afirmou a líder da SONAE, Cláudia Azevedo, apresentação do relatório Future of Jobs.
A capacidade de aprender de forma autónoma, procurar novas informações, estar a par das atualizações tecnológicas e manter a literacia digital será cada vez mais uma competência essencial.
6. Resiliência
A capacidade de se adaptar rapidamente a novas circunstâncias e de lidar com a ambiguidade e incerteza é essencial num mundo com mudanças tão rápidas. Segundo a American Psychological Association, são quatro os componentes da resiliência que devemos cultivar:
• conexão – ter relacionamentos saudáveis e de apoio com pessoas significativas;
• bem-estar – ter um estilo de vida com estratégias positivas para lidar com desafios;
• pensamento positivo – manter uma perspetiva equilibrada e uma atitude de crescimento;
• significado – ter uma compreensão clara dos nossos valores e propósitos.
7. Inteligência emocional
Capacidade de compreender e gerir as próprias emoções e as emoções dos outros, desenvolvendo empatia, habilidades de comunicação, como escuta ativa, e capacidade de liderança são as competências sociais que as empresas vão querer assegurar nos seus colaboradores.
No livro Inteligência Emocional 2.0 (Marcador), os autores Jean Greaves e Travis Bradberry aprofundam este tema, sugerindo um desdobramento desde conceito em quatro:
• autoconsciência – reconhecer e compreender as próprias emoções;
• autogestão – gerir as emoções e lidar com o stresse;
• consciência social – compreender as emoções dos outros e ter empatia
• gestão de relações – ter relacionamentos saudáveis e produtivos.
Empregos do futuro
Estes são alguns dos trabalhos mais cobiçados nos próximos anos, segundo o relatório The Future of Jobs:
• Especialistas em Inteligência Artificial;
• Especialistas em sustentabilidade;
• Analistas de estratégia empresarial (Business Intelligence Analysts);
• Analistas de informação e segurança (Information Security Analysts);
• Engenheiros de energias renováveis;
• Engenheiros de sistemas de energia solar;
• Comércio digital;
• Operadores de equipamento agrícola;
• Professores universitários;
• Especialistas em estratégia e marketing digital.