São conhecidos como sugadores de wi-fi de cafés e têm uma vida desejada por muitos, donos do seu horário e sem morada fixa. Quem são? São nómadas digitais e andam com o emprego na mochila.
Mas como se contraria o típico trabalho das nove às cinco? Será fácil?
O que é um nómada digital?
É um ‘filho’ da tecnologia, mais propriamente, da Internet, que permite a possibilidade de trabalhar remotamente para uma empresa em qualquer lugar do mundo. Gostam sobretudo de viajar e têm tudo menos uma vida de turista. Procuram viver como os locais das cidades e fazem o seu próprio horário.
Se fazem trabalho remoto, então, qual é a diferença entre um freelancer e um nómada? Krystel Leal, nómada e fundadora do projeto Nomadismo Digital Portugal, diz-nos que “um freelancer nem sempre é um nómada, mas na maioria dos casos, um nómada é um freelancer. Existem muitos freelancers que estão alocados a um único projeto e que vão para o escritório da empresa, das nove às cinco da tarde.”
O que é preciso para se tornar numa nómada?
A primeira atitude é tentar perceber o porquê de querer trabalhar remotamente. Será para ter mais tempo em família? Para conseguir mais dinheiro? Ou para mudar de cidade?
Depois de ter esta ideia definida, tem várias hipóteses: construir uma atividade por conta própria que lhe permita trabalhar a partir de casa, criar um projeto, ou tentar encontrar uma empresa que contrate um trabalhador, de forma remota, a full-time.
“Há muitas pessoas que me dizem ‘tenho uma profissão que não dá para ser nómada digital’. A meu ver, a maioria das áreas profissionais dão para trabalhar de forma remota.” O truque, diz-nos Krystel, é aproveitar e aplicar os nossos conhecimentos num trabalho remoto, seja ele qual for.
Por exemplo, um enfermeiro não consegue cuidar de doentes à distância, no entanto, pode ajudar a desenvolver relatórios médicos, consultas iniciais ou fazer acompanhamento via Skype.
Também é verdade que as profissões que mais se adaptam a este meio são aquelas que surgiram com o digital, como um marketeer digital, um web designer ou um programador.
“Mais importante do que ter uma licenciatura, é possuir um lado humano, as chamadas soft skills”, aconselha Krystel. Neste sentido, o networking é uma componente muito importante para quem deseja trabalhar remotamente. “Aconselho sempre as pessoas a associarem-se a quem já trabalha de forma remota. Pode ser alguém que vos inspire, uma pessoa que encontraram no LinkedIn ou no Facebook e que desenvolve o trabalho que ambicionam ter.”
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Vantagens em ser nómada digital
• Possibilidade de construir a nossa felicidade profissional. Normalmente, a vida adapta-se ao trabalho. O nomadismo digital “permite-nos ter um emprego que se adapte à nossa vida e não ao contrário”, diz-nos Krystel;
• Flexibilidade de horários. Sem um horário fixo, temos a possibilidade de organizar o nosso tempo como quisermos. Mas atenção que pode não ser uma tarefa fácil;
• Possibilidade de viver em qualquer lugar do mundo. O lugar onde vivemos, provavelmente, foi escolhido consoante o nosso estilo de vida e objetivos. “No início da nossa profissão, se tivermos a receber pouco, podemos morar em sítios em que o custo de vida é mais barato”;
• Não ter um dress code. Muitas empresas exigem que o colaborador se apresente de uma certa maneira. Em casa ou num espaço de cowork não há imposições quanto à roupa;
• Sermos o nosso próprio chefe. Esta talvez seja uma das maiores vantagens. Se lhe apetecer fazer amanhã uma viagem, não precisa de pedir férias;
• Conhecer novos países. Trabalhar remotamente permite-nos fazer viagens com regularidade e não ser apenas um turista, mas viver num país como um “local”.
E as desvantagens?
• Exige muita organização e disciplina. “Estar no escritório às 9h é uma obrigatoriedade e nós sentimos que temos de fazê-lo. Quando temos o nosso próprio horário, pensamos ‘se eu não fizer agora, posso fazer mais tarde’.”
• Temos de aprender a ser produtivos;
• No início, o trabalho é redobrado. Krystel demorou algum tempo até alcançar a flexibilidade de horários desejada do trabalho remoto. “No início, tive de trabalhar muito, mais do que oito horas por dia. O online facilita muito a criação de trabalho, mas para fazê-lo de forma sustentável e durável no tempo, é necessário muito trabalho”;
• A solidão. Para a combater, Krystel aconselha os espaços de cowork ou a procurar pessoas, na nossa área de residência, que façam o mesmo do que nós.
A história de Krystel
Depois da escola secundária, Krystel Leal decidiu ir para Paris estudar comunicação. Arranjou um part-time para fazer face às despesas de uma das cidades mais caras da Europa e aos 20 anos, a sua vida resumia-se ao trabalho e à faculdade.
Na procura por outro estilo de vida reparou que, nos Estados Unidos da América, existiam pessoas que trabalhavam em marketing digital e em produção de conteúdos, de uma forma remota e adaptada ao estilo de vida que queriam. Eram nómadas digitais que realizavam o seu trabalho a partir de qualquer lugar do mundo.
Foi nesse momento, em 2015, que Krystel decidiu começar a construir a sua própria atividade profissional, que envolvia a escrita, o conteúdo de marca e a tecnologia. Aproveitava todos os tempos livres para aprender mais sobre essas áreas.
“Eu acho que a insatisfação profissional se pega, muito rapidamente, à insatisfação pessoal. Se não estamos contentes num trabalho que nos ocupa 8/9h por dia, como é que queremos chegar a casa e ser felizes?” – Krystel Leal, nómada digital
Depois de ter conseguido um leque de clientes regulares, decidiu entregar o seu apartamento em Paris e começar a viajar pela Europa, enquanto trabalhava remotamente. “Tentava pelo menos ficar duas semanas em cada cidade. Não gosto de ficar apenas alguns dias e sair.”
No entanto, um nómada digital não é obrigado a estar constantemente a viajar. “Moro na Califórnia, mas não viajo muito. Considero-me uma nómada porque não preciso de estar onde os meus clientes estão para poder realizar o meu trabalho”, explica.
Nomadismo Digital Portugal. “Um projecto com milhares de seguidores”
O objetivo inicial do Nomadismo Digital Portugal “era apenas a produção de conteúdo, onde explicasse às pessoas como construir o seu portefólio ou lançar o seu próprio negócio online. No entanto, o projeto começou a crescer rapidamente e acho que as pessoas insatisfeitas com o seu trabalho viam em mim uma inspiração.”
Recentemente, Krystel lançou a Academia Digital, uma plataforma com conteúdos técnicos, cursos, workshops e um fórum para discutir ideias. Por lá vai encontrar desde vídeos com um consultor financeiro, onde é explicado como criar um fundo de emergência, até cursos para organizar workshops presenciais.
Neste momento, já está disponível um curso de produtividade, com 24 aulas, onde é explicado como acabar com a frase ‘não tenho tempo’. “O que fiz foi tentar perceber o que era necessário para alguém começar a trabalhar remotamente e cheguei à conclusão de que é preciso ter tempo, mas também é preciso dinheiro e saber poupar.”