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Como se tornar numa nómada digital. Conheça as vantagens e os desafios

Nos últimos anos, o número de nómadas digitais tem vindo a crescer. O típico trabalho, das nove às cinco, está a deixar de ser uma realidade para muitas pessoas.

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Como se tornar num nómada digital
Vanessa Pina Santos
Escrito por
Mar. 14, 2019

São conhecidos como sugadores de wi-fi de cafés e têm uma vida desejada por muitos, donos do seu horário e sem morada fixa. Quem são? São nómadas digitais e andam com o emprego na mochila.

Mas como se contraria o típico trabalho das nove às cinco? Será fácil?

O que é um nómada digital?

É um ‘filho’ da tecnologia, mais propriamente, da Internet, que permite a possibilidade de trabalhar remotamente para uma empresa em qualquer lugar do mundo. Gostam sobretudo de viajar e têm tudo menos uma vida de turista. Procuram viver como os locais das cidades e fazem o seu próprio horário.

Se fazem trabalho remoto, então, qual é a diferença entre um freelancer e um nómada? Krystel Leal, nómada e fundadora do projeto Nomadismo Digital Portugal, diz-nos que “um freelancer nem sempre é um nómada, mas na maioria dos casos, um nómada é um freelancer. Existem muitos freelancers que estão alocados a um único projeto e que vão para o escritório da empresa, das nove às cinco da tarde.”

O que é preciso para se tornar numa nómada?

A primeira atitude é tentar perceber o porquê de querer trabalhar remotamente. Será para ter mais tempo em família? Para conseguir mais dinheiro? Ou para mudar de cidade?

Há muitas pessoas que me dizem ‘tenho uma profissão que não dá para ser nómada digital’. A meu ver, a maioria das áreas profissionais dão para trabalhar de forma remota – – Krystel Leal

Depois de ter esta ideia definida, tem várias hipóteses: construir uma atividade por conta própria que lhe permita trabalhar a partir de casa, criar um projeto, ou tentar encontrar uma empresa que contrate um trabalhador, de forma remota, a full-time.

“Há muitas pessoas que me dizem ‘tenho uma profissão que não dá para ser nómada digital’. A meu ver, a maioria das áreas profissionais dão para trabalhar de forma remota.” O truque, diz-nos Krystel, é aproveitar e aplicar os nossos conhecimentos num trabalho remoto, seja ele qual for.

Por exemplo, um enfermeiro não consegue cuidar de doentes à distância, no entanto, pode ajudar a desenvolver relatórios médicos, consultas iniciais ou fazer acompanhamento via Skype.

Também é verdade que as profissões que mais se adaptam a este meio são aquelas que surgiram com o digital, como um marketeer digital, um web designer ou um programador.

“Mais importante do que ter uma licenciatura, é possuir um lado humano, as chamadas soft skills”, aconselha Krystel. Neste sentido, o networking é uma componente muito importante para quem deseja trabalhar remotamente. “Aconselho sempre as pessoas a associarem-se a quem já trabalha de forma remota. Pode ser alguém que vos inspire, uma pessoa que encontraram no LinkedIn ou no Facebook e que desenvolve o trabalho que ambicionam ter.”

 

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Vantagens em ser nómada digital

•  Possibilidade de construir a nossa felicidade profissional. Normalmente, a vida adapta-se ao trabalho. O nomadismo digital “permite-nos ter um emprego que se adapte à nossa vida e não ao contrário”, diz-nos Krystel;

• Flexibilidade de horários. Sem um horário fixo, temos a possibilidade de organizar o nosso tempo como quisermos. Mas atenção que pode não ser uma tarefa fácil;

•  Possibilidade de viver em qualquer lugar do mundo.  O lugar onde vivemos, provavelmente, foi escolhido consoante o nosso estilo de vida e objetivos. “No início da nossa profissão, se tivermos a receber pouco, podemos morar em sítios em que o custo de vida é mais barato”;

•  Não ter um dress code. Muitas empresas exigem que o colaborador se apresente de uma certa maneira. Em casa ou num espaço de cowork não há imposições quanto à roupa;

•  Sermos o nosso próprio chefe. Esta talvez seja uma das maiores vantagens. Se lhe apetecer fazer amanhã uma viagem, não precisa de pedir férias;

•  Conhecer novos países. Trabalhar remotamente permite-nos fazer viagens com regularidade e não ser apenas um turista, mas viver num país como um “local”.

E as desvantagens?

Exige muita organização e disciplina. “Estar no escritório às 9h é uma obrigatoriedade e nós sentimos que temos de fazê-lo. Quando temos o nosso próprio horário, pensamos ‘se eu não fizer agora, posso fazer mais tarde’.”

• Temos de aprender a ser produtivos;

No início, o trabalho é redobrado. Krystel demorou algum tempo até alcançar a flexibilidade de horários desejada do trabalho remoto. “No início, tive de trabalhar muito, mais do que oito horas por dia. O online facilita muito a criação de trabalho, mas para fazê-lo de forma sustentável e durável no tempo, é necessário muito trabalho”;

A solidão. Para a combater, Krystel aconselha os espaços de cowork ou a procurar pessoas, na nossa área de residência, que façam o mesmo do que nós.

A história de Krystel

Depois da escola secundária, Krystel Leal decidiu ir para Paris estudar comunicação. Arranjou um part-time para fazer face às despesas de uma das cidades mais caras da Europa e aos 20 anos, a sua vida resumia-se ao trabalho e à faculdade.

Na procura por outro estilo de vida reparou que, nos Estados Unidos da América, existiam pessoas que trabalhavam em marketing digital e em produção de conteúdos, de uma forma remota e adaptada ao estilo de vida que queriam. Eram nómadas digitais que realizavam o seu trabalho a partir de qualquer lugar do mundo.

Foi nesse momento, em 2015, que Krystel decidiu começar a construir a sua própria atividade profissional, que envolvia a escrita, o conteúdo de marca e a tecnologia. Aproveitava todos os tempos livres para aprender mais sobre essas áreas.

 

 

 

“Eu acho que a insatisfação profissional se pega, muito rapidamente, à insatisfação pessoal. Se não estamos contentes num trabalho que nos ocupa 8/9h por dia, como é que queremos chegar a casa e ser felizes?” – Krystel Leal, nómada digital

Depois de ter conseguido um leque de clientes regulares, decidiu entregar o seu apartamento em Paris e começar a viajar pela Europa, enquanto trabalhava remotamente. “Tentava pelo menos ficar duas semanas em cada cidade. Não gosto de ficar apenas alguns dias e sair.”

No entanto, um nómada digital não é obrigado a estar constantemente a viajar. “Moro na Califórnia, mas não viajo muito. Considero-me uma nómada porque não preciso de estar onde os meus clientes estão para poder realizar o meu trabalho”, explica.

Nomadismo Digital Portugal. “Um projecto com milhares de seguidores”

O objetivo inicial do Nomadismo Digital Portugal “era apenas a produção de conteúdo, onde explicasse às pessoas como construir o seu portefólio ou lançar o seu próprio negócio online. No entanto, o projeto começou a crescer rapidamente e acho que as pessoas insatisfeitas com o seu trabalho viam em mim uma inspiração.”

Recentemente, Krystel lançou a Academia Digital, uma plataforma com conteúdos técnicos, cursos, workshops e um fórum para discutir ideias. Por lá vai encontrar desde vídeos com um consultor financeiro, onde é explicado como criar um fundo de emergência, até cursos para organizar workshops presenciais.

Neste momento, já está disponível um curso de produtividade, com 24 aulas, onde é explicado como acabar com a frase ‘não tenho tempo’. “O que fiz foi tentar perceber o que era necessário para alguém começar a trabalhar remotamente e cheguei à conclusão de que é preciso ter tempo, mas também é preciso dinheiro e saber poupar.”

 

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