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Crónica. Não chega ser-se bom profissional. É preciso ser-se boa pessoa

Crónica. Não chega ser-se bom profissional. É preciso ser-se boa pessoa

Passamos um terço das nossas vidas a trabalhar. Mude a forma como fala e como ouve o outro, seja este colega, chefe, cliente ou parceiro, e mudará a qualidade das suas relações. Será mais produtiva e, o mais importante, será mais feliz. No trabalho e na vida.

Por Nov. 15. 2020

Um terço do tempo de que dispomos é gasto a trabalhar e todos os dias relacionamo-nos com colegas, chefes, clientes e parceiros.

A qualidade destas relações interpessoais interfere com as nossas emoções e com os nossos níveis de motivação e de otimismo. Tem também impacto em variados marcadores fisiológicos como a pressão arterial, o ritmo cardíaco, a produção de cortisol, a chamada hormona do stresse.

Mexe até com a qualidade do sono. Tantas insónias e mal-estar generalizado que poderiam ser evitados se todos fossemos mais empáticos, na verdade, se fossemos melhores pessoas uns para os outros.

E por que razão é assim tão difícil conseguirmos atender às necessidades do outro e, quando somos nós que precisamos de algo, fazer pedidos de uma forma responsável e amável? Por quê isto de não estarmos disponíveis para nos conectarmos com o outro?

Ritmo de vida, cansaço, medo de perda de status, medo de perda do emprego, ânsia de poder, inseguranças várias, dificuldade em comunicar ou em relacionar-se, individualismo generalizado…

Às vezes, é por não querermos ver para além do nosso umbigo, absortas que estamos nos nossos problemas. Às vezes, é por não querermos olhar para nós, para o que sentimos, para as nossas frustrações e angústias, e torna-se mais fácil projetá-las em quem temos ali ao lado, à mão, todos os dias.

Outras vezes, nem é com intenção, mas sim com desatenção. Não se pensa na forma como se fala, e a linguagem é tão importante.

O talento faz-se de pessoas boas que também são boas pessoas
Sara Midões

A linguagem constrói realidades, para nós e para os outros. A forma como falamos cria universos que podem ser de abertura, de entreajuda, de empatia e alegria, como também o podem ser de desconfiança, de conflito, de tristeza, de abandono e isolamento.

As palavras têm um grande poder. Elevam ou afundam. Constroem ou destroem. Unem ou afastam. E a linguagem inclui também silêncios. Silêncios para poder ouvir, para compreender, para aprender.

O cuidado na fala e a qualidade da escuta são fundamentais para um ambiente de trabalho saudável e harmonioso. E este é fundamental para melhores resultados.

Somos mais criativas, mais produtivas e mais envolvidas com a equipa e com a empresa quando nos relacionamos melhor com quem interagimos na organização. Também aprendemos mais e partilhamos mais conhecimento, e desta forma potenciamos a inovação.

O mais importante, sentimo-nos melhor. Somos mais felizes. A satisfação no trabalho deixa de estar tão focada no q e no como, para depender mais do com quem. E as empresas estão a começar a perceber este fenómeno.

O talento faz-se de pessoas boas que também são boas pessoas. E todas nós podemos sempre ser melhores.

5 sugestões para experimentar

1. Experimente conectar-se verdadeiramente, querer saber como está o outro, o que o move, o que é importante para ele.

2. Antes de responder a um comentário mais agressivo, tente compreender a razão do sofrimento do seu interlocutor e responda sem atender a essa agressividade.

3. Antes de falar algo mais sensível, atente nas palavras e na forma como estas podem impactar quem as vai ouvir.

4. Numa discussão ou impasse, tente encontrar o 1% de verdade nas palavras do outro. Expresse essa constatação.

5. Sabe aquele colega que a irrita profundamente? Pergunte-se o porquê de isso acontecer. Quais as suas necessidades que são colocadas em causa? Que parte do conflito começa em si? O que pode mudar (em si, não no outro) para ajudar a promover a paz?

Sara Midões estudou Comunicação, Marketing e, mais recentemente, Psicologia Positiva e Human Experience Design. Num mundo rápido e tecnológico, a sua missão é ajudar organizações e líderes a implementarem uma cultura de empatia e a desenharem experiências humanas positivas. Colaboradores, clientes, parceiros… todos somos pessoas. Criou a Community, um espaço de partilha que pode seguir no Instagram.

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