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Crónica. Work-life balance: o que fazer e o que não fazer

Crónica. Work-life balance: o que fazer e o que não fazer

A atividade profissional pode ser uma parte das nossas vidas. Saiba como estabelecer uma boa relação com o seu trabalho.

Por Out. 31. 2021

Comecemos pelo início: o que é o work-life balance? Será possível equilibrar os pratos da balança? E como é que se faz essa medição? É em horas? E não será a separação trabalho vs. vida algo artificial? E será que o trabalho só satisfaz necessidades relacionadas com a profissão e só serve para pagar as contas, ou tem outras funções na nossa vida?

Cada vez mais substitui-se o termo “equilíbrio” por “integração”. A abordagem do work-life integration traz duas premissas refrescantes.

A primeira é a de que não existem gavetas (ou pratos da balança) estanques; que somos um todo e que as dimensões da vida interrelacionam-se de uma forma sinergética. A segunda é de que o trabalho em si é um possibilitador de bem-estar, na medida em que pode permitir o cumprimento de um propósito ou de significado de vida e proporcionar a sensação de realização pessoal, dois dos cinco grandes pilares do modelo de felicidade de Martin Seligman.

O problema não é o trabalho em si, mas a forma como está organizado na sociedade atual
Sara Midões

Adotar uma nova relação com o trabalho, numa perspetiva mais profunda, requereria investir em autoconhecimento e trabalhar a autoempatia. Pergunte-se o que gosta de fazer, o que quer acrescentar aos seus dias, aquilo que é ou quer ser, muito para além da sua identidade profissional.

Pode parecer um pouco estranho, mas uma relação saudável com o trabalho passa muito por nos conhecermos para além do próprio trabalho. Ou seja, compreender as nossas necessidades e expectativas e perceber de que forma a atividade profissional se integra na nossa vida.

Gosto desta visão de que o trabalho não é o bicho-papão. Na verdade, o problema não é o trabalho em si, mas a forma como está organizado na sociedade atual.

Tudo é para ontem, tudo é para crescer ano após ano, tudo é uma competição, inclusive com o colega do lado. Este paradigma levou-nos a extremos e está a deixar-nos doentes.

Há, por isso, a necessidade de repensarmos a nossa relação com o trabalho e, caso seja necessário, impor limites, sim. Até porque há organizações e lideranças que ainda vão levar muito tempo para mudar. E, confessemos, também nós próprias.

Como conseguir esse objetivo? Aqui fica uma lista de do’s and don’ts.

Work-life balance: o que fazer e o que não fazer

1. Defina os limites

Onde é que começa e acaba o trabalho? Há que definir o horário em que trabalhamos ou período de tempo, bem como o local. Se for em casa, convém que seja um espaço dedicado e confortável, por mais pequeno que seja.

2. Horário para desconectar

Há que definir também o horário em que estamos conectados ou, visto ao contrário, o período do dia em que queremos estar desconectados, em modo off.

E o que significa desconectar? Não ver emails, não aceder a plataformas de comunicação como o Slack ou o Teams, e evitar “reuniões” no WhatsApp. O ideal é mesmo desligar todas as notificações.

Repare-se que aqui não se incluem as exceções. O espírito de entreajuda numa equipa também passa por estar disponível numa urgência. Não se pode é fazer da urgência uma regra e, principalmente, estar à espera que nos notifiquem de uma urgência por mensagem escrita.

Desconectar significa também afastar-se de aparelhos tecnológicos em geral e das redes sociais em particular. Porquê? Porque assim foge-se à tentação e porque só nos faz bem!

3. Mantenha um telemóvel pessoal

Para quem usa o telemóvel como instrumento de trabalho: mantenha um número pessoal. É mais prático usar apenas um contacto para tudo, mas a fatura é muito alta. É uma questão de hábito e fará a diferença no “desligar”.

4. Mantenha um perfil pessoal de redes sociais

Quem, pela função que desempenha, precisa de estar ligado nas redes sociais e seguir contas de concorrentes, clientes, etc., deve ter um perfil profissional só para esse efeito. Assim, quando não estiver a trabalhar, não será impactado com estímulos relacionados com o trabalho, que nos vão impedir de desconectar verdadeiramente.

5. Almoce longe do computador e do telemóvel

Em modo home office, a definição de limites é ainda mais importante, uma vez que não há uma separação física de universos e é menos óbvio quando acaba a componente home e começa o office, e vice-versa.

Importante para quando trabalha em casa, para além de todas as outras indicações acima: almoce longe do computador e do telemóvel.

6. Faça uma quebra

Também muito importante em home office (e não só) é dar uma volta a meio do dia para apanhar ar, de preferência entrando em contacto com a Natureza. Um pequeno passeio numa praceta com árvores faz maravilhas.

7. Organize o trabalho

Defina prioridades, delegue se fizer sentido, peça ajuda se for preciso, diga Não se tiver que ser. O importante é ter a noção do que tem para fazer, de uma forma organizada, e ter tudo em dia.

Se é daquelas que leva muitas vezes trabalho para casa, das duas uma: ou tem efetivamente uma carga de trabalho urgente muito superior à que deveria ter e tem de aprender a estabelecer limites, ou pode e deve melhorar a sua organização e gestão do seu tempo.

8. Observe-se

É relativamente fácil definir limites, pelo menos no papel. Difícil é implementá-los, principalmente se o contexto profissional ou familiar não ajudar.

Como qualquer mudança comportamental, é essencial para a motivação manter em mente quais os benefícios que essa mudança nos irá trazer. Mais do que não trabalhar para além de X horas, o objetivo deve ser o de construir a vida que se deseja.

9. Seja flexível

Em primeiro lugar, permita-se ter momentos em que não conseguiu cumprir os limites que definiu. Permita-se não ser máquina. O importante é ter consciência e ir afinando o processo. Sim, porque tudo é uma prática.

Se queremos estabelecer uma relação diferente com o trabalho, isso não acontece da noite para o dia. Vai acontecendo todos os dias, e às vezes há dias em que não conseguimos. Faz parte.

Segundo: seja flexível para, quando for preciso e apenas por um período, colocar os limites em stand-by e entregar-se ao trabalho mais do que ao resto. Todas nós já vivemos momentos em que era preciso fazê-lo, pela equipa, pela conjuntura, pelas oportunidades. E está tudo bem.

Não estará bem é se de seguida não compensar um pico de esforço com um período de descanso proporcional. Se deu o dobro durante uma semana, é natural que na semana seguinte esteja a “meio-gás”. E é assim que tem que ser, a bem da sua saúde física e mental e a bem da produtividade. Lembre-se: o descanso não é um benefício, é um investimento.

Também não estará bem se esse pico se mantiver por meses… Temos tendência para nos enganarmos e acharmos que “tem que ser”. Não tem que ser e cuidado com as desculpas que damos a nós próprios. Mais uma razão para não descurarmos a autoobservação.

Conclusão

O mais importante neste processo é adquirir uma visão de cima. Ganhar perspetiva e ir gerindo. Saber que leva o seu tempo e que tem subjacente uma transformação: passar a ver o trabalho como uma parte boa da nossa vida, ao contrário de ver a nossa vida ao dispor do trabalho.

Sara Midões é formadora, mentora e Positive Psychology Practitioner. Especialista em bem-estar no trabalho e liderança positiva e empática, dedica-se através da Community a ajudar organizações e pessoas a trabalhar e a viver melhor. Siga a Community no Instragram.

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