11 empresárias portuguesas de sucesso partilham os segredos que as levaram ao topo
Estão à frente de uma marca, sua ou não, gerem equipas, tomam decisões importantes todos os dias e têm muito que ensinar. Onze empresárias de sucesso revelam-nos como gerem a sua carreira e partilham alguns dos segredos que as levaram até ao topo.
Todas falam de persistência, paixão, dedicação e resiliência como ingredientes para evoluir na carreira e ter sucesso. Mas há muito mais.
Cada uma destas empresárias portuguesas tem uma experiência própria, mas todas cresceram a aprender com os erros e se dedicam hoje ao que mais as faz feliz.
Estas são as lições que podemos retirar das suas experiências, provenientes de áreas tão distintas como moda, beleza, joalharia e comunicação.
Inês Caldeira, CEO da L’Oréal Tailândia, Laos e Cambodja
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
A maior prova de sucesso profissional é termos a felicidade de fazer aquilo de que gostamos todos os dias, independentemente da nossa posição na hierarquia.
Na minha opinião, o sucesso a longo prazo é determinado pela paixão que pomos nos projetos, pela resiliência e coragem demonstrada em situações difíceis.
Acrescentaria ainda que a coragem para arriscar e a capacidade de aprender com os erros são determinantes. As pessoas de maior sucesso que conheço foram também aquelas que se souberam apoiar em equipas de alta performance, orientadas para um objetivo comum.
Qual foi o seu maior obstáculo ao longo da carreira?
Julgo que a crise de 2008 foi marcante para todos os profissionais da minha geração, que estavam num momento de aceleração importante.
Na altura estava em Espanha e foi desafiante ter de motivar as equipas e fazê-las acreditar que era possível ganhar. Nessas alturas, fala-se mais em reestruturação do que em construção. Guardo memória desses momentos como os de maior aprendizagem.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas anteriores que tinha dessa posição?
Se lhe sou muito sincera, ultrapassaram as minhas expectativas. A posição de CEO permite-nos ter um verdadeiro impacto no negócio, nas equipas e mesmo na sociedade.
Podemos influenciar o debate no que diz respeito a igualdade e equidade, ética, sustentabilidade, trabalhar com Instituições e Universidades para partilhar a beleza com todos.
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou? Se sim, quem?
Tive sponsors, mentores e coaches. É difícil triunfar se não tivermos quem olhe para nós e aposte no nosso potencial. O sponsorship é fundamental, sobretudo para as mulheres. Tive a sorte te ter chefes que foram verdadeiros sponsors, mesmo nos momentos em que mais duvidei de mim própria.
Escolhi mentores que me inspiravam e com quem pude ter sempre um diálogo aberto e transparente. Foram sobretudo figuras femininas de referência. E a partir do momento em que fui nomeada CEO, tive a oportunidade de ser coached por pessoas com enorme experiência. Desde então, para mim o coach tornou-se fundamental.
Que conselho daria a jovens mulheres que querem ser bem-sucedidas profissionalmente?
Cada caso é um caso, mas acreditar que tudo é sempre possível é um excelente mindset para se ter sucesso. Sabermos rodear-nos das boas pessoas, sermos fiéis aos nossos princípios garante que nos mantemos em equilíbrio.
E, depois, claro, tudo o que falámos acima. Sponsorship, coragem, determinação e “lean in”: sentarmo-nos à mesa das decisões, sem complexos, e tomar a palavra.
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
Sempre vi o equilíbrio como algo de longo prazo. Houve momentos em que investi sobretudo na minha carreira e outros na minha vida pessoal. Dependeu muito das circunstâncias e das pessoas com quem me cruzei.
Profissionalmente aprendi a ser eficaz, a ter reuniões produtivas e que me ajudavam a decidir. Só assim consigo libertar tempo para ter tempo para a minha família.
A L’Oréal é um dos maiores grupos de cosmética no mundo, estando presente em 130 países.
Marta Carvalho Araújo, CEO da Castelbel
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
Resiliência e entusiasmo, humildade e empatia, flexibilidade e abertura à mudança, visão e ambição, dedicação e foco, autenticidade e autoconfiança, intuição, motivação e uma boa rede de suporte e apoio à família, que nos permita tirar o máximo proveito (e diversão!) do trabalho. Sem pressão ou preocupação permanente com as tarefas domésticas que não temos tempo para desempenhar.
Qual foi o seu maior obstáculo ao longo da sua carreira?
Não ter conseguido ser docente do Ensino Superior. Esse foi, desde sempre, o meu sonho, e a única razão pela qual quis fazer um Doutoramento, mas só percebi no final dos estudos que não ia ter capacidade de ingressar na carreira académica.
Foi perante este obstáculo (até certo ponto, inesperado) que decidi abraçar uma realidade completamente diferente: a do mundo dos negócios, onde acabei por desempenhar tarefas bastante semelhantes à de um professor-investigador, como formar e coordenar equipas, desenvolver novos produtos e processos, ou fazer apresentações em público. E onde, assim, atingi a realização pessoal e profissional que procurava.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas que tinha dessa posição?
Na verdade, nunca tive grandes expectativas, porque nunca imaginei vir a ser empresária! De qualquer modo, hoje sou feliz e sinto-me muito confortável a desempenhar este papel.
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou?
Sim, tenho tido a sorte de ter sempre ao meu lado o meu mentor e fundador da Castelbel, Aquiles Barros. Muito recentemente, tive ainda acesso ao meu primeiro executive coach, ao frequentar a Harvard Business School.
Que conselho daria a jovens mulheres que querem ser bem-sucedidas no trabalho?
Que é fundamental saberem (e poderem) rodear-se das pessoas certas e divertirem-se. Não falo em serem felizes 100% do tempo, porque isso é impossível (há sempre tarefas de que não gostamos, mas temos mesmo de desempenhar!).
Mas, sim, em incluírem a felicidade no trabalho, a qualidade das relações humanas que estabelecem nesse contexto, e o sentimento de pertença como verdadeiras medidas de sucesso do seu projeto profissional.
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
Não faço grande esforço para equilibrar trabalho e vida pessoal, porque não os vejo em planos separados, mas sim como componentes indissociáveis e igualmente importantes para o meu bem-estar.
É por isso que eu digo que tenho duas famílias – a de casa e a da Castelbel – que se conhecem mutuamente. A de casa sabe exatamente o que faço e com quem trabalho, enquanto a da Castelbel conhece perfeitamente os meus filhos (que, em muitos casos, são colegas de escola dos deles).
Castelbel é uma marca portuguesa de produtos perfumados para o corpo e para a casa lançada em 2006, produzindo sabonetes para algumas das mais importantes marcas mundiais.
Cátia e Rita Curica, fundadoras da Organii
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
Cátia (C): Por um lado, organização e disciplina, para conseguir levar a ideia à prática. Depois, ser maleável e direcionado para a resolução de problemas (existem muitos momentos onde achamos que tudo é só um rol de problemas pegados…) e ter paixão, muita paixão pelo que se faz.
Isto porque é muito exigente, e só gostando muito é que não se desiste. É o que sinto que faz a diferença entre as pessoas. Quem faz o que gosta, quem se empenha e tem brilho, acaba sempre a ser bem-sucedido.
Rita (R): São um conjunto de características e não apenas uma isolada. Mas se tivesse que enumerar apenas uma, seria a perseverança. A capacidade de não baixar os braços perante as adversidades, não desmotivar, acordar no dia seguinte com vontade de fazer mais e melhor, mesmo quando as coisas não correm como pretendemos ou planeámos.
Todos temos problemas, adversidades, quer na vida pessoal, quer profissional, mas a forma como os encaramos e não desistimos é que faz a diferença.
Qual foi o vosso maior obstáculo ao longo da carreira?
C: Falta de meios para contratar pessoas com experiência que possam liderar nas suas áreas. E muita burocracia legislativa que nos impede de avançar de forma simples e com poucos recursos.
R: A construção da equipa, conseguir ter as pessoas certas, no lugar certo tem sido um desafio. Podemos ter um projeto incrível, mas precisamos de uma equipa para o concretizar.
A realidade de serem empresárias hoje está em linha com as expectativas anteriores que tinham dessa posição?
C: Nunca pensei muito nisso… E parece que nunca me vejo como uma empresária. Tendemos a pensar em empresárias e empresários de uma forma muito formal, muito virado a números e a planos de negócios.
Não somos nada assim. Somos duas irmãs com ideias daquilo que queremos transmitir. E depois é ir tentando passar a mensagem o melhor possível, com muitas situações que resultam e outras tantas que não. Com avanços e recuos, sempre experimentando, analisando e sentindo qual a direção que nos parece a correta para o ideal do projecto.
R: No nosso caso, fomos empresárias quase por acidente. A Organii não nasceu de um business plan, daquilo que nos parecia uma excelente área de negócio, mas de uma paixão. Quando começámos, pensávamos até manter os nossos empregos da altura, estávamos muito longe de pensar na dimensão que a empresa teria hoje. Pelo que não tínhamos nenhuma expectativa.
A realidade que vivemos não sei se corresponde ao estereótipo que as pessoas têm de empresárias, porque fazemos um pouco de tudo. A empresa começou só connosco. Fazíamos a limpeza, o atendimento aos clientes, a área comercial, o envio de encomendas, a contabilidade e pagamentos… Podemos dizer que concentrávamos o departamento financeiro, comercial, logística e facilities: nós éramos tudo.
Ao longo das vossas carreiras, tiveram algum mentor ou coach que vos ajudou?
C: Não e sentimos muito a falta disso. Só nos últimos anos, com o Instagram e os grupos de empreendedoras, freelancers, etc é que conseguimos sentir uma comunidade onde podemos partilhar os nossos receios e problemas. Mas estamos a falar de pessoas como nós e não de gente com experiência a quem realmente pudéssemos tirar dúvidas e seguir como exemplo.
Sempre recolhemos ideias e formas de fazer com todas as pessoas que conhecemos, e isso é sempre importante, mas nunca nos identificámos realmente com ninguém. Agora estamos num processo de consultoria que acho que está a resultar e pode ser o tal coach de que precisávamos.
R: Estamos a ter agora, mas foi preciso trabalhar muito para haver folga financeira para termos esta ajuda. Reconheço que ter alguém como advisor numa fase inicial teria sido útil. Provavelmente teríamos chegado mais rápido ou com menos avanços e recuos onde estamos hoje. Mas não acredito que alguém tenha a fórmula perfeita.
Com ou sem um mentor, acho que muitas vezes temos de testar, experimentar e é preciso humildade para reconhecer quando as coisas não resultam e reformular o caminho.
Que conselho daria a jovens mulheres que querem criar o seu próprio negócio?
C: Criem um negócio de um tema que vos seja muito querido. Sejam fundamentalistas na visão do que querem trazer ao mundo e flexíveis em tudo o resto – na forma, modelo, etc. Sintam o que querem dizer e estejam atentas porque o mundo dá muitos sinais para irmos mudando ao longo do percurso.
R: A paixão e a visão são essenciais, mas depois diria duas coisas. Primeiro, sejam cautelosas no risco, tenham um plano B para o caso de algo não correr como o previsto, estabeleçam bem os limites até onde querem ou podem ir, quer no investimento financeiro quer pessoal.
Segundo, reservem sempre espaço e tempo para analisarem o negócio numa perspetiva distanciada, com o maior sentido crítico que conseguirem (é aqui que o coach pode ser uma ajuda preciosa). É fundamental redefinir a estratégia, analisar o que está a correr bem e onde estão as falhas. Não há um único caminho, uma única solução, estejam abertas à mudança, porque ela é inevitável.
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
C: Temos alturas que são mais fáceis e outras, claro, que são mais difíceis de equilibrar. Mas é ir tentando ter algum tempo para os amigos, com a família e, principalmente, algum tempo comigo mesma – para treinar (nado, corro e ando de bicicleta), ler, respirar e refletir.
Foi muito importante para mim perceber que, sem este espaço meu, nada iria funcionar bem. E ter apoio, nem que seja do meu parceiro, para ficar com os miúdos e permitir que esse espaço possa existir.
R: Não é fácil e foi um dos meus primeiros erros nos anos iniciais do projeto. No início estamos tão entusiasmados que damos tudo, trabalhava os sete dias da semana e hoje reconheço que foi um erro. Leva-nos a um estado de cansaço e de saturação onde é impossível darmos o nosso melhor.
É importante definir limites e esforçar-nos por cumpri-los, mesmo quando ficam e-mails sem resposta na caixa do correio.
Lembro-me quando estivemos grávidas ao mesmo tempo e quando tínhamos os bebés pequenos, essa gestão foi muito difícil. Muitas vezes tínhamos que os trazer para reuniões, feiras. Mas se nos organizarmos e nos disciplinarmos, conseguimos esse equilíbrio, o qual é não só saudável como essencial.
A Organii é uma loja de produtos de base biológica e roupas naturais lançada em 2008, contanto hoje com uma marca de beleza própria e sete lojas em Portugal.
Marta Lima, country manager da Havaianas em Portugal
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
Esta poderia ser uma das perguntas de um milhão de euros que assolam a nossa existência enquanto profissionais. Sem dúvida que é fundamental uma dedicação forte, e saberes exatamente o caminho que queres percorrer.
Muito dificilmente saberás a meta exata que queres alcançar, mas é importante ter uma direção definida, para poderes fazer escolhas ponderadas quando chegares às encruzilhadas. Mais do que sorte, é teres as ideias claras e seres fiel aos teus instintos. Nós, as mulheres, temos uma voz interior que sabe muito bem o que nos diz!
No entanto, se tiver que escolher apenas um fator, teria de escolher as equipas. Não se consegue ser bem-sucedida se não se tiver uma equipa de alta qualidade ao nosso lado. E realmente posso dizer que tive pessoas fantásticas, com as quais tive o privilégio de trabalhar. Ninguém chega ao topo sozinho; ou pelo menos não fica lá muito tempo!
Qual foi o seu maior obstáculo ao longo da sua carreira?
Ao longo dos anos tive desafios variados para ultrapassar, mas creio que o mais difícil terá sido logo ao início. A minha primeira experiência profissional foi na área do Grande Consumo, numa das maiores multinacionais da área, no departamento de vendas, como Key Account Manager.
Na época, era ainda um departamento dominado por homens, o que implicava que eu chefiava uma equipa de vendedores com uma média de idades de mais de 20 anos em relação a mim. E em um ou outro caso (felizmente muito poucos) tive de lidar com o preconceito da idade e do género.
Nesses casos, tens de ganhar a equipa. Se forçares a liderança, simplesmente porque és a chefe, nunca os vais conseguir levar contigo! Passados cerca de 20 anos, continuamos a ver-nos em jantares de equipa, pelo que acho que o obstáculo foi superado com êxito.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas anteriores que tinha dessa posição?
Nos últimos 12 anos da minha carreira, tive posições de liderança em duas empresas totalmente distintas: uma americana, no setor do desporto e lifestyle, e outra brasileira, no setor do calçado e lifestyle. Experiências e realidades totalmente distintas, sendo que o único ponto em comum é o facto de serem ambas líderes de mercado no seu sector.
Mas, na verdade, os desafios acabam muitas vezes por se sobrepor, e não têm muito segredo: liderar uma equipa de pessoas motivadas para levá-las a oferecer o melhor serviço aos nossos clientes e acreditar com a alma que os produtos maravilhosos que temos vão fazer felizes o nossos consumidores!
Isto é o que faço hoje, e realmente corresponde exatamente às expectativas que tinha do que poderia vir a ser um dia a minha realidade profissional.
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou?
Acredito profundamente que devemos respeitar ao máximo todas as pessoas que se cruzam no nosso caminho. E, para mim, respeitar é ouvi-las, prestar-lhes atenção, mesmo que achemos que não têm nada a acrescentar.
Quantas vezes aprendi com situações e pessoas, das quais esperava muito pouco? Mesmo (e sobretudo) dos nossos erros, devemos tirar lições.
Tive um chefe que foi muito inspirador, e tinha uma máxima que me fez muito sentido: “não há problema em cometer um erro; desde que seja apenas uma vez!”. Tudo serve para crescer.
Que conselho daria a jovens mulheres que querem ser bem-sucedidas profissionalmente?
Acreditem sempre. Vocês podem tudo!
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
A minha família é a minha pedra basilar. Sem eles, nada faz sentido. E é com isto em mente que me levanto da cama todos os dias. Tudo o resto tem de se adaptar a esta verdade universal!
A Havaianas é uma marca brasileira conhecida pelos seus míticos flip-flops, lançada em 1962, estando presente em Portugal desde a década de 1990.
Catarina Vassalo, fundadora e designer da marca Cata Vassalo
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
Acreditar! Para mim é o fator principal. Acreditar no conceito, no produto e, principalmente, em nós. Ser persistente, focado e querer muito que o projeto floresça.
Qual foi o seu maior obstáculo ao longo da sua carreia?
Delegar! Durante muitos anos fiz sempre tudo sozinha. Com o crescimento da marca, tive de começar a delegar. Para mim foi complicadíssimo, inicialmente repassava sempre tudo. Agora não.
Confio em quem trabalha comigo. E delegar realmente ajuda a ter mais tempo para criar.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas que tinha dessa posição?
Mais ou menos. Já estava preparada para que fosse complicado e trabalhoso, mas afinal é tudo isso e ainda mais! É trabalhar com prazos, é pesquisar com alguma frequência novos materiais, novas técnicas, novas maneiras de comunicar .
É tentar resolver pequenas e grandes situações que acontecem no dia a dia. Mas no fim, vale sempre a pena.
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou?
Sempre soube ouvir quem estava á minha volta, não foi um mentor ou coach em particular, mas quem estava comigo quando precisei de conselhos.
Que conselhos daria a jovens mulheres que querem criar o seu próprio negócio?
Que acreditem nelas, que saibam ouvir quem as rodeia e que sejam persistentes, pois um negócio não se constrói num dia!
Como consegue manter o equilíbrio entre trabalho e a vida pessoal?
Ter horários estipulados! Tenho duas filhas pequenas e quero estar presente no crescimento delas. Quero poder olhar para trás e dizer que estive lá quando precisaram. Por vezes levo trabalho para casa, e tento aproveitar ao máximo o pouco tempo que me sobra.
Cata Vassalo é uma marca especializada em joias e acessórios para noivas e convidadas lançada em 2015, em Inglaterra.
Helena Lopes Cardoso, fundadora da marca HLC
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
Os ingredientes que já sei que não podem faltar são: determinação, persistência – muita! – e paixão pelo que fazemos. Este último, sim, é o ingrediente chave.
Qual foi o seu maior obstáculo ao longo da sua carreira?
A burocracia subjacente a cada processo, a falta de apoio a quem quer empreender, começar, empregar, contribuir…
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas anteriores que tinha dessa posição?
Está, sobretudo porque há sempre lugar para mais aprendizagem, todos os dias! E aprender sempre foi o que mais me fez sentir viva.
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou?
As pessoas que me ajudam, diariamente, e também elas me limam todos os dias um bocadinho. As minhas clientes, que me desafiam sempre a tentar ser melhor.
Que conselho daria a jovens mulheres que querem ser lançar um negócio próprio?
Muita garra! Não vale a pena começar nada se não houver paixão, porque só com ela são ultrapassáveis os obstáculos (que, com toda a certeza, irão surgir).
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
Esta é a questão que até me fez soltar uma breve gargalhada. A vida é um malabarismo! Nós, as mulheres, somos mágicas, só temos que acreditar.
A HLC é uma marca portuguesa de joalharia que dá atenção extrema ao detalhe.
Ana Penha e Costa, fundadora da +351
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
É necessário ser resiliente e ter muita força de vontade.
Qual foi o seu maior obstáculo ao longo da sua carreira?
Foi não saber nada sobre como gerir uma empresa, o que fui aprendendo sozinha e ainda aprendo todos os dias.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas anteriores que tinha dessa posição?
A minha ideia não era ser empresária, era apenas fazer o que gosto, desenhar roupa.
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou?
Sim, muitas pessoas me ajudaram…
Que conselho daria a jovens mulheres que querem iniciar um negócio próprio?
Não desistam e aceitem a ajuda e o know how dos outros.
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
Neste momento, já conto com uma equipa e isso liberta-me imenso tempo para fazer o que gosto, sendo que, ver crescer a +351 a cada ano e definir a estratégia para os próximos é o que me dá mais gozo.
A +351 é uma marca de roupa e acessórios produzida integralmente em Portugal.
Mariana Bettencourt e Filipa Mascarenhas, fundadoras da Sparkl
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
Para ser empreendedor, diríamos que é necessário ter muita resiliência, ser permeável e aberto a diferentes opiniões, soluções e estratégias. É importante ser humilde. Qualquer empreendedor sabe quantas lições de humildade já levou! É importante ter uma boa dose de teimosia e persistência, assim como gostar de estar sempre fora da zona de conforto. A sorte também ajuda.
Para sermos bem-sucedidos profissionalmente, julgamos que não fica muito longe do que é preciso para ser empreendedor.
Qual foi o vosso maior obstáculo ao longo da carreira?
Gostamos sempre de falar no âmbito da experiência da Sparkl: o maior obstáculo foi ser um negócio com duas fundadoras mulheres e para mulheres.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas que tinham dessa posição?
Sabíamos que ia ser um desafio, sabíamos que íamos ser confrontadas com muitas dificuldades, mas não sabíamos que ia ser tão duro e, ao mesmo tempo, que nos ia realizar e preencher tanto.
Parece meio esquizofrénico, mas é um sacrifício enorme que nos traz alegria e realização pessoal.
Ao longo da vossa carreira, tiveram algum mentor ou coach que vos ajudou?
Sim, vários. Sempre nos inspirámos em chefes que mostravam sinais de uma boa liderança e coaching. Já neste ecossistema das startups em que nos encontramos agora, seria impossível sem mentores. Temos vários que nos acompanham e guiam.
Que conselho dariam a jovens mulheres que querem criar o seu próprio negócio?
Que arrisquem! Temos de dar o primeiro passo, mas obviamente sempre com cautela. É importante não ter medo de partilhar a ideia ou projeto com o maior número de pessoas, ao invés de ter medo de partilhar porque nos podem roubar a ideia.
Quanto mais partilhamos, mais aprendemos com as opiniões que nos vão dando. Essas diferentes opiniões vão ajudar-nos a perceber se estamos ou não no caminho certo. Habitualmente, um projeto tem sucesso por vários fatores e um dos principais é a equipa. Se soubermos que somos capazes é meio caminho andado para conseguir atingir o objetivo a que nos propusemos.
Como conseguem manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
É difícil, mas o apoio da família tem sido fundamental. Família e amigos são o maior suporte que podemos ter. São eles que nos dão a estabilidade que compensa a instabilidade que é criar um projeto nosso de raiz.
A Sparkl é uma empresa portuguesa que presta serviços de manicure, pedicure, depilação, cabeleireiro ou maquilhagem ao domicílio.
Inês Fonseca, uma das fundadoras da Latitid
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
Foco, esforço, muito, muito trabalho… Mas, acima de tudo, dedicação a 200%.
Qual foi o maior obstáculo ao longo da carreira?
As fábricas em Portugal acreditarem num projeto que em 2012 era muito pequeno. Sem produção não havia marca! Acabámos por atrasar um ano e só lançar a primeira coleção em 2013.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas que tinha dessa posição?
Sim. Na minha família quase toda a gente tem negócios próprios há três gerações. Já sabia bem para o que ia… (para o bem e para o mal).
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou?
O meu pai e o meu marido, a nível financeiro, e a minha mãe ao nível organizacional, da empresa e pessoal.
Que conselho daria a jovens mulheres que querem criar o seu próprio negócio?
Acreditarem a 200%. Mesmo quando vos “deitarem a baixo”. Liguem só às críticas construtivas.
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
Lancei a Latitid no verão em que me casei e, no verão a seguir, nasceu a minha primeira filha. Em 2016, o meu segundo filho. A Latitid e a minha vida pessoal andaram sempre de “mãos dadas”, o que não é fácil. Mas ao mesmo tempo, sempre me habituei a esta dinâmica.
Organização é a chave. Trabalhar à noite também! Mas, sem dúvida, o mais importante é eliminar o sentimento de culpa. Hoje em dia percebo que os meus filhos têm orgulho no que faço. Essa sensação é a palavra mágica para o equilíbrio sem culpa.
A Latitid é uma marca de beachwear de confeção 100% portuguesa, lançada em 2013 pelas irmãs Inês e Marta Fonseca e Fernanda Santos.
Mónica Santos, fundadora da Fun Fashion
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
O conceito de sucesso profissional é muito relativo e depende de pessoa para pessoa. No meu caso pessoal é, de facto, a paixão e a autenticidade, claramente! A paixão pela cosmética aliada ao desejo de alcançar um objetivo por mim traçado permitiu-me crescer enquanto mulher e enquanto empresária.
Traçar metas e encontrar a melhor forma para as alcançar, paralelamente ter uma boa gestão e uma enorme capacidade de trabalho. A definição de um objetivo permite-nos focar e direcionar todas as energias e esforços no sentido de o alcançar. Não há outra forma!
Existem outros fatores que também são importantes, nomeadamente dedicação, espírito de sacrifício, atitude, carisma, audácia e vontade de vencer.
Qual foi o seu maior obstáculo ao longo da sua carreira?
Não diria que tenha sido um obstáculo, mas talvez possa ter dificultado um pouco mais em algumas situações de negociação – o fator idade. Em 2006, quando criei a Fun Fashion, tinha apenas 28 anos e na altura foi complicado assegurar aos potenciais fornecedores e clientes que eu era capaz.
Ao longo dos anos e dos processos de negociação, essa imagem foi-se dissipando dando origem a uma excelente relação de confiança e de parceria. E com os anos esse obstáculo deixou de existir… pois já estou mais velhinha!
A formação não chegou a ser um obstáculo, mas poderia ter sido. A minha formação académica é na área das Relações Públicas e Publicidade e, com a evolução da minha carreira, senti a necessidade de aumentar as minhas competências e optei por uma Pós-Graduação em Gestão de Empresas e, posteriormente, um Mestrado também em Gestão. Além de me proporcionarem mais ferramentas de trabalho, acabaram por contribuir para a minha autoconfiança.
Na minha opinião, a procura de conhecimento é parte integrante da nossa evolução profissional e pessoal.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas que tinha dessa posição?
Recuando no tempo, e pensando no assunto pela primeira vez, tenho a certeza que nem tempo tive para criar expectativas. Fui construindo o caminho, passo a passo, preocupada apenas em chegar mais longe e correndo os riscos necessários para alcançar novas metas.
De cada vez que um objetivo é alcançado, já tenho mais uns quantos traçados. E, portanto, não há muito tempo para criar expectativas, apenas para resolver problemas que surgem no dia a dia e idealizar novas oportunidades de negócio.
Na realidade, como empresária e gestora, estou sempre tão embrulhada no negócio em si e em novas oportunidades que todos os momentos são aproveitados para “desenhar caminhos” para chegar à concretização.
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou?
Não. Tenho feito esse trabalho sozinha até hoje. Tenho conseguido manter o equilíbrio, munida de algumas técnicas e ferramentas que me têm permitido fazer a gestão da minha vida pessoal e profissional.
O autoconhecimento, aliado a uns períodos de paragem obrigatória ao longo do ano para “pôr as ideias em ordem” e desfrutar da vida e das relações, potencializa o meu autodesenvolvimento e permite-me estar em continuo desenvolvimento.
Sou apologista de que devemos trabalhar para alcançar os nossos sonhos, mas nunca descuidando as pessoas que nos rodeiam – a família, os amigos – e dos momentos únicos que não podemos deixar passar. Todos estes momentos de interação com as pessoas que nos são queridas e de partilha contribuem para a nossa criatividade e sucesso profissional, fazendo de nós melhores profissionais.
O meu sucesso profissional está intimamente relacionado com a minha realização enquanto indivíduo, enquanto mãe e esposa.
Que conselho daria a jovens mulheres que querem ser bem-sucedidas no trabalho/criar o seu próprio negócio?
A perseverança é fundamental. Existem inúmeras dificuldades, obstáculos e até alguns dias maus. O sucesso, por vezes, demora tempo e não podemos desistir. Agarrar as oportunidades e ir à procura do sucesso, não esperar que ele venha ao nosso encontro.
A informação e o networking são fundamentais. Procurar o conhecimento e continuar sempre a investir em formação. Ser disruptiva e pensar “fora da caixa” leva-nos muitas vezes ao sucesso. Observar em cada situação de crise ou em cada “não” que ouvimos uma nova oportunidade e não ter medo de correr riscos.
Para liderar também é preciso saber lidar com o risco, se queremos evoluir. Raramente as coisas acontecem como planeamos, mas de qualquer forma, considero fundamental traçar um plano e ter a capacidade de o adaptar a cada momento, consoante as situações.
É essencial termos confiança nas nossas aptidões e competências e estarmos seguras de que conseguimos chegar mais longe.
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
Sempre fui uma pessoa muito organizada em termos pessoais, até demais. Faço listas para tudo, priorizo as tarefas e ainda sou completamente dependente da velhinha agenda em papel.
Penso que o facto de ter tido sempre imensas atividades paralelas à escola, como a natação, o ballet clássico, as aulas de piano, o rancho folclórico, entre outras, me obrigou a ser uma pessoa extremamente organizada para que o meu dia chegasse para tudo aquilo que eu queria fazer.
Hoje em dia, continuo com inúmeras atividades paralelas ao trabalho, pois continuo a investir na minha formação, a praticar exercício físico, a cozinhar, e não dispenso o tempo de qualidade com família e amigos. Mesmo que para isso tenha de roubar algumas horas ao sono para poder trabalhar depois de todos estarem a dormir.
O pouco tempo livre que tenho é maximizado e aproveitado da melhor forma, com atividades com as crianças e tudo o que me estimule e dê prazer.
A Fun Fashion é uma empresa portuguesa criada em 2006 que distribui cerca de 20 marcas de cosmética.
Fernanda Freitas, fundadora da Eixo Norte e Sul
O que é que é realmente necessário para sermos bem-sucedidas profissionalmente?
Foco, uma boa agenda, determinação e resiliência e querer sempre aprender mais. E nunca desviar daqueles que são os nossos objetivos em prol do sucesso – isto depois de definir os nossos próprios critérios de sucesso. Os meus critérios vão sendo afinados (e mais refinados!) à medida que o tempo passa.
Qual foi o seu maior obstáculo ao longo da sua carreira?
Diria que foi o arranque da empresa: trabalhei demasiadas horas, não me dediquei a aprender alguns procedimentos básicos de gestão – o que quase deitou tudo a perder.
Quem nunca teve contacto com o mundo da gestão vai esbarrar numa série de contratempos financeiros, fiscais, legais. O mais importante foi conseguir ultrapassar esta fase, tendo um bom suporte contabilístico e legal e tendo investido o mais cedo possível numa contratação ao nível administrativo.
A realidade de ser uma empresária está em linha com as expectativas anteriores que tinha dessa posição?
Diria que o cenário nem sempre é tão cor-de-rosa… Houve momentos em que o pânico dos impostos tomou conta de mim!
Saber desenhar um bom plano de negócios para a empresa não chega, tem de se tornar sustentável financeiramente, sobretudo quando temos uma equipa que cresce a cada ano. E numa época em que há muita concorrência, é importante descobrir o foco e esse continua a ser o desafio atual: tentar não perder o alinhamento daquilo que queremos fazer.
Ao longo da sua carreira, teve algum mentor ou coach que a ajudou?
Sim. Ao fim de dois anos de empresa percebi que era muito mais empreendedora do que empresária. Estava já ligada ao Women Win Win, um projeto de empoderamento que abriu um programa de mentoria. O match foi perfeito!
Durante um ano fui acompanhada por António Ramos Costa que, para além de ter partilhado muito do seu conhecimento enquanto empresário, me ensinou a ver “the big picture”, a dar valor a um plano de negócios sustentável e à importância de contratar bem na hora certa.
É uma aprendizagem incrível e hoje, com seis anos como empresária, ainda ponho em prática tudo o que aprendi.
Que conselho daria a jovens mulheres que querem ser bem-sucedidas profissionalmente?
Acima de tudo, sublinhar que o sucesso é muito relativo e sobretudo muito pessoal. Hoje em dia valorizo muito mais o meu tempo e poder fazer tudo aquilo que quero sem restrições de horários.
O tempo é o bem mais precioso e temos de decidir como o vamos investir. E seguir sempre o caminho que nos faça mais feliz: com uma boa dose de felicidade a correr pelas veias, tudo se torna mais fácil.
Como consegue manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
Não consigo separar os dois mundos, até porque muito do meu trabalho também surge no domínio do terceiro sector, como presidente da Associação Nuvem Vitória, algo que acaba por se fundir na minha vida enquanto voluntária.
Sei que, a cada dia que passa, estou mais atenta e menos preocupada; que há coisas que posso mesmo deixar para amanhã e que dormindo oito horas, consigo ter mais 16 para tudo aquilo a que me proponho fazer: empresa, voluntariado, escrever, viajar, dar aulas e, claro, ter tempo de qualidade para mim e para a família – sem culpas.
Há uns dias li uma frase que resume uma boa resposta a esta questão: “if the why is strong, the how is easy” (se o porquê é forte, o como é fácil).
A Eixo Norte e Sul é uma empresa de comunicação e conteúdos criada em 2013.
Esta é apenas uma pequena amostra de como algumas empresárias portuguesas de successo geriram a sua carreira. Vale a pena ver também estas TED Talks de mulheres inspiradoras.