A vida é feita de histórias e garantimos-lhe que vale a pena conhecer estas. Preparada?
Filipa Martins: a melhor de todos os tempos
A melhor classicação de sempre da ginástica portuguesa é uma frase que costuma vir associada ao nome de Filipa Martins. Aos 28 anos, prepara-se para participar nos seus terceiros Jogos Olímpicos, após ter sido quinta nas paralelas assimétricas na final dos Campeonatos da Europa de Ginástica Artística, realizados em Rimini, em Itália, no início de maio.
Diz que os resultados positivos obtidos não lhe trazem pressão – “é importante superarmo-nos”, assevera –, mas que é gratificante ouvir dizer que é a melhor ginasta portuguesa de todos os tempos. “É o reconhecimento de todo o trabalho que eu e os meus treinadores temos feito”, afirma. Aos 4 anos, quando os pais a inscreveram no Sport Clube do Porto, Filipa Martins não imaginava os grandes feitos que aí vinham.
Na altura, via a ginástica como “um parque de diversões”, mas, aos 10 anos, começou a competir e tomou-lhe o gosto. “Adoro competir e a adrenalina toda que sinto antes e durante a competição”, refere. Aos 14 anos, começou a sonhar com os Jogos Olímpicos e, em agosto, em Paris, espera chegar à final all around, que inclui os quatro aparelhos e à qual só vão as 24 melhores ginastas.
Quando entra em competição, Filipa Martins tenta dar sempre o seu melhor. “Quero sempre superar-me, mas o principal é tentar fazer exatamente como costumo fazer nos treinos e não deixar que o nervosismo estrague o momento”, explica. Acredita muito no treino e no foco, e é a isso que se agarra para ultrapassar os momentos mais desafiantes e daí vem também a sua tranquilidade. “Tento sempre dar o meu melhor nos treinos, porque sei que a maior parte das vezes a competição é o reflexo daqueles”, realça.
Ter um elemento como seu nome nas paralelas assimétricas (o seu aparelho preferido a par da trave) é outro dos seus feitos, mas foi um acaso. “Na altura da quarentena, aproveitámos para fazer experiências e começámos a fazer um Tkachev com a meia-volta. Quando fomos ver quanto valia no código de pontuação, percebemos que não existia”, conta.
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A dedicação à ginástica tem sido muita. Treina de segunda a sábado, três horas e meia por dia, e, em períodos mais competitivos, soma-lhe mais duas horas. Apesar disso, não é ginasta profissional. “Em Portugal, é impossível viver da ginástica e, enquanto os nossos treinadores também não forem profissionais, acho difícil que a modalidade o seja”, refere Filipa Martins, que alude ao esquecimento que as modalidades individuais são votadas para justicar a pouca aposta.
Como atleta nunca quis sair do País, por ser cá que tem a sua rede de apoio, no entanto, quando abraçar a carreira de treinadora, que é isso que quer fazer no futuro – atualmente está no mestrado em Alto Rendimento – já não garante o mesmo.
“Portugal é um dos melhores países para se viver, acho que temos tudo. Mas, hoje, tudo aumenta menos os salários e infelizmente não consigo viver da ginástica”, explica, acrescentado que adoraria ficar, “o futuro dirá”. Aos jovens atletas dá um conselho: “Lutar sempre pelos objetivos, sabendo que às vezes vai ser mais difícil e outras menos”.
Marta Pereira da Costa: romper barreiras
Foi a primeira mulher a tocar a guitarra portuguesa no fado e hoje corre o mundo para fazer ouvir este instrumento único, associando-o também a outras sonoridades. Marta Pereira da Costa começou aos 18 anos, por insistência do pai, que adora fado, e gostou tanto que nunca mais parou, no entanto, o caminho nem sempre foi fácil.
“Comecei a ter aulas e, à noite, ia às casas de fado para ver como se tocava. Passados nove meses já estava a tocar quase todos os dias. O background musical que tinha ajudou-me bastante, pois tinha o ouvido mais treinado [já tocava piano desde os 4 anos e guitarra clássica desde os 8 anos]”, conta.
Se, no início, toda a gente achava piada ao seu interesse, quando se quis profissionalizar, o que fazia passou a não ser válido. “Tive de ouvir comentários que me doíam muito, tais como que não tocava bem, que só tocava porque era gira”, recorda. Atribui a culpa a essas reticências à tradição. “Tudo o que é pioneiro tem de partir muita pedra e passar por dificuldades”, realça. Hoje, ainda são poucas as mulheres, mas já são muitas mais. “O paradigma está a mudar completamente”, afirma.
A guitarra portuguesa trouxe-lhe também a vontade de compor, que era algo desejava muito e que não estava a conseguir com o piano. “A guitarra foi o veículo para exprimir ideias e sentimentos”, confirma Marta Pereira da Costa. Foi isso que também fez no seu segundo álbum – Sem Palavras –, lançado em maio, onde assina quatro composições.
“É um álbum onde eu procuro afirmar-me como compositora e como intérprete, guitarrista e é muito diferente do primeiro. Neste, a guitarra portuguesa destaca-se e está despida de todas as outras distrações que aconteceram, no sentido figurativo, no primeiro disco”. A sua ideia é “romper barreiras e levar a guitarra portuguesa para o mundo e também trazer mundo para a guitarra portuguesa”. Em Sem Palavras está (bem) acompanhada pelo piano de Iván Melone Lewi, pianista cubano com quem sempre quis trabalhar”.
Sem Palavras dá também título a uma música, que dedica aos seus filhos gémeos de 14 anos
“Eles sabem que a mãe trabalha muito e que viaja muito, e quis passar-lhes que é preciso trabalhar e lutar pelos nossos sonhos, não basta só termos inspiração ou um dom. É um tema um bocadinho agridoce, porque é um pouco sofrido. É uma declaração de amor incondicional, mas também muito sofrido pelas ausências, pelos momentos que perco e isto já vem antes das viagens, começou no momento em que me separei e percebi que o melhor para eles seria a guarda partilhada”, revela.
Este sentimento de culpa comum a tantas mães já foi mais intenso, sublinha, realçando que é “importante fazermos o que gostamos” e, quando está com os filhos, está “a 100%”. Gostava de tocar mais em Portugal e do nosso país destaca a boa gastronomia e o ótimo clima, mas não deixa de referir que “estamos a atravessar problemas grandes na educação, saúde e um custo de vida altíssimo, uma taxa de esforço muito grande para o português comum”. “Portugal precisa de ter pessoas com mais capacidade ao volante para avançarmos”, conclui.
Maria D’Orey: um sonho tornado realidade
Desde que o Serenity – The Art of Well Being abriu portas no Pine Cliffs Resort, em Albufeira, há 8 anos que Maria D’Orey, diretora-global da marca de spas de luxo portuguesa, acredita na sua internacionalização, objetivo que atingiu em março deste ano, com a estreia no resort Fairmont the Palm, no Dubai.
“A abertura do Serenity Dubai representa a concretização deste sonho. Lembro-me de estar na inauguração e sentir uma onda de emoções ao ver o resultado do nosso trabalho. Foi um momento mágico, onde cada desafio e esforço valeram a pena. Ver o Serenity a prosperar num local tão vibrante é o testemunho da nossa dedicação e da paixão que colocamos em cada detalhe”, afirma Maria D’Orey.
Com a internacionalização da marca, veio também a promoção na carreira para Maria D’Orey, que passou de diretora regional para global do Serenity – The Art of Well Being. Vê esse feito como reconhecimento do seu trabalho, mas assegura que “o mais importante é ver o impacto positivo” que tiveram na vida de tantas pessoas. Entrou no Pine Cliffs Resort para desenvolver o serviço de personal trainer no hotel e, 18 anos depois, as suas maiores aliadas continuam a ser “a paixão, a dedicação e a resiliência”.
O que também se mantém, seja em Portugal ou no Dubai, é o conceito que têm desde o início do Serenity: “Integrar a beleza e o bem-estar de forma holística. Os nossos esforços para promover um equilíbrio entre corpo, mente e espírito têm sido reconhecidos pelos clientes e pela indústria, como comprovam os 32 prémios que recebemos. Este reconhecimento valida a nossa abordagem e incentiva-nos a continuar a inovar”. O sucesso, diz, não poderia tê-lo conseguido sozinha, elogia a equipa com a qual trabalha e também a família.
“É importante lembrar que não estamos sozinhos e que podemos sempre contar com quem nos rodeia”, confirma. Em 2022, Maria D’Orey foi uma das 25 mulheres líderes destacadas no ranking Merco Líderes, e garante que “para inspirar uma equipa, é essencial liderar pelo exemplo, ser transparente e acessível, e promover um ambiente de trabalho colaborativo”.
“No meu dia a dia, procuro ouvir as ideias e preocupações da minha equipa, motivá-los a alcançar o seu potencial máximo e celebrar as suas conquistas. A valorização e o reconhecimento do esforço de cada membro são fundamentais. Também procuro criar um ambiente onde todos se sintam valorizados e onde a inovação é encorajada”, acrescenta.
Mas regressemos ao Dubai. Ao entrar-se no novo Serenity, é notória uma fusão harmoniosa entre Portugal e Dubai. “Inspirámo-nos na riqueza cultural e nos elementos naturais de ambos os locais, utilizando materiais portugueses e integrando design e decoração que evocam a tranquilidade e a elegância. Queríamos que os clientes se sentissem conectados tanto com a herança portuguesa quanto com o ambiente luxuoso do Dubai. O arquiteto Hugo Fonseca e a nossa equipa de design foram fundamentais para concretizar esta visão”, explica Maria D’Orey, que diz ainda que foram usados vários materiais portugueses na construção e decoração, desde a pedra até aos têxteis.
Os maiores desafios na implementação neste emirado foram, segundo Maria D’Orey, adaptar a oferta ao mercado local, mantendo os elevados padrões de qualidade pelos quais são conhecidos. “Foi necessário compreender as necessidades e expectativas dos clientes no Dubai, assim como integrar elementos culturais locais na nossa oferta. Adaptámos alguns tratamentos para melhor atender às necessidades e preferências dos clientes no Dubai.
Além disso, criámos um tratamento de assinatura Sentir o Dubai, inspirado nos ingredientes e tradições locais, com óleo de oud, pó de pérola, óleo essencial de rosa e folha de ouro, para oferecer uma experiência única e autêntica que reflete o espírito da região. Este tratamento é uma forma de homenagear e incorporar a cultura local”, conclui.
Rita Sepúlveda: a curiosidade faz uma investigadora
O querer saber sempre mais levou Rita Sepúlveda até à investigação universitária na área das Ciências da Comunicação e dentro desta focou-se nas plataformas de encontros. Mas não foi aí que o seu percurso prossional começou.
“Estudei Marketing e trabalhei durante vários anos na gestão e organização de eventos. Mas, como sou muito curiosa, gosto muito de estudar e de ler, fui sempre completando a minha formação. Quando acabei o mestrado em Ciências da Comunicação, um dos meus professores, disse que o meu tema era bom para levar para doutoramento”, conta.
Nunca tinha pensado nisso, mas como nunca diz que não a um bom desafio, candidata-se e entra. Tenta uma bolsa do FCT, que consegue e, assim, a investigação tornou-se a sua profissão e apaixonou-se. “Gosto de encontrar respostas para as minhas perguntas ou para as de outras pessoas e compreendi que conhecimento que é adquirido não deve de todo ficar fechado na academia”, sublinha a investigadora de post doc da ICNOVA – Universidade Nova de Lisboa.
No entanto “é muito duro fazer investigação em Portugal, devido a todos os condicionantes. A dependência de bolsas, a inerente instabilidade e precariedade na carreira tem impacto em como se faz investigação e na qualidade da mesma. Quero ter esperança e algum otimismo, porém, a atual situação deixa-me apreensiva. Sou suspeita, mas fazer ciência é fundamental para o desenvolvimento do País”, garante.
Quanto ao tema escolhido, as aplicações e relacionamentos amorosos, surgiu porque percebeu que era necessário desconstruir o que são as aplicações de dating, os seus usuários e a razão por que as usam.
“Mais do que mudarem os relacionamentos em si, as aplicações de encontros vieram alterar a forma como as pessoas se podem conhecer e a forma como olhamos para os relacionamentos. Permitem conhecer pessoas que de outra forma provavelmente não conheceríamos e até um maior número de pessoas. Como estão instaladas no smartphone que está sempre connosco, isso acontece qualquer lugar e a qualquer hora”, explica Rita Sepúlveda.
O facto de as aplicações estarem desenhadas dando muito ênfase no visual, o que leva a julgamentos superciais com base em fotografias, “também muda a forma como nós vemos o outro, além de nos darem a ideia de que existem perfis infinitos e que se não dá com esta pessoa existem mais x pessoas naquela app”.
O último paper que escreveu é sobre a motivação das pessoas quando deixam as apps de encontros. “Os cinco grandes motivos estão relacionados com as experiências, com o bem-estar, com as próprias funcionalidades, com questões que se prendem com a privacidade ou até no âmbito das transições de vida”, revela. O uso destas aplicações de encontros será sempre reflexo do que vai acontecendo na sociedade, da evolução da tecnologia e de como queremos relacionarmo-nos com os outros”, remata.