Empresas saudáveis têm trabalhadores mais produtivos. Esta é uma das grandes conclusões da coordenadora Sandrine Lage e de toda a equipa do Great Place to Work. Todos os anos, desde 1999, o Instituto seleciona anualmente, através de vários critérios, quais são as 25 melhores empresas para trabalhar em Portugal. Dessa lista, ainda escolhem aquela que mais investe em práticas de saúde e bem-estar.
Nesse sentido, que critérios são esses? No dia em que, segundo a Organização Mundial de Saúde, se comemora o Dia Mundial da Saúde (7 de abril) – este ano com o tema diabetes (saiba mais aqui), apresentamos-lhe as respostas de Sandrine Lage.
Veja aqui a eleição da empresa Great Place to Work em Saúde e Bem-Estar 2016.
Como são as melhores empresas para trabalhar em portugal?
Como é que nasceu e o que é o Great Place do Work?
Começou nos Estados Unidos da América, em 1981, curiosamente com um jornalista, o Robert Levering. Na época, quase todas as reportagens que se faziam sobre empresas eram negativas. O Robert decidiu mudar isso e procurar empresas que tratassem bem os colaboradores e onde o ambiente de trabalho fosse saudável. Começou a visitar uma série de sítios e ficou agradavelmente surpreendido com o que encontrou. Aí, decidiu publicar um livro [As 100 Melhores Empresas para Trabalhar na América] sobre isso. Foi um best-seller que deu origem à fundação do Instituto. Nessa altura foi criado um questionário que é feito aos trabalhadores das empresas para conseguirmos perceber o que lá se passa. Aliás, o questionário usado hoje em dia foi feito com base nas declarações dessas empresas que o Robert foi encontrando.
E em Portugal, quando é que o projeto chegou?
Embora muitas vezes não seja dita dessa forma pelos Estados Unidos, a verdade é que foi no Brasil que surgiu o projeto. Foi o Brasil que começou a divulgar o estudo em revista. Nessa altura Portugal trabalhava muito em sintonia com eles e resolveu importar a ideia. Aliás, nós fomos o primeiro país a publicar o estudo na Europa. Ainda não havia empresa e começámos com o projeto na revista Exame em 1999. Depois, resolvemos criar empresa, tal como já existia noutros países.
Quais são as ferramentas usadas para avaliarem as Great Place to Work?
São muitas, que vão desde a perceção dos colaboradores em relação à empresa, as práticas e os comentários dos colaboradores. Isto dá muito trabalho, cruzam-se os dados todos e tem que haver muita coerência para se chegar a um resultado fidedigno.
Como é que uma empresa se destaca em boas práticas na área de saúde e bem-estar? Quais são os critérios?
É essencial que as empresas promovam o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. A forma como o colaborador se sente tratado e valorizado como pessoa, a flexibilidade nos horários e a qualidade das instalações, se contribuem para um bom ambiente de trabalho ou não, também são critérios avaliados. Na questão da paternidade e maternidade, outro critério, vê-se se a empresa vai além daquilo que a lei prevê ou não. Depois há um fator fundamental: as empresas têm que apostar na formação (ensinar os trabalhadores a comprar, a consumir menos carne, a não levarem sacos de plástico para as compras, por exemplo). Numa última análise, a atenção recai para as práticas pontuais, como poder levar as crianças para o escritório e as empresas que disponibilizam vários serviços como costureira, sapateiro, manicura, farmácia e massagens.
Dando exemplos práticos e concretos, o que é uma empresa tem que ter a nível de saúde e bem-estar para ser um bom sítio para trabalhar?
Há muitos. A questão do ginásio e das parcerias, por exemplo. As empresas, para incentivarem a prática desportiva, não só suportam uma parte do custo do ginásio ou a sua totalidade, como criam grupos de ioga, corridas e jogos de futebol. Além da oferta da fruta fresca diária que já tem 10 anos, promovem a formação para que as pessoas tenham mais qualidade na alimentação. Ainda na linha da nutrição, sugere-se que as empresas recorram aos cabazes de fruta biológica e que os comprem a produtores locais. Estes cabazes são entregues no trabalho a preços mais vantajosos, o que faz com que os colaboradores não tenham que se deslocar. O nosso maior luxo é o tempo, certo? Por outro lado, os programas de assistência de saúde aos colaboradores são um critério básico. Neste momento, todas as empresas Great Place to Work cobrem 100% dos custos de oculista e dentista. Destacam-se aquelas em que o seguro é extensível à família e aquelas que têm algo diferente do previsto, como por exemplo medicinas alternativas. Valorizamos mais as empresas que tiverem essa prática do que aquelas que só têm o básico.
Acha que uma empresa deve ter, por exemplo, um ginásio nas suas instalações?
É algo que não se incentiva. Faz sentido se a empresa for grande e estiver isolada. Há o retorno de muitos colaboradores que não gostam de rever os colegas quando termina o dia. Gostam de mudar de ambiente. Claro que terem ginásio nas próprias instalações poupa tempo de deslocação. Se estivermos a falar de 5.000 colaboradores faz sentido, se estivermos a falar de 100 talvez já não.
E Portugal é um país que permite a prática de exercício indoor…
É isso mesmo. Por isso, incentiva-se a prática desportiva sem ser no ginásio. O ginásio é muito bom para países onde está sempre a chover. Aqui há o rio e o mar, não faz sentido estarmos fechados. O melhor é fugir da luz artificial e fazer caminhadas e corridas.
Como funciona a eleição do prémio Saúde e Bem-Estar?
A primeira triagem é o top 25 das melhores empresas para trabalhar em Portugal. Depois dessas 25 procuram-se as respostas dos colaboradores que melhor responderam às questões de saúde e bem-estar. Aí faz-se o equilíbrio entre o que as pessoas dizem que têm e as práticas que se vêm. Pegando num caso concreto que já referi, ganha a empresa que é mais diferente, a das medicinas alternativas, por exemplo.
Depois de ler este artigo, considera que está numa das melhores empresas para trabalhar em portugal? Saiba também como começar o seu próprio negócio.