Sobre ‘caçar’ tendências. “Acho que não nos tornamos, nascemos cool hunters”
Como nasce uma tendência? É possível prever o futuro analisando as tendências? O que é ser cool hunter (ou ‘caçador’ de tendências), afinal? A especialista no tema Vanda Jorge explicou-nos tudo.
Há 20 anos, ninguém ligava ao lado sustentável de uma marca, nem queria saber se esta estava a controlar o seu impacto negativo no meio ambiente. Hoje, pelo agravamento das alterações climáticas, há uma onda crescente de consumidores e indústrias a fazer deste o seu principal foco. É uma tendência em crescimento.
Como esta, há outras tendências que emergem e são transversais a várias áreas. E discuti-las pode ser uma boa forma de refletir sobre o futuro. Mesmo não sendo este um método tipo “bola de cristal”, afirma à Saber Viver Vanda Jorge.
Vanda Jorge é cool hunter e autora da secção Ecoolhunter do jornal ECO, onde aborda as tendências na área do marketing e das marcas. Iniciou em novembro um ciclo de conferências, as #ecoolhunter Talks, para discutir marcas e tendências uma vez por mês, com convidados de cada área. A primeira decorreu na Stivali, em Lisboa, e incidiu sobre o Sexo e o Luxo.
Falámos com a especialista sobre tendências, o cool hunting e o que podemos esperar na área da moda e do bem-estar.
Entrevista com Vanda Jorge, cool hunter
Como se tornou cool hunter e em que consiste a profissão (pode ser considerada profissão)?
De certa forma acho que não nos tornamos, nascemos. Sempre foi uma área que me apaixonou, que sempre fiz por prazer e curiosidade. Entretanto percebi que poderia ser uma área de trabalho interessante e encontrei um curso que fiz em Londres. Acho que quem trabalha a 100% na área pode ser considerada uma profissão, sim, mesmo em Portugal, onde lhe podemos dar outros nomes como trends research…
Das primeiras coisas que ouvi na escola em Londres é que já não era moda chamarmo-nos cool hunters, que hoje era mais cool ser trends research ou trends forecaster. Mas talvez por isso, por não ir muito nas “modas”, continuo a achar o termo cool hunter muito mais interessante. Até costumo fazer posts nas redes com as hashtags #coolhunting #stillcool #stillhunting.
É muito comum associar-se a palavra tendência ao mundo da moda. Mas este universo é bem mais vasto, correto?
Sim, é verdade que a moda e as tendências se “contaminam”, uma vez que ambas partem da observação do mundo, das subculturas, mas podemos falar de tendências de uma forma muito mais vasta. A moda é apenas uma das áreas.
Entender as tendências também nos ajuda a compreender a evolução dos tempos e da sociedade?
Se quisermos, as tendências não só nos ajudam a antecipar comportamentos como ao mesmo tempo nos ajudam a entender o que motiva esses comportamentos. Por isso, sim, é uma forma de entendermos o que acontece, como e porque acontece…
Como nasce uma tendência?
Da observação, do estudo e análise da sociedade, de alguma intuição e curiosidade. É um trabalho que pode resultar do conjunto das mais diversas disciplinas, de forma a entendermos todo o cenário.
Quem dita as tendências: as marcas ou os consumidores?
É uma questão que também coloco algumas vezes… Na minha opinião, ambos.
Que macrotendências transversais a várias áreas destacaria neste momento?
Uma coisa que ouvi ontem, numa conversa com um especialista em tendências: o tema da relevância ou irrelevância, que para mim faz muito sentido e vou aprofundá-lo, ou seja, sentirmos que somos ou não relevantes na sociedade actual. E outro tema que me deixou curiosa dessa conversa foi que o termo consumidor iria no futuro ser substituído por outro. Foi uma conversa muito interessante, e não sei se responde à questão, mas são dois temas que suscitaram interesse e que vou querer aprofundar
Para 2020, que tendências vão marcar a área do bem-estar? E a moda?
Na moda, diria que o tema da sustentabilidade vai continuar a ser uma área em desenvolvimento, com novos materiais, mas também creio que o tema da moda digital se irá desenvolver. Na área do bem-estar, entraria por exemplo numa área mais especifica que é o desenvolvimento da Beauty Tech, ou seja, a tecnologia cada vez mais a entrar dentro da área da beleza, seja em produtos, seja em serviços mais customizados.
É possível “prever” um pouco do futuro analisando tendências?
Acho que sim, não funcionando como uma bola de cristal. Mas dá pistas, aponta caminhos sobre como nos iremos comportar (consumidores e marcas).
Li Edelkoort, uma das principais trends researcher do mundo, compara a investigação de tendências à arqueologia, mas do futuro. É também assim que vê este trabalho?
Completamente. É preciso ir camada a camada, de pista em pista, juntando ‘peças’, estudando a forma como determinadas ideias surgem… É coleccionar dados e chegar depois a uma conclusão.