Trabalhar a partir de casa tem, sem dúvida, os seus benefícios – evita o tempo perdido em deslocações e permite poupar algum dinheiro –, mas os aspetos negativos também existem. Ter de trabalhar mais para se fazer notar é um deles. Quando não está fisicamente no escritório, como é que pode garantir que quem interessa olha para o seu trabalho?
A má notícia é que longe da vista pode mesmo significar longe do coração. Se não se mostrar, pelo menos, uma vez por semana, ao seu chefe, vai ser difícil este lembrar-se de si quando é preciso. Quando precisamos que alguém faça alguma coisa, o nosso cérebro pensa logo em quem está presente e não o contrário.
Bem-estar precisa-se!
Não se trata apenas de se ser lembrado na altura de promoções ou aumentos. Construir e manter relações de trabalho é essencial para o bem-estar dos trabalhadores.
Em casa, podemos acabar por criar uma bolha e evitar interromper ou incomodar alguém, mas é importante solidificar essas relações para que não nos sintamos sós ou isolados.
François-Pierre Puech, senior manager da Robert Walters Portugal, consultora de recrutamento profissional especializado, vai mais longe e defende que “não podemos deixar de falar na saúde mental. Apesar dos avanços positivos feitos na última década para melhorar o acesso ao suporte e começar a falar abertamente do tema, a saúde mental no local de trabalho continua envolta em tabus.”
“Agora, mais do que nunca, as empresas não podem deixar vacilar o seu compromisso com aquela perante a situação de pandemia global que vivemos. Os profissionais estão a trabalhar mais 28 horas, em média, por mês, com o teletrabalho, e 18% das pessoas sentem dificuldades em desconectar quando trabalham remotamente”, continua.
“Além disso, as principais dificuldades sentidas pelos profissionais em teletrabalho são a colaboração e comunicação (20%), a solidão (20%) e as distrações em casa (12%), segundo a análise The 2020 State of Remote Work, pelo que devemos colocar a saúde mental no topo das prioridades das empresas para garantir o bem-estar geral, essencial à continuidade do negócio”, remata.
Empresas bem preparadas
Contudo, o seu esforço para que reparem em si não vale nada se a sua empresa não estiver preparada e não apostar na presença como aspeto essencial de um trabalho bem desenvolvido.
A empresa é uma peça fundamental neste jogo, tem de criar uma ponte entre aqueles que estão a trabalhar em casa e quem ficou no escritório, além de que os chefes de equipa devem fazer formação neste sentido e dar atenção aos funcionários mais vulneráveis ou introvertidos.
As chefias precisam de aprender a reconhecer pessoas bastante qualificadas, mas que não gostam de dar nas vistas. Para François-Pierre Puech, “é importante incluir outro tipo de interesses e questões na comunicação vertical e horizontal: o quadro de trabalho remoto de cada funcionário é único, com maior ou menor qualidade (ruído, luz, espaço…), com mais ou menos interações externas ao ambiente de trabalho (família, colegas de casa…) que afetam o bem-estar emocional e, portanto, intelectual.”
E continua: “O empregador deve ter abertura para compreender a situação de cada um dos seus colaboradores, principalmente no confinamento, mas também quando o teletrabalho é um benefício, de forma a adaptá-lo às possibilidades de cada membro da equipa. Além disso, a gestão do trabalho remoto exige uma profunda mudança de mentalidade nos líderes de equipa, que devem basear os seus sistemas de avaliação em resultados e não no comportamento visível. Para que isso funcione, deve-se estabelecer e manter um ambiente de confiança entre o chefe e cada membro da sua equipa.”
“O colaborador deve adaptar o seu trabalho de acordo com as suas capacidades, exigindo que eleve a sua produtividade ao mesmo nível do resto da equipa. É um momento ideal para poder reforçar o compromisso empregador-empregado, criando um círculo virtuoso, reforçando a comunicação ascendente e descendente e, consequentemente, um maior bem-estar emocional”.