Nasci em Salvador da Bahia, Brasil, numa família de mulheres fortes. Desde pequena vi os meus pais a trabalhar muito para nos darem uma boa educação e qualidade de vida. Ambos trabalhavam no setor de educação, sendo que minha mãe chegava a trabalhar três turnos por dia como professora.
Foram inúmeras as vezes que eu e a minha irmã mais nova ouvíamos: “Já que não nascemos ricas, para crescer na vida e ser independentes, há que se trabalhar e estudar muito!”. Segui os conselhos dos meus pais e estudei. Não era a melhor aluna, mas esforçava-me muito, pois precisava de manter a bolsa de estudos e dar o exemplo.
Aos 16 anos concluí o ensino secundário e com tão pouca idade já tinha de definir a minha carreira profissional. Decidi seguir o meu coração. Como sabia que amava desenhar, comunicar e relacionar-me com as pessoas, os cursos que escolhi foram Arquitetura e Comunicação Social. De repente, dei por mim a tirar os dois cursos.
Naquela época, a minha família não tinha como pagar um curso numa universidade privada, e como eu não queria abrir mão do curso de Comunicação Social, resolvi trabalhar para pagar parte dos meus estudos. Trabalhava de manhã, almoçava no carro do meu pai enquanto ele corria para me deixar na Faculdade de Comunicação e finalizava a minha maratona diária às 22 horas, na Faculdade de Arquitetura… Tinha apenas 18 anos.
Era notório que eu não podia continuar naquele ritmo por muito tempo. Então, abandonei a Faculdade de Arquitetura, formei-me em Comunicação Social e fui fazer uma pós-graduação em Marketing!
Assumi o meu primeiro cargo de liderança e gestão de pessoas aos 23 anos. Amava o que fazia, não existia nada que me deixasse mais feliz do que relacionar-me com a minha equipa e solucionar os problemas dos clientes. Resolvi, então, voltar para a faculdade e estudar Administração de empresas.
Apesar de todo o meu esforço e preparação, sabia que a minha vontade de crescer profissionalmente poderia ser limitada pelas oportunidades do lugar onde eu vivia (Bahia). Por isso, comecei a candidatar-me para vagas de trabalho fora do meu estado e acabei por ter de deixar em suspenso a Faculdade de Administração para começar a minha jornada com as empresas de Retail pelo Brasil a fora.
Para quem queria desafios, ritmo intenso e crescimento profissional, parecia ser a fórmula ideal! Por ser solteira, sem filhos e demonstrar total disponibilidade, acabei por ser transferida e alocada nos mais diversos estados do Brasil – São Paulo, Pará, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraná.
Porém, já não tinha 20 e poucos anos. Queria parar num sítio específico para morar, criar vínculos e assentar. São Paulo seria “a” cidade: desafiadora, plural, é o centro financeiro e empresarial do Brasil e estava cheia de oportunidades profissionais.
Fiquei lá uns bons anos, fui crescendo e construindo uma carreira de sucesso, aceitava desafios, motivava as pessoas, tinha foco, resultados e era abordada por headhunters. Fiz um MBA em gestão de negócios, saí de empresas onde não me sentia desafiada ou não tinha possibilidade de crescimento (digamos que ser mulher e nordestina nem sempre foram facilitadores) e decidi que o meu lugar era onde eu quisesse estar e me sentisse bem.
O meu caminho podia não ser fácil. Muitas vezes não foi, mas eu adorava desafios, não havia limites para o meu sonho e nunca precisei de desrespeitar ou puxar o tapete a alguém.
Uma mudança de rumo
Seja bem-vinda à Sephora! Em 2012 iniciei a minha carreira no maior retailer de beleza do mundo como gerente de operações. Era o ano em que a empresa tinha entrado no Brasil e o meu desafio era estruturar toda a operação do retail. Acho que nunca trabalhei tanto na minha vida, nem me lembro de ter passado por tantos desafios e crescimento.
Participar desde o início numa operação que chega ao Brasil significa, literalmente, começar tudo do zero! Fui responsável por desenhar o departamento de operações e vendas, criar processos e procedimentos de loja, organizar e coordenar todas as inaugurações, criar o departamento de compras internas, prevenção a perdas, inventários, ufa!
Chorava com as inaugurações, sentia-me realmente dona do negócio e a Sephora tornava-se cada vez mais parte de mim. O que me diferenciava? A gestão de pessoas, a energia e foco em resultados. Até que finalmente cheguei ao tão desejado cargo de direção.
Ao todo foram quatro promoções em cinco anos. Vivia o sonho de todos os profissionais que queriam crescer, reconhecimento e desafios. Amava o que fazia e o facto de poder inspirar e ser inspirada pelas pessoas trazia-me muita alegria.
Contudo, em 2017 comecei a querer novos desafios. Sentia que já tinha cumprido a minha missão e conquistado o meu espaço, até que a minha antiga chefe e mentora, Flávia Bittencourt, juntamente com o CEO Global da época, ofereceram-me um novo desafio – Ser Country Manager da Sephora Portugal! Acho que foi a decisão de vida e carreira mais rápida que tomei.
Em Portugal, os meus desafios eram outros: melhorar o clima interno, trazer mais notoriedade para a marca, “digitalizar” a Sephora Portugal, lançar o site e fazer crescer o buzz nas redes sociais.
Passei por um dos maiores desafios da minha vida, desde adaptar-me a uma língua que eu julgava conhecer, entender a cultura através do comportamento das pessoas, habituar-me a estar sozinha num país desconhecido, longe da família e dos amigos. Tudo isso juntamente com a chegada dos meus 40 anos.
Tudo começou a pesar, sofria com a chegada das segundas-feiras, via os meus valores a serem postos à prova, sentia a distância da minha família e a minha saúde a fragilizar-se.
Queria fazer algo que tivesse impacto na vida das pessoas. Quando dei por mim, estava em frente à resposta. Aliás, eu sempre estive, só não percebia. Precisava de trabalhar com pessoas, orientando-as, inspirando-as e ensinando-as sobre como redirecionar as suas carreiras, mas sem deixar de lado o que realmente é importante para elas. Estava diante do meu propósito.
A pandemia chegou. Não estava feliz e já não se tratava de crescimento profissional. Não foi fácil deixar o cargo de Country Manager, os colegas e a empresa que eu amava, mas precisava de sair da zona de conforto e seguir o meu coração.
Foi então que, depois de 20 anos de liderança no setor de retail, 8 deles passados na Sephora – primeiro no Brasil e depois em Portugal – decidi repensar as minhas prioridades e despedir-me do meu trabalho, para poder abraçar uma nova jornada empreendedora.
A The Lighthouse, consultoria focada na orientação de carreira e propósito, foi a forma que encontrei para continuar a dar a minha contribuição, mas sobretudo, para expressar o que acredito. Que todos podem ser mais felizes se estiverem alinhados à sua verdade.
Descobri que posso viver com menos do que imaginava (financeiramente falando), mas que posso ser muito mais feliz, pois estou a dedicar-me exclusivamente a inspirar e ajudar as pessoas a viverem mais felizes e realizadas com a sua atividade profissional.
Há sempre algo que podemos fazer que nos torna únicos e que nos traz felicidade e plenitude, mas é preciso coragem para olharmos para nós e não cair na tentação de corresponder às expectativas alheias.