Sonhar pode ser arriscado, porque existe o medo da desilusão. Para quê pensar em ser, ter ou fazer algo (grandioso), se existe a probabilidade de não conseguir? Pois é, mas também existe a mesma probabilidade de conseguir.
A nossa mente escolhe onde vai colocar as energias e, regra geral, deixa-se influenciar por medos, o que se acaba por revelar num triste congelamento das nossas ambições e dos nossos sonhos.
A verdade é que, muitas vezes, a vergonha de sonhar é alimentada pela vergonha de parecer mal, ou ainda mais pela vergonha de falhar.
Atrevo-me, no entanto, a alertar para o seguinte: devemos sim sentir vergonha por nos estarmos a permitir viver uma vida mediana. Morna. Mais do mesmo. Todo-o-santo-dia. Devíamos, sim, ter vergonha disso.
Mas não! Optamos por ter vergonha de sermos diferentes do que é considerado normal, de seguir os nossos sonhos. Temos, sim, vergonha de sorrir, de sermos felizes.
E a vida vai passando. Vamos recebendo notícias de que alguém adoeceu, ou morreu, que alguém perdeu um outro alguém querido e sente vergonha de não ter feito mais por essa pessoa. Temos vergonha das coisas erradas e, ainda por cima, quando já é tarde de mais.
Escrevo esta crónica no dia em que recebi várias notícias fortes. Umas de pessoas que souberam que estavam doentes, outras de pessoas que se encontram hospitalizadas e inconscientes. Outras de pessoas que tiveram a coragem de se despedirem de empregos vazios e tristes e de seguirem assim os seus sonhos. Outras ainda decidem deixar tudo o que é certo e estável e abraçam o voluntariado em Cabo Verde. A vida é mesmo assim.
Não tenhamos vergonha do que fazemos, desde que seja feito com ética e respeito (por nós, essencialmente) e desde que não coloquemos o bem-estar de outras pessoas em causa. Tenhamos vergonha de lutarmos diariamente por ir contra a nossa essência, sendo que fazemos de tudo por ser apenas mais “uma”.
Não tenha vergonha de ambicionar determinado cargo ou projeto. Não tenha vergonha de dizer o que sente a quem deve ouvir.
Tenha orgulho dos seus sonhos e lembre-se, cabe-lhe a si fazer de tudo por torná-los realidade. Que história quer contar à sua família e aos seus amigos quando estiver em final de vida?
A vida é mesmo assim. Se dá valor à estabilidade, esqueça-a. Não existe nada de estável em sonhar.
Obrigada por estar desse lado.
Mafalda Almeida é a coach pioneira em Desenvolvimento Feminino, afirmando-se assim no mercado do desenvolvimento pessoal. É a autora do livro Veja em si a Melhor Mulher do Mundo (Marcador, 2018) e pode acompanhá-la através do seu site, Instagram e Facebook.