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Cleanfulness: ter a casa limpa pode ser altamente relaxante

Cleanfulness: ter a casa limpa pode ser altamente relaxante

Limpar é o novo zen. Pelo menos, é o que garantem os seguidores desta nova tendência de cleanfulness que promete ajudar-nos a fazermos as pazes com a limpeza sem nos tornarmos escravas da lixívia.

Por Set. 24. 2020

Pode estar a perguntar-se o que é que limpar tem a ver com meditação, já que é um assunto que não a deixa minimamente tranquila. Mas continue a ler, uma vez que neste artigo não vamos ensiná-la a tornar-se uma escrava da lixívia, mas sim ajudá-la a fazer as pazes com a limpeza.

Todas temos vidas ocupadas, por isso precisamos de arranjar formas eficazes e rápidas para executarmos as tarefas diárias, semanais e mensais que podem acumular-se e fazer com que nos sintamos derrotadas…

Ser consciente e mindful é uma terapia conhecida para lidar com o stresse, a ansiedade, a depressão e o mau humor, e é possível usar o mindfulness – ou cleanfulness, como agora lhe chamam vários autores – enquanto limpa para melhorar de uma só vez o humor e o espaço onde vive.

Damos-lhe várias dicas para que se sinta bem e em paz com a sua casa.

O que é o cleanfulness?

Enquanto o mindfulness é usado para canalizar as emoções e para que estas não afetem negativamente o dia a dia, o método cleanfulness está relacionado com o estado de paz interior que manter a casa limpa e em ordem provoca.

Isto porque o ambiente em que vivemos tem muita influência sobre nós e pode até afetar a qualidade do nosso descanso.

No livro The Little Book of Cleanfulness (Ebury Publishing), a autora, April, mais conhecida como The Secret Cleaner, dá-nos sugestões para limparmos a casa com o mínimo esforço, tempo e produtos e para transformarmos as limpezas numa experiência positiva.

Para isso, April começa por sugerir que avaliemos o nosso humor: “A primeira coisa a fazer é perceber como é que as limpezas a fazem sentir. E não estou a falar da casa já limpa – nunca conheci ninguém que me dissesse que uma casa limpa e arrumada a deixava deprimida! –, mas de como o processo de limpeza a faz sentir-se”.

“A extensa lista de tarefas deixa-a ansiosa, confusa e zangada? Sente-se assoberbada quando pensa em arrumar e limpar? Limpar é uma tarefa que nos toca a todos – a não ser que tenha uma equipa de ajudantes que lhe limpe a casa de banho e apanhe a roupa do chão. Se sim, ainda bem!”, esclarece.

A verdade é que muitas de nós nos sentimos stressadas com a ideia de limpar e acabamos por adiar a tarefa, o que só piora a situação.

Para a autora, “as limpezas não têm de ser nossas inimigas e temos de conseguir inverter a nossa relação com elas. Estas devem ser vistas como a solução e não como a causa do stresse e preocupação. O aspeto mais surpreendente do ser humano é a sua capacidade de dar a volta às situações, ou seja, uma tarefa à partida desagradável pode ser transformada num desafio ou descoberta, desde que alteremos a forma como olhamos para ela!”.

Mas como pôr em prática este método? Comece por dividir as tarefas de acordo com a prioridade e o tempo que quer dedicar a cada sessão de cleanfulness.

Não queira fazer tudo de uma vez, não há pressa, amanhã também é dia. Tenha em mente que estas sessões não servem para deixar a casa perfeita, mas ao seu gosto, de forma a que se sinta em paz e tranquila.

Não limpe as janelas por obrigação, mas para permitir que a luz e o sol entrem em sua casa, o que se refletirá positivamente no seu estado de espírito e energia.

Se a tarefa de que menos gosta é limpar a casa de banho, por que é que não experimenta esfregá-la ao ritmo de música e deixar-se levar como se fosse a própria Beyoncé?

De certeza que se vai divertir. O truque é manter o pensamento positivo, pensar no cheiro a limpo da sua casa de banho, no lavatório a reluzir, nas bancadas da cozinha sem migalhas ou no quão fofa e suave ficará a almofada da sala.

Do Japão para nossas casas

Shoukei Matsumoto é monge budista no templo Komyo-ji, em Tóquio, e também ele um acérrimo defensor da limpeza como uma forma de nos equilibrarmos e vivermos em paz. Como tal, lançou recentemente o Manual de Um Monge Budista para Limpar a Casa e a Mente (Pergaminho), um guia que demonstra como trazer a tranquilidade e a serenidade de um templo budista para as nossas casas.

“No mosteiro, começamos o dia a limpar. Fazemo-lo para eliminar a escuridão dos nossos corações”, conta nas primeiras páginas do seu livro.

Para os japoneses, limpar é mais do que uma tarefa entediante. Nas escolas primárias, as crianças limpam a sala em conjunto: “É uma prática ascética para cultivar a mente”, explica Shoukei Matsumoto.

Em Manual de Um Monge Budista para Limpar a Casa e a Mente, há hora marcada para a limpeza: esta é feita quando existe tempo livre, uma vez que procura remover as sombras instaladas nas nossas mentes.

“No entanto, fazê-la à noite, mesmo que estejamos determinados a tal, não proporciona a mesma sensação de prazer. Nos templos, não se inicia a limpeza perto do pôr do sol, para que não seja necessário interrompê-la com o início da noite. O melhor momento para se fazerem limpezas é pela manhã”, defende o autor, que sugere que, antes de iniciar essa tarefa, deve abrir as janelas e renovar o ar, purificando-o.

O ar fresco flui pela janela na alvorada, toca a nossa pele e desperta-nos de forma agradável. Inspiramos fundo e, com os pulmões plenos de ar puro, preparamos o espírito para a limpeza. Por mais que limpemos as divisões da casa e estas se apresentem impecáveis, se não fizermos circular o ar estagnado, o nosso espírito também permanecerá parado.”

Passos para uma casa e mente limpas

Quatro sugestões para pôr em prática o método cleanfulness da melhor forma possível.

1. Arrume e limpe a seu gosto

Não se concentre apenas em deixar a casa num brinco, mas sim em organizá-la de uma forma mais cómoda e que mais se adeque às suas necessidades (e da sua família) e ao seu gosto.

Quem sabe se não é mais prático para si arrumar a roupa do seu filho por conjuntos e cores, e não por tipos de peça.

2. Tente descobrir o benefício de cada elemento da sua casa

Às vezes, organizamos e limpamos apenas porque é preciso, sem pensarmos no lado prático e funcional da limpeza. É importante ter em conta que tudo o que arruma e limpa pode influenciar positivamente o seu bem-estar.

Por exemplo: além de evitar que os ácaros se acumulem no local onde dorme, trocar os lençóis uma vez por semana faz com que desfrute de um ambiente muito mais sereno.

3. Veja-a como uma atividade divertida

Se organizar e limpar são tarefas que a deixam louca, aconselhamo-la a planeá-las como uma atividade familiar e a dar-lhes um toque divertido: ponha música e aproveite para passar um tempo entretida com os seus filhos. De certeza que vão querer repetir.

4. Pense nos resultados de manter a casa arrumada e faça do cleanfulness parte da sua rotina

Aprecie as gavetas organizadas, uma cozinha onde encontra todos os utensílios à primeira e um quarto que induz ao relaxamento. São sensações únicas.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 243, setembro de 2020.
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