10 passos para uma cozinha mais sustentável
A cozinha é um espaço onde muitos recursos naturais são utilizados e onde existe um grande potencial para o desperdício. Vamos tornar as nossas cozinhas em locais mais sustentáveis?
Quase todos os dias, nas nossas cozinhas, há uma enorme utilização de recursos naturais, entre a energia que utilizamos para cozinhados e limpezas, a água que também é essencial para essas funções, e os alimentos que cozinhamos.
Para além disso, há também um enorme potencial para o desperdício, tanto o alimentar, como o de todas as embalagens e objetos que são utilizados com frequência nesta divisão da casa.
Havendo uma utilização tão elevada de recursos, há também potencial para ajustar hábitos e reduzir a pressão sobre o planeta.
Proponho-lhe, então, 10 passos (sem ordem fixa) para considerar no caminho rumo a uma cozinha mais sustentável.
10 passos para uma cozinha mais sustentável
1. Reduzir o desperdício alimentar e compostar tudo o resto
Estima-se que o desperdício alimentar seja responsável por entre 8% e 10% das emissões globais de gases de efeito de estufa, sendo que, segundo o Project Drawdown, reduzir este tipo de desperdício é uma das ações mais importantes que podemos implementar para combater o aquecimento global e manter a temperatura dentro dos limites definidos no Acordo de Paris.
Entre aproveitar todas as sobras das refeições anteriores para refeições seguintes (voltando, simplesmente, a aquecê-las, ou transformando-as em novos pratos), e utilizar as partes comestíveis, mas menos “nobres”, dos alimentos (incluindo talos e cascas), já estará a dar um contributo importante para a redução do desperdício alimentar.
Já no caso das partes não comestíveis dos alimentos, ou quando algum alimento acaba por se estragar (que é sempre de evitar ao máximo!), a compostagem será uma forma de valorizar esses resíduos orgânicos.
Existem vários métodos que podem ser aplicados em casa (como a vermicompostagem, a compostagem bokashi ou a compostagem termofílica), havendo também alguns programas para compostagem comunitária.
2. Fazer uma alimentação predominantemente de base vegetal
De acordo com o Project Drawdown, a adoção de dietas de base vegetal é, para além da redução do desperdício alimentar, mais uma das ações importantes para a redução das emissões de gases de efeito de estufa.
Os alimentos de origem vegetal têm, em geral, pegadas hídrica, carbónica e de ocupação do solo inferiores aos dos alimentos de origem animal. 1 kg de carne de vaca, por exemplo, pode estar associado à emissão de 99,5 kg de dióxido de carbono equivalente.
Alternativas vegetais estão geralmente associadas a emissões inferiores: a produção de 1 kg de tofu, por exemplo, pode estar associada à emissão de 3,2 kg de dióxido de carbono equivalente (Poore, J., & Nemecek, T. (2018).
Não é necessário fazer uma mudança drástica e repentina na sua alimentação, mas incorporar progressivamente mais refeições de base vegetal pode ser uma boa aposta.
3. Comprar alimentos a granel
A compra a granel facilita a redução do uso de embalagens descartáveis, assim como uma diminuição do desperdício alimentar, uma vez que permite que se compre apenas as quantidades necessárias.
Para além dos alimentos, hoje em dia também já é possível comprar outros produtos, como detergentes, nesta modalidade.
Existem cada vez mais lojas e supermercados com opções de compra a granel, espalhados por todo o País.
4. Ao comprar produtos embalados, ter atenção a alguns fatores
Não sendo possível comprar tudo a granel (por diversas razões), há alguns cuidados que podemos ter ao avaliar as embalagens em que são acondicionados os produtos que adquirimos.
No caso dos alimentos, as embalagens contribuem, em média, com 5% das emissões associadas, e, em alguns casos, até são importantes para ajudar a preservar os alimentos por mais tempo.
Mesmo assim, e tendo em conta que os outros produtos utilizados na cozinha também são, muitas vezes, vendidos em embalagens, faz sentido dar alguma atenção a este assunto.
Priorizar embalagens feitas com materiais reciclados e recicláveis, assim como embalagens com maiores quantidades do produto em questão (que costumam ter menor percentagem de material de embalamento por produto final), podem ser boas estratégias.
5. Optar por reutilizáveis em vez de descartáveis
Para além de ajudarem a reduzir o lixo e o desperdício gerado, os objetos reutilizáveis permitem também poupar no médio prazo.
Neste vídeo, fiz a análise financeira para vários dos reutilizáveis mais utilizados.
6. Optar por produtos certificados, quando possível
As certificações externas são boas ferramentas para aferir o impacto e a responsabilidade social e ambiental dos produtos e marcas que escolhemos.
Alguns exemplos deste tipo de certificações são a EU Ecolabel, Rainforest Alliance, FSC, B Corp, Fairtrade e o logotipo orgânico da União Europeia.
7. Usar água de forma eficiente
Temos presenciado períodos de seca bastante longos e frequentes e, atualmente, estima-se que Portugal estará perante risco de escassez hídrica nos próximos anos. Assim, poupar água é essencial.
Entre utilizar água de forma consciente e regrada, reutilizar a que estiver praticamente limpa (por exemplo, reutilizar a água de cozer massa para fazer sopa; ou reutilizar a água de lavar fruta como autoclismo) e optar pelos programas Eco nas máquinas de lavar loiça e roupa, há muito por onde poupar.
8. Usar energia de forma eficiente
O setor energético contribui, atualmente, com cerca de 70% das emissões de gases de efeito de estufa, sendo, por isso, uma área a priorizar no combate às alterações climáticas.
Usar a energia para iluminação, cozinhados e lavagens de modo eficiente é essencial.
9. Dar prioridade a eletrodomésticos mais eficientes
Caso esteja a ponderar adquirir um novo eletrodoméstico, ter em conta a sua eficiência na utilização de água e energia permitirá, no médio/longo prazo, poupanças consideráveis destes recursos (assim como poupança financeira).
As etiquetas energéticas são ferramentas a considerar.
10. Descartar eletrodomésticos de forma correta
Se vai adquirir um novo eletrodoméstico, é possível que o anterior se tenha estragado. Se tiver reparo, o ideal é sempre reparar mas, caso não haja mesmo forma de o recuperar, é fundamental fazer o descarte de modo correto, já que o lixo eletrónico pode ser altamente prejudicial para o ambiente, se for colocado no lixo comum ou nas ruas, como acontece, por vezes, no caso dos chamados “monos”.
Nos sites ondereciclar.pt ou wasteapp.pt pode encontrar locais para onde o encaminhar.
Caso tenha interesse em explorar mais este tema, no meu e-book Uma Cozinha Mais Sustentável aprofundo estes assuntos com muitas dicas, estratégias e soluções práticas.
Rita Tapadinhas formou-se em Gestão, e foi quando começou a trabalhar que se tornou cada vez mais alerta para os problemas ambientais. Em 2019 criou o Plant a Choice, um projeto que pretende alertar para os problemas ambientais e mostrar, de forma prática, como podemos tornar os nossos hábitos diários mais ecológicos e sustentáveis. Atualmente, o @plant.a.choice (no Instagram) conta também com um podcast e dois e-books.