Ainda as redes sociais e os meios de comunicação nacionais estão em polvorosa com a moda das Portuguese Girls e nós já andamos de olho no hashtag #artdelatable.
Enquanto as primeiras são influencers portuguesas que se vestem com roupas de aspeto vintage, cores garridas, formas desconexas e padrões aparentemente inconjugáveis, as francesas estão a direcionar a sua criatividade para a decoração, mais concretamente, para arte de pôr a mesa, e servem as suas criações gastronómicas em serviços desencontrados, com padrões florais trabalhados, herdados dos avós.
Tal como a moda, que eternizou o mix and match e que vive de felizes desencontros, também a decoração gosta de misturar padrões e texturas.
Loiças antigas: passado e futuro
Não há muito tempo, era quase impossível conseguir-se vender serviços de porcelana deixados como herança. Muito pesados, muito formais e muito… decorados, ninguém queria dar um preço justo pela loiça que os nossos avós tanto estimaram. Mas o cenário mudou.
Agora, não há millennial que não ande à caça de acessórios de mesa de aspeto burguês para melhor subverter os seus códigos.
Em França, há instagrammers especialistas na #artdelatable, caso de Blanche Patine, que tem mais de 41.500 seguidores, e até um showroom em Paris onde vende as suas descobertas de cerâmica do século XIX, e a popularidade de hashtags como #vaisselleancienne (pratos antigos, em português) ou #artdelatable contam com centenas de milhares de publicações.
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Ainda ontem estava em França e agora já está cá
Com a disseminação deste gosto pela arte de pôr a mesa, várias marcas de loiça que estavam adormecidas começaram a ver as suas vendas subir exponencialmente e até já lançam coleções de pratos desemparelhados para saciar a fome dos consumidores.
Em Portugal, além da tradicional Vista Alegre, começamos a ouvir falar de nomes como a Valsa Home, que homenageia as tradições cerâmicas portuguesas, mas as apresenta com um twist de modernidade, estando à venda
em vários pontos no mundo.
E como nem só de pratos vive a #artdelatable, também os negócios dedicados aos têxteis de mesa começam a crescer, e encontramos agora sugestões de toalhas, guardanapos e individuais como as da Aida Home Living, marca criada por quatro primas de Guimarães apaixonadas pelo universo têxtil e pela decoração.
No universo da restauração, como oposição aos serviços frios, de uma só cor, e formas pouco apelativas, restaurantes como o Maroto, no novíssimo Independente Comporta, preferem homenagear o que de melhor se faz gastronomicamente em Portugal casando pratos típicos com loiças ligadas às nossas tradições.
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A culpa (ainda) é da pandemia
Mas, de onde vem esta obsessão por serviços de mesa aparatosos?
A tendência ganhou popularidade não só por causa do sucesso dos programas de culinária e do gosto pela cozinha, mas também pelo maior investimento que fizemos na decoração das nossas casas, três fatores reativados durante a pandemia.