Nas mãos de ambos, pedaços de madeira que seriam desperdiçados transformam-se em colheres, facas e peças decorativas. Eis a Luna Home Decor, uma marca portuguesa sustentável de carving.
Entrevista a Raquel Vilela e Tiago Fernandes, artesãos
Como é que surgiu a Luna Home Decor?
Raquel Vilela: O Tiago tem muito jeito para tudo o que é trabalhos manuais e, quando começámos a viver juntos, sentimos dificuldades de, com pouco budget, diferenciar as peças de decoração da nossa casa. Começámos a desenhar algumas coisas e a interessarmo-nos pelo carving (técnica de talhar à mão). Ofereci um workshop ao Tiago e, depois, ele encomendou as ferramentas e começou a testar com madeira que íamos encontrando. Isto coincidiu com um ano em ele esteve em casa a aguardar por uma cirurgia.
Tiago Fernandes: Fiquei um nerd das colheres [risos]. Fiquei completamente viciado e até dizia que tinha de fazer uma colher por dia para me manter bem a nível mental.
R.V.: Os nossos amigos estavam sempre a dizer que tínhamos de mostrar o que andávamos a fazer e, por isso, criámos a nossa página na Internet, mas não tínhamos nada definido, foi tudo muito orgânico.
A sustentabilidade é importante em todos os procedimentos da Luna Home Decor
Só usam madeira reutilizada. Como obtêm a matéria-prima?
R.V.: Os nossos seguidores contactam-nos quando têm madeira que possamos usar e, quando vamos de férias ou de fim de semana, aproveitamos para procurar carpintarias que nos cedam os seus excedentes. Eles estranham, mas depois alinham. Também tivemos um vizinho que vendeu a casa e deu-nos as tábuas que foram retiradas do chão. Além de reutilizarem madeira, também não usam químicos para a tratar.
T.F.: Só usamos cera de abelha natural para hidratar as peças; não fazia sentido usarmos verniz. Para escurecer a madeira, usamos vinagre e, consoante a clorofila que a madeira tem, escurece mais ou menos. Guardamos também todo o desperdício e, no Natal, fizemos bengalas para as árvores.
R.V.: A sustentabilidade é importante em todos os procedimentos, desde as caixas onde embalamos as peças, que são recicladas e recicláveis, às lascas com as quais acomodamos as peças. Além disso, também tentamos fazer as entregas nos CTT uma vez por semana, evitando fazer deslocações diárias.
Quando olham para esses pedaços de madeira, imaginam logo em que objeto se poderá tornar?
T.F.: Quase sempre sim, mas há aqueles mais orgânicos, e aí temos de aproveitar as suas imperfeições para criar algo e, nesse caso, podem ser peças únicas.
Integram a Portugal Manual. Esse passo foi importante para a marca?
R.V.: Sem dúvida, demos um pulo desde que entrámos para a Portugal Manual. Deu-nos projeção e de alguma forma credibilidade. Passámos a ser contactados por pessoas que não nos conheciam.
T.F.: Até à Portugal Manual, vendíamos só através do nosso site e Instagram, agora estamos também na loja da Portugal Manual, no CCB, e na Depozito.