Studioneves, o estúdio de cerâmica que cria peças para restaurantes com estrelas Michelin
Alex Heel e Gabi Neves trocaram a publicidade pela cerâmica e, hoje, as suas peças elevam os pratos de chefs renomados em vários pontos do globo.
Conversámos com a dupla Alex Heel e Gabi Neves , do Studioneves, para descobrir tudo sobre o seu negócio de sucesso, a sua coleção Plant Based, e como é ter o seu nome na mesa de alguns dos restaurantes mais famosos do país.
Entrevista a Alex Heel e Gabi Neves
Como é se interessaram pela cerâmica?
Tudo começou quando trabalhávamos numa agência de publicidade, em São Paulo, e decidimos fazer uma pausa. Fomos viver para Barcelona para fazer um mestrado e perceber o que queríamos fazer dali para a frente. Gostávamos do que fazíamos, mas era muito intenso e queríamos algo mais ‘paz e amor’. Queríamos um ateliê e visitámos muitos de várias áreas. Um dia fomos a Bisbal, que é um polo de cerâmica, e encontrámos uma escola que tinha a opção de alojamento. Ali ficámos totalmente imersos na cerâmica e apaixonámo-nos. Quando voltámos ao Brasil, começámos por fazer produtos à medida de retalhistas, até que uma senhora que tinha um catering nos fez uma grande encomenda.
Foi a partir daí que se aproximaram da restauração?
Sim, nessa altura abrimos os olhos para esse mercado. E, depois de adiarmos o encontro com Alex Atala [chef do D.O.M., restaurante com duas estrelas Michelin] por achar que ainda não estávamos preparados, fi zemos uma coleção para ele e a partir daí, muitos outros chefs vieram ter connosco. De repente, tivemos uma subida vertiginosa.
Por que é que decidiram vir para Portugal em 2018?
Em 2016, já tínhamos atingido um nível nacional muito interessante, vendíamos para 220 restaurantes e não tínhamos espaço para clientes novos. Depois, com os filhos vieram as questões da insegurança e ou nos acomodaríamos, ou vínhamos embora. Decidimo-nos pela segunda; não queríamos virar estatística da violência.
Foi recomeçar do zero?
Completamente. Primeiro, foi difícil montar o ateliê, porque o equipamento atrasou-se e também não conhecíamos o mercado. Foi, então, que fomos ao Congresso dos Cozinheiros, ainda sem o ateliê pronto, e o chef João Rodrigues, que estava no Feitoria, encomendou-nos uma coleção para o Rossio Gastrobar, que iria abrir. Dissemos logo que sim e, depois de um choradinho, lá nos entregaram tudo e, na data combinada, estava tudo pronto. Mas a obra do Gastrobar atrasou e o João começou a usar a coleção no Feitoria. Foi um belo pontapé de saída e teve o efeito semelhante ao do Alex Atala no Brasil.
A sustentabilidade é uma das vossas bandeiras.
Queremos ser o estúdio de cerâmica mais sustentável do planeta Terra. Claro que a cerâmica tem uma limitação grande, pois todas as peças precisam de passar por um forno que emite CO2. Mas tentamos reduzir ao máximo o nosso impacto e compensamos com a plantação de árvores para atingirmos a neutralidade carbónica. Também usamos a água das chuvas na nossa produção e na limpeza do ateliê, (temos um sistema de captação e um reservatório 20 mil litros) e placas solares que alimentam o forno elétrico. Somos a única empresa de cerâmica com certificação da B Corp e a mais bem classificada do mundo.
Falem-nos um pouco da coleção Plant Based…
É produzida com um vidrado feito a partir de talos de arroz e cinzas dos fornos de pizarias, em vez da sílica. É uma técnica criada pelos chineses há mais de três mil anos e foi um grande desafio, porque tinha de funcionar para a gastronomia. Quando o conseguimos, foi muito satisfatório.
Coleção favorita
“A primeita que criámos para o D.O.M. O Alex Atala convidou-nos para jantar e, depois, disse: ‘agora, criem uma peça para cada prato. Foi o gatilho de que precisávamos. Por exemplo, ele servia formigas e pusemo-las numa peça que era uma folha de bananeira”.