© Shutterstock
Como 5 dias dedicados ao autocuidado afetaram a minha vida

Como 5 dias dedicados ao autocuidado afetaram a minha vida

Durante uma semana, tentei aprender as ferramentas necessárias para fazer do autocuidado uma rotina. Eis o que implicou, as lições que aprendi e como a experiência mudou a forma como encaro o dia a dia.

Por Mar. 7. 2019

Teremos as ferramentas certas para saber cuidar de nós mesmas? Para saber o que nos faz bem, de forma holística? O que implica o autocuidado? Embarquei nesta descoberta, ao longo de cinco intensos dias, que agora conto na primeira pessoa. E não, não se tratou de uma ida ao spa, fazer a manicure, uma massagem ou relaxar numa ida às compras. Quis ir mais longe, mais profundo.

Durante cinco dias, dediquei-me a cuidar de mim, a tentar compreender o corpo e a mente em prol do bem-estar. Escolhi Margaret Rosania, health coach e fundadora da Siendo – Art of Being, uma espécie de boutique holística do bem-estar, para me ajudar.

Bem-estar, uma escolha nossa

Antes de avançar, é importante perceber os conceitos. Já se perguntou o que é para si bem-estar? Para Meredith Gaston, autora do livro A Arte do Bem-Estar – Uma Vida Feliz Inspirada pela Natureza (Casa das Letras, 2019), “o bem-estar é uma experiência holística e feliz de vitalidade, em que nos sentimos revitalizados, confortáveis, ligados e inspirados.”

E acrescenta: “O nosso bem-estar é cultivado por todas as escolhas generosas, sábias e compreensivas que fazemos para cuidar da nossa saúde e felicidade. Estas escolhas abrangem os nossos pensamentos e ações, as nossas conversas íntimas, a comida que ingerimos, a nossa maneira de cuidar do corpo e o apoio que damos a nós mesmos e aos outros”. A escolha é nossa, portanto.

Quantas vezes por semana (ou por mês) faz um check-up mental para entender como se sente? À pergunta “como se sente?”, a resposta habitual, caso estejamos bem de saúde, é: “bem”. Mas será? A verdade é que não costumamos verificar realmente.

Afinal, quantas vezes num dia relegamos para segundo (terceiro, quarto…) plano a ação de olhar para nós mesmas e entender o que precisamos? Não é ao espelho, é para dentro – da mente, do corpo, do coração? E mesmo que conseguíssemos, será que saberíamos fazê-lo?

Lembro-me de ter pensado: ‘isto vai ser mais difícil do que imaginei’. Nunca fiz grandes jejuns e achava que esta questão iria ser das mais complicadas desta semana (que ingénua!).

5 dias de autocuidado. O que implicou?

O passo zero deste ‘curso intensivo’ de autocuidado foi o preenchimento de um longo questionário, com base nos princípios da Ayurveda. Um processo de autorreflexão algo complexo, com muitas perguntas para as quais não tinha a resposta na ponta da língua (“Como costuma ser o seu estado mental?”, “Como é a sua voz e fala?”, “Como é a sua digestão?”).

Todos os dias desta semana começaram com uma aula de ioga, seguida de um pequeno-almoço ayurvédico.

Ashtanga Yoga

O primeiro dia foi estranho e entusiasmante ao mesmo tempo. Às 8h lá estava eu, à porta da Siendo, na Estrela, em jejum, para a aula de ioga. Não sou novata no ioga, mas em termos técnicos e sem comer, não sabia o que esperar. Aguardavam-me uns intensos 60 minutos de Ashtanga Yoga, orientada pela instrutora e terapeuta Yara Koberle.

Uma das asanas (posturas) da sequência que trabalhei durante toda a semana

Lembro-me de ter pensado: “isto vai ser mais difícil do que imaginei”. Nunca fiz grandes jejuns e achava que esta questão iria ser das mais complicadas desta semana (que ingénua!). Entre acordar e tomar o pequeno-almoço, havia um hiato de pelo menos duas horas e meia. Para mim é imenso, que acordo sempre cheia de fome e o pequeno-almoço é a minha refeição favorita!

O ioga foi uma constante nestes cinco dias. Apesar de ter sido fisicamente exigente (as dores no corpo não me largaram!), fez-me sentir mais enérgica e focada o resto da jornada. E ao terceiro dia, a fome deixou de ser um problema.

Pequeno-almoço ayurvédico

A seguir à intensa aula de ioga, esperava-me uma refeição quente e personalizada, à luz do que respondi no questionário. Sendo uma pessoa friorenta, faz todo o sentido que no inverno dê privilégio a refeições quentes, cozidas e com especiarias, explica-me Yara, enquanto polvilha a bowl com canela.

Nesta semana, o meu pequeno-almoço variou entre iguarias indianas baseadas na nutrição ayurvédica: papas de aveia e quinoa com fruta cozida, passas, tâmaras e sementes; flocos de arroz e legumes (Poha); panqueca de aveia (só misturada com água) e compota de maçã cozida; e panqueca de farinha de grão com tofu e tomate. Tudo com muitas especiarias – cardamomo, canela, pimenta…

Panqueca de aveia com puré de maçã e especiarias.

O meu trabalho de casa, no que toca à alimentação, era tentar não ingerir carne, banir alimentos processados (adeus bolachas a toda a hora na secretária!) e “comer passas como um remédio”.

Sessões de health coach

O meu programa intensivo de cinco dias incluiu duas sessões com Margaret Rosania, “health coach for a sustainable life”. Uma no início e outra no final, para fechar o ciclo. É ali que se conversa sobre quem somos (ou quem achamos que somos), o que pretendemos melhorar na nossa vida, que obstáculos enfrentamos e como nos podemos compreender melhor a todos os níveis.

Falámos das energias dos cinco elementos da Natureza e na forma como estas se manifestam no nosso corpo e mente, algo totalmente novo para mim. De signo Touro, a energia Terra é das que tenho mais enraizadas e desenvolvidas.

As sessões têm uma grande componente de reflexão e pretendem desenvolver o autoconhecimento, a chave-mestra do autocuidado. Como TPC, levei a tarefa de sentir mais. Sem dúvida, a mais complexa de toda esta experiência!

 

Enquanto estava deitada, a terapeuta usou as mãos, os cotovelos e os pés para me descomprimir músculos que eu nem sabia que estavam tensos. Tudo isto com a ajuda de óleos essenciais.

Journaling

Desde que iniciei esta experiência, que mantenho uma espécie de diário. O journaling foi uma das tarefas que Margaret que deu. A ideia era escrever como me sinto todos os dias ao acordar. “Pode ser uma frase ou uma página inteira”, explica-me.

Foi uma tarefa fácil e que me fez recordar os meus tempos de adolescente, em que escrevia durante horas num diário brilhante, com canetas de várias cores. Sempre fui dada à melancolia e à introspeção, mas só nesta fase me dei conta das saudades que tinha de escrever de forma livre. É libertador, sem julgamentos nem pressões. Já experimentou?

Yoga Massagem Ayurvédica

Este foi um dos momentos mais “dolorosos” de toda esta experiência, mas que gostava de repetir todos os meses. Confusa? Eu explico. É que não se trata de uma simples massagem de relaxamento (quem consegue relaxar a gemer de dor, afinal?), mas da mais completa e antiga técnica de massagem natural indiana.

Enquanto estava deitada, a terapeuta usou as mãos, os cotovelos e os pés para me descomprimir músculos que eu nem sabia que estavam tensos. Tudo isto com a ajuda de óleos essenciais. A dor pode ser intensa em algumas partes do corpo, mas muito benéfica. Isto porque nos dias seguintes sentimos o corpo leve, enérgico e alinhado.

Mas a função da Yoga Massagem Ayurvédica vai além da libertação das tensões musculares. Ela reequilibra o corpo e a mente, centrando-se na energia vital, na circulação sanguínea e na respiração. O veredicto final? É uma “tortura” boa, pela qual vale mesmo a pena passar.

É difícil transpor em palavras. Diria que sentimos como se a mente se “abrisse” e ganhasse mais espaço. Estranho, eu sei, mas uma sensação muito boa. E ao todo passam apenas 30 minutos!

Consulta homeopática

Foram precisos 90 minutos para responder ao questionário de Gustavo Hallal, homeopata parceiro da Siendo. “Eu falo muito”, desculpei-me, enquanto olhava para o relógio. “Isso é ótimo para um homeopata, porque quanto mais informação detalhada tivermos, melhor”, respondeu-me calmamente.

Gustavo Hallal, que se formou em medicina no Brasil, tendo posteriormente enveredado por esta terapia, acredita que a homeopatia é complementar à medicina tradicional (alopatia).

Fiquei surpreendida com a quantidade e o tipo de perguntas feitas para construir a ficha. E fiquei ainda mais impressionada com o tratamento prescrito, e que estou a fazer de momento, para a sinusite crónica. Já consegui evitar um mês de anti-histamínicos!

Access Bars

Quando entrei na salinha, não sabia para o que ia. Antes, alguém comenta, com um sorriso: “vai sair outra pessoa”. A sessão de Barras Energéticas consiste em pressionar 32 pontos na cabeça que, uma vez tocados, iniciam a ativação de barras energéticas. Estas pretendem desfazer pensamentos, ideias e atitudes limitadoras que bloqueiam o nosso dia a dia.

De olhos fechados, fui relaxando lentamente enquanto a terapeuta tocava em diversos pontos na testa, na nuca, no alto da cabeça… À medida que o tempo foi passando, e já depois de ficar sozinha na sala, entrei num estado de relaxamento semelhante ao atingido na sessão de terapia da flutuação, há uns meses.

É difícil transpor em palavras. Diria que sentimos como se a mente se “abrisse” e ganhasse mais espaço. Estranho, eu sei, mas uma sensação muito boa. E ao todo passam apenas 30 minutos!

Bons hábitos diários de autocuidado

De acordo com a health coach Margaret Rosania, se conseguirmos incluir alguns destes hábitos como rotina, estaremos a enraizar o autocuidado na nossa vida.

Prestar atenção, ou seja, “ter aquele foco que nos vai permitir observar e aceitar”;
Permanecermos recetivas. “Aprendendo a escutar o ambiente e os outros, aprendemos muito sobre nós mesmas”;
Cultivar a sinceridade e a compaixão connosco próprias;
•  Praticar meditação
• Praticar ioga, como forma de nos ligarmos ao nosso corpo;
• Journaling, “um momento de silêncio connosco próprias que cultiva a sinceridade”;
• Uma refeição feita por nós;
• Usar um aroma que “potencialize uma intenção a ser realizada durante o dia”
• Ter uma rotina de transição dia/noite (“pode ser uma banho de água morna, seguido de um óleo essencial para relaxarmos”);
 Desligar os aparelhos eletrónicos.

 

5 lições que aprendi esta semana

1. Antes do autocuidado, o autoconhecimento

Para Margaret, “o autoconhecimento é a tarefa mais importante da nossa existência”, diz-me. Ter consciência dos sentimentos e pensamentos é um trabalho a tempo inteiro e que não deve ser relegado para último plano se procuramos o bem-estar.

Conhecer o corpo e a mente, ouvir o que têm para nos dizer em cada situação – seja ela boa ou má, serena ou tempestuosa – é meio caminho andado para nos conhecermos melhor, logo, entender como podemos cuidar de nós mesmas.

2. Também é preciso sair da zona de conforto

Sem algum sacrifício, nada vale a pena. Para que o autocuidado faça parte da nossa rotina, é normal termos de quebrar ciclos ou hábitos que estão enraizados. E isso pode ser difícil, claro.

Nunca gostei de fazer jejuns, por exemplo. Provoca-me dor de cabeça e um mal-estar generalizado. Mas se não tivesse passado por isso durante estes dias, nunca saberia que outra sensação estava à minha espera. E parece ser melhor do que a de estar de barriga cheia logo pela manhã.

Se não experimentarmos ou insistirmos num novo hábito, não saberemos o paraíso que pode estar do lado de lá. Avaliando o risco, o que temos a perder?

3. A alimentação é uma das mais poderosas formas de autocuidado

Se conseguimos passar tantos dias a fazer da comida um hábito de prazer momentâneo (porque também o é), por que não dedicar a mesma atenção ao que ela pode fazer pela saúde? Sem cair em extremos, como o de pensar que a alimentação cura tudo, podemos começar por entender de forma profunda o que ela pode fazer pelo corpo e mente, como um remédio.

Para a ayurveda, a digestão é de extrema importância para a saúde, considerando que não somos os que comemos, mas o que digerimos. E por boa digestão não se deve entender apenas a dos alimentos, “mas das emoções, dos estímulos, pensamentos, etc. Tudo o que não for bem digerido será acumulado no nosso corpo em forma de toxinas”, explica-me Yara Koberle.

4. Não se pode dar 100% em tudo

Na vida e em cada dia. Temos de distribuir percentagens. “Isso não significa que não estamos a dar o máximo”, explica-me Margaret. É apenas uma forma de nos respeitarmos mais.

Esta é talvez a lição mais valiosa que levo desta experiência. E para a colocar em prática, tenho tentado abolir uma série de aprendizagens que sigo desde… bom, desde que me conheço. Uma delas é o multitasking. Para quê insistir nesta ferramenta, que tantos dizem sermos especialistas, se não nos faz bem? Em prol da eficiência? Por que de outra maneira não dá? Tem de dar!

5. Sozinha é mais difícil

Estar aberta à mudança, é bom. Ter vontade de criar novos hábitos, mais alinhados com o autocuidado, é essencial. Mas é mais complicado fazer esta aprendizagem sem um “professor”. Alguém que nos oriente no início, para incorporarmos as lições mais valiosas.

Se procuramos a ajuda de alguém para aprender francês, uma skill nova ou, até, para ficarmos mais fit, porque não ter um mentor que nos ensine a cuidar melhor de nós mesmas? Obrigada Margaret.


O autocuidado já faz parte da sua rotina diária? Conheça ainda o poder da meditação nesta entrevista com Rute Caldeira.

Mais sobre mente e emoções