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O que é o conforto e 5 dicas para aplicá-lo na sua vida

O que é o conforto e 5 dicas para aplicá-lo na sua vida

Mais do que uma sensação ou perceção momentânea, o conforto resulta sobretudo de uma atitude individual que depende de nós e não das circunstâncias de vida.

Por Nov. 23. 2018

‘Nova força’, ‘novo vigor’, ‘bem-estar’, ‘comodidade’, são algumas das expressões e palavras que podemos encontrar quando procuramos o significado literal de conforto. e, assim, já obtemos algumas pistas sobre o sentido desta palavra que tanto ambicionamos no dia a dia. Afinal, para nos sentirmos bem e para estarmos ‘de bem com a vida’, também precisamos de nos sentir confortáveis. mas como podemos definir este estado, além de uma sensação de bem-estar? Do que depende a sensação de conforto? e como podemos estendê-la a todas as áreas da nossa vida?

Aos olhos da Psicologia, o conforto é mais do que uma sensação física e psicológica de bem-estar e passa pela satisfação das nossas necessidades psicológicas e afetivas, alinhadas com os nossos princípios e valores. Acima de tudo, parece tratar-se de uma questão de atitude. nas palavras da psicóloga clínica Filipa Jardim da Silva, “conforto e equilíbrio não são sinónimo de ausência de dor ou de emoções mais intensas e desafiantes, traduzem sim a capacidade de lidar com os vários desafios do dia a dia”.

Conforto: mais do que uma sensação, um modo de vida

O conforto poderá ser então uma escolha ou até um modo de vida? Filosofias nórdicas como o hygge, que traduz a capacidade de desfrutarmos dos pequenos prazeres da vida, ou o lagom que propõe viver em equilíbrio e na ‘medida certa’, são a prova de que a postura que escolhemos ter na vida pode condicionar os nossos níveis de felicidade e bem-estar.

Afinal, países como a Noruega, a Suécia e a Finlândia ocupam as primeiras posições dos rankings de felicidade, com os índices mais elevados do mundo. O último relatório mundial de felicidade realizado pela ONU, em 2018, mostrou que os países nórdicos obtiveram elevadas pontuações ao nível dos rendimentos, esperança média de vida, saúde e assistência social, mas também de valores como a liberdade, a confiança e a generosidade.

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Na opinião de Filipa Jardim da Silva, filosofias como estas surgem naturalmente em contextos que fomentam nas pessoas um estilo de vida saudável e seguro, e que têm na sua base políticas laborais que promovem o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. “São filosofias que vêm alinhadas com a ideia central de equilíbrio e consciência, no momento presente. no fundo, promovem uma existência mais inteira, ao invés de ‘um piloto automático’ dominante. naturalmente, como consequência, surgem maiores níveis de saúde global e felicidade”, comenta a psicóloga clínica.

Conforto e equilíbrio: amigos inseparáveis

O conforto também pode ser uma consequência natural de uma vida em equilíbrio. “Quanto mais fomentarmos o equilíbrio na nossa vida, mais tendencialmente estaremos confortáveis na nossa pele e nas nossas vivências”, assegura Filipa Jardim da Silva. Contudo, a especialista chama a atenção para a importância de adequarmos este equilíbrio ao momento ou fase da vida que estamos a viver.

“Em alguns momentos, estarmos equilibrados pode evidenciar algum desconforto em dimensões específicas da nossa vida, que com consciência e confiança, são passíveis de ser ultrapassados para se gerar um novo conforto, alinhado com a versão atualizada de nós mesmos. No fundo, quer a perceção de equilíbrio, quer a perceção de conforto constituem estados dinâmicos que pressupõem uma atualização permanente”, explica a especialista, lembrando que “o equilíbrio implica a satisfação das nossas necessidades psicológicas e a capacidade de lidar e gerir emoções e sensações físicas, sejam elas mais ou menos agradáveis”.

A especialista ressalva ainda que “o conforto não surge associado a bens materiais, mas sim a uma vivência em que os sentidos estão ativos e permitem criar uma existência com um sentido e propósito”

Desfrutar dos bons prazeres da vida

Conhecida como ‘o segredo dinamarquês para a felicidade’, a filosofia hygge, ‘aconchego’ em português, propõe uma forma de estar na vida que privilegia o desfrutar dos pequenos prazeres da vida, sem sentimentos de culpa. Momentos simples como beber uma chávena de chá quente junto à lareira ou uma reunião entre amigos e família são alguns exemplos de momentos hygge.

Contudo, este conceito não abrange apenas estes momentos. Meik Wiking, Ceo do Instituto de Investigação da Felicidade, autor de o Livro do Hygge, refere-se a este conceito como “um apelo aos sentidos” que pode ser conseguido facilmente se nos focarmos exclusivamente no presente. Se falarmos de paladar, sabemos que o sabor a hygge é quase sempre familiar, doce e reconfortante.

Para tornar uma chávena de chá mais hygge, por exemplo, devemos adicionar-lhe mel. No campo da audição, sons nostálgicos ou reconfortantes são sons hygge. Por exemplo, o crepitar dos troncos de lenha a arder ou o silêncio que nos permite ouvir os pingos da chuva ou o vento a soprar lá fora.

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Se ativarmos o olfato, conseguiremos também sentir aromas nostálgicos que nos fazem recordar lugares onde nos sentimos seguros, por exemplo. Para a psicóloga Filipa Jardim da Silva, uma atitude hygge pode traduzir-se na capacidade de olharmos à nossa volta e de apreciarmos o nascer do sol, o cheiro da natureza que nos envolve, os sabores do que comemos, a sensação de pisarmos relva ou areia ou a ligação próxima que podemos usufruir com alguém de quem gostamos. “São estes pequenos grandes prazeres que importa fomentar e valorizar, não os dando por garantidos”, sublinha a especialista.

Apelar aos sentidos

“A ativação dos sentidos e o foco no ‘aqui e agora’ é essencial para alcançarmos o equilíbrio e o conforto na vida”, segundo a psicóloga Filipa Jardim da Silva. Este modo de presença e consciência deixam de lado a culpa, o julgamento e a comparação e afastam também, quer o passado quer o futuro, criando espaço para o tempo essencial: o presente. A psicóloga fala também da necessidade de nos sintonizarmos com o nosso corpo no dia a dia para alcançarmos este estado de consciência.

“Para conseguirmos potenciar esta forma de estar, em primeiro lugar, é importante estarmos em sintonia com o nosso corpo e dar alguns passos nesse sentido, como reaprender a respirar, dar nome às emoções que sentimos e identificar os pensamentos e sensações físicas que surgem. Quando reservamos um minuto de cada hora para colocarmos a nossa atenção em nós mesmos, estamos a dar um passo importante para fomentarmos uma existência mais plena. outra estratégia pode passar por identificarmos os pensamentos críticos que surgem enquanto tal, pensamentos que vêm e vão, que se alimentam de aprendizagens e influências. Não podemos controlar os pensamentos automáticos que nos surgem, mas podemos reconhecer o tipo de pensamentos que estamos a ter e escolher quais os que queremos alimentar”, aconselha a especialista. “Esta apropriação do nosso poder de nos focarmos no que queremos ao invés daquilo que tememos, de nos olharmos de uma forma mais qualitativa e menos quantitativa, é uma estratégia eficaz para nos tornarmos menos críticos e mais presentes”, diz.

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Viver na ‘medida certa’

A filosofia lagom, conhecida como a arte sueca para uma vida mais equilibrada, pode ser outro exemplo de inspiração para alcançarmos o conforto e o equilíbrio. “Fomenta o princípio do ‘suficientemente bom’ por oposição à perfeição e ausência de limites”, refere Filipa Jardim da Silva. no dia a dia, pode “ajudar-nos a criar uma existência confortável e equilibrada, precisamente pela capacidade de criarmos limites nas horas que trabalhamos por dia, no tempo que despendemos em frente a ecrãs ou na quantidade de comida que ingerimos”, aponta a especialista.

“Ajuda-nos a fazer uma divisão mais sensata das horas do dia entre trabalho, lazer e autocuidado, combatendo uma certa sofreguidão e ansiedade em alcançar tudo no mais curto período de tempo, em estar em todo o lado, em fazer tudo ao mesmo tempo e, a nível material; convida-nos a escolher objetos e a fazer compras com sensatez, em função do que realmente precisamos e não numa lógica de compensação emocional, status social ou impulsividade/ perda de controlo”, revela a especialista. Para sabermos exatamente qual é a nossa medida certa, é, mais uma vez, necessário sintonizarmo-nos com o nosso corpo e com as nossas necessidades.

De acordo com a psicóloga, só dessa forma conseguiremos definir a nossa ‘medida certa’, seja a nível das horas de sono que precisamos, da intensidade de exercício físico, da frequência de socialização, do tipo de atividades de lazer ou da quantidade de comida. Para tal, “é importante termos momentos diários de auto-observação. As emoções e sensações físicas que observarmos no nosso corpo dão-nos toda a informação de que precisamos para fazermos escolhas mais sensatas na medida certa e, assim, vivermos com conforto”.

5 passos para um vida mais confortável

1. Crie momentos diários de auto-observação. O que estou a pensar, a sentir e a experienciar fisicamente neste momento?
2. Fomente a ativação dos sentidos, por exemplo, a tomar banho ou às refeições. Coloque a sua atenção nos cheiros, cores, texturas, sensações físicas, para desfrutar de forma mais plena destas experiências diárias.
3. Comece o dia com um exercício de gratidão. Aprecie três aspetos em si ou na sua vida.
4. Finalize o dia destacando uma conquista e uma aprendizagem. Mais do que aquilo que correu mal, colocar o foco no que correu bem e no que retirou de construtivo das experiências menos positivas é importante para equilibrar a tendência negativa do nosso cérebro.
5. Cuide de si. Durma, mexa-se diariamente, escolha alimentos que respeitem o seu corpo e o seu cérebro e rodeie-se de pessoas especiais para si.

Fonte: Filipa Jardim Da Silva, Psicóloga Clínica e coach.


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A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 221, novembro de 2018.
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