15 conselhos de quatro especialistas para um ano feliz

Deixar de viver em piloto automático, guardar tempo para si, ter uma participação comunitária, cuidar da sua saúde física e mental, afastar-se de pessoas tóxicas, passar mais tempo na Natureza e offline são algumas sugestões para que, no que depender de si, 2022 seja um bom ano.

Por Jan. 28. 2022

O cenário repete-se invariavelmente: com a chegada de um novo ano, é altura de fazer um balanço do que aconteceu e, sobretudo, começar a perspetivar o futuro. Em época de pandemia, pode não dar para fazer muitos planos, mas há aspetos que pode melhorar e que dependem maioritariamente de si.

Entrevistámos quatro especialistas de diferentes áreas e reunimos os seus conselhos para que entre em 2022 com uma nova mentalidade. Bom ano!

Nicole LePera, psicóloga

Inspirada na sua luta pessoal contra a ansiedade, Nicole LePera, psicóloga holística e autora do livro Cura-te (Albatroz), defende a ideia de que criar um futuro melhor passa por deixar de viver em modo de piloto automático, por nos libertarmos de condicionamentos associados ao passado e por criar uma nova rotina.

Ouvir o corpo e a mente

“Somos seres holísticos, portanto a nossa mente está em constante comunicação com o nosso corpo e vice-versa, isto significa que temos de ouvir ambos em conjunto e nunca em separado. Precisamos de ensinar o corpo a ter novas experiências para que a nossa mente tenha paz. É saudável regular as emoções para sermos melhores.”

''Para tornar a mudança real é necessário fazer novas escolhas todos os dias, caso contrário o nosso subconsciente irá preferir continuar em modo de piloto automático'' - Nicole LePera, psicóloga

Deixar de viver em modo de piloto automático

“Muitos de nós não estamos a viver de modo consciente, vivemos em modo de piloto automático, de acordo com padrões que nos são transmitidos durante a infância e nos condicionam sem que nos apercebamos disso. A mente subconsciente molda o modo como vemos o mundo e é a origem da maioria dos nossos comportamentos. A solução é tornarmo-nos conscientes dos pensamentos e, se não estão a funcionar, temos de fazer escolhas, mesmo que nos criem desconforto e a nossa mente queira voltar ao que já conhece.”

Uma promessa pequena por dia

“A tão conhecida lista de dez ou mais desejos e objetivos para o novo ano é para esquecer. Em vez disso, implemente a prática diária de fazer uma pequena promessa que seja possível concretizar. Temos de criar uma nova rotina diária para conseguirmos mudar. O nosso subconsciente gosta do que é previsível, porque, dessa forma, sabe o que vai acontecer a seguir, mesmo que isso não nos sirva e nos esteja a bloquear. Pensar positivo e o poder de acreditar transforma vidas.”

Alexandra Vinagre, coach

“Perceber o que é realmente importante para cada um de nós, cuidar da nossa saúde física e mental e pensar em objetivos que apenas estão dependentes de nós próprios é o caminho para uma vida mais feliz”, assegura a coach Alexandra Vinagre.

Projetar intenções

“Refletir sobre as intenções que temos para o ano novo. As intenções são mais do que os objetivos, são a forma como imaginamos o nosso ano, como queremos sentir-nos que emoções e experiências queremos viver, o que queremos aprender, como queremos cuidar das nossas relações. E é a partir destas que vamos traçar objetivos, que são o concretizar das nossas intenções. Quando pensamos só nos objetivos, normalmente, ficamos pelo caminho, em vez de mantermos o foco. Por exemplo, se a intenção for ter um hobby, tem de se procurar o que fazer.”

Ter 10 minutos para si

“É fundamental criar tempo para termos algumas rotinas ou rituais que nos permitam manter o foco e a paz interior. O journaling é um bom exemplo. Está mais do que provado cientificamente que escrever uma espécie de diário tem muitos benefícios do ponto de vista da criatividade, alívio do stresse, autoconhecimento e autoconsciência. Mas há outros exemplos, como manter um diário da gratidão, meditar, ler um livro, ouvir música ou até tomar um chá ou um copo de vinho. É importante criar um momento, ao início ou ao fim do dia, de dez minutos, para nos dedicarmos a algo que nos faça felizes.”

''Destralhar objetos faz bem, mas lembre-se que também é fundamental afastar-se de pessoas tóxicas que a rodeiam e mudar hábitos que são negativos'' - Alexandra Vinagre, coach

Cuidar da energia

“Não nos vamos ver livres da pandemia tão depressa, por isso, é importante manter-nos saudáveis, com energia e cuidar da saúde emocional e mental. Temos de ter tempo para descansar, dormir e alimentarmo-nos bem. É importante sair da rotina e criar escolhas nesse sentido. Hoje em dia, há vários retiros que ajudam nessa tarefa e não têm de ser espirituais; podem ser programas recreativos para aprender a pintar, fazer tapeçaria, entre outras atividades. Respondem à necessidade que temos de descomprimir e de nos conectarmos com os outros.”

Passar mais tempo na Natureza

“Existem inúmeros estudos científicos que comprovam a capacidade regeneradora que a Natureza tem e podemos aproveitar os momentos aí passados para estar offline. Mas também desligar mais cedo ao fim do dia e fazer com que olhar para o telemóvel não seja a primeira coisa que fazemos de manhã.”

Destralhar objetos e pessoas

“Organizar o nosso espaço é um bom princípio para o início do ano e isso passa por dar ou vender roupas, livros, móveis e tudo aquilo que não nos serve. Estamos, assim, a dar uma segunda vida aos objetos, o que faz reduzir o consumo de coisas novas. Mas quando falo em destralhar, incluo também o afastamento de hábitos que sabemos que não são bons para nós e de pessoas tóxicas. É importante criar limites e passar o menor tempo possível com essas pessoas, sejam relações pessoais ou profissionais.”

João Ferro Rodrigues, economista

Numa época da solidão como a que vivemos e que tanto prejudica a saúde, o economista João Ferro Rodrigues não tem dúvidas de que é necessário voltar à era do nós, título que deu ao seu livro, recentemente publicado pela Objetiva.

“Desde os anos 60 e 70 do século passado, vivemos num período de grande individualismo que começou na academia e que passava a mensagem de que melhorava o nosso bem-estar, mas a partir da crise de 2008, concluiu-se que não é bem assim. Mais uma vez, é na academia que se está a começar a valorizar o coletivo e, se for transportada para a cultura, daqui a uns anos teremos uma dimensão mais comunitária na sociedade. Como mostram a ciência e a biologia, o que fez a nossa espécie evoluir foi a nossa capacidade de nos organizarmos de forma coletiva”, realça.

Arranjar tempo para a dimensão social da vida

“Temos de arranjar espaço nas nossas vidas para a dimensão social, esta não pode ficar relegada para quando há tempo, senão, vamos ser infelizes. Temos de pensar no que podemos fazer a nível comunitário, como podemos dinamizar a vida associativa local, seja num clube de bairro, num partido político, num sindicato, numa igreja ou noutra qualquer estrutura onde possamos dar um contributo válido e onde sejamos valorizados. Se cada pessoa acrescentasse um item desses na sua lista do princípio do ano e o fizesse, havia um enorme salto qualitativo no bem-estar deste País.”

''Temos de pensar no que todos podemos fazer para mitigar a infelicidade gerada pela solidão e pela automatização da sociedade'' - João Ferro Rodrigues, economista

Interagir com os vizinhos

“O contacto que temos nas nossas rotinas diárias com as pessoas que vivem ao pé de nós também é importante. É altura de começarmos a perceber que precisamos das outras pessoas para sermos felizes e só isso mudará as decisões rotinadas que temos todos os dias. O que nos fará mais felizes: morar num condomínio ou num prédio que dá para a rua, o que nos levará a interagir mais com os outros? As pequenas interações do dia a dia fazem toda a diferença na nossa esfera social e fazem as pessoas sentirem-se menos sozinhas. A solidão está a contribuir para o crescimento do populismo.”

Mudanças políticas e sociais

“O movimento das pessoas não é suficiente, são precisas também políticas governamentais, sobretudo em três aspetos fundamentais: habitação, escolas e participação eleitoral a nível local. Se os bairros forem homogéneos socialmente, vamos continuar a viver em bolhas e isso não se traduz numa sociedade justa. Devia haver habitação a custos controlados em todos os prédios e em todos os bairros, deveria evitar-se a gentrificação dos bairros. Na educação, as escolas públicas têm de defender intransigentemente a diversidade, mas são cada vez mais o reflexo dos bairros, que, por serem muito estratificados, só têm alunos da mesma natureza socioeconómica. Por fim, os políticos devem incentivar a participação política das pessoas para que sintam, assim, estar a contribuir para a comunidade.”

Pedro Lôbo do Vale, médico de Medicina Geral e Familiar

Nos desejos para o novo ano, nunca falta o de ter saúde, até porque sem esta tudo se torna mais complicado. Pedro Lôbo do Vale, médico de Medicina Geral e Familiar, diz que “um plano alimentar completo, variado e equilibrado, assim como a prática de exercício regular são duas estratégias-chave para controlar o peso corporal e cuidar da saúde”, sem esquecer também a importância de reduzir os níveis de stresse e dos check-ups.

Manter-se ativo e praticar regularmente exercício físico

“Seja fisicamente ativo, procure realizar um total de 150 minutos de exercício físico por semana. É importante para manter a saúde cardiovascular e ajudar à manutenção de um peso adequado.”

''De acordo com a faixa etária, género, antecedentes familiares e história clínica atual, é importante realizar os exames e análises de rotina'' - Pedro Lôbo do Vale, médico de Medicina Geral e Familiar

Escolher a melhor dieta

“A dieta mediterrânica é considerada a mais saudável e a mais sustentável no mundo. Nesta dieta, dá-se preferência ao consumo de gordura de origem vegetal (como o azeite), peixe, vegetais, fruta e um reduzido consumo de açúcares simples e sal. Poderá ainda optar por suplementar o seu dia com um extra de nutrientes. Os suplementos alimentares fornecem nutrientes e/ou extratos de plantas e podem ser considerados úteis em determinadas situações. A escolha do suplemento alimentar mais adequado a cada caso deverá ter em conta fatores como idade, sexo, história clínica e alimentar.”

Realizar regularmente análises e exames de rotina

De acordo com a faixa etária, género, antecedentes familiares e história clínica atual, deverá realizar os exames e análises de rotina, de modo a avaliar parâmetros de saúde.

Reduzir o stresse no dia a dia

“O stresse e o aumento de cortisol podem comprometer o seu estado geral de saúde e até contribuir para o desequilíbrio do sistema imunitário. Arranje estratégias para controlar o stresse diário (como a prática de ioga, reflexologia ou shiatsu).

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