Crónica. Utilizar o Feng Shui com sentido e não como uma regra

Alexandre Gama, cronista da Saber Viver e consultor de Feng Shui, fala-nos sobre a importância de utilizar esta prática para facilitar e equilibrar a nossa vida, mas sempre sem nos sentirmos dependentes dela.

Por Dez. 16. 2021

O Feng Shui é conhecido como um conjunto de saberes, técnicas, superstições, ferramentas de trabalho que nos ajudam a criar e a viver os espaços com mais harmonia e de uma forma mais eficaz.

Dependendo de como se utiliza, pode ser apenas uma técnica ou até uma arte ou filosofia de se estar nesta vida.

No Feng Shui aprendemos a estar atentos aos fenómenos naturais, como os pontos cardeais com diferentes inclinações e incidências de luz natural, avaliamos o tipo de ambiente e as suas caraterísticas que nos afetam diretamente, propomos soluções que ajudam a desfrutar dos espaços com mais eficiência e conforto, propomos decorações apresentando cores, materiais, acabamentos e padrões que vão influenciar o nosso estado de espírito e ajudar a reconectar com a Natureza.

Mas também podemos cristalizar e tentar reproduzir ensinamentos arcaicos e desajustados para o tipo de vida e de espaços que temos nos dias de hoje, tornando-se assim num conjunto de superstições que de pouco nos vale para além de nos condicionar.

Podemos também copiar o modelo de outro espaço que gostamos muito e que, neste contexto, nunca vai funcionar.

Há muita informação nos dias de hoje que chega a contradizer-se e que mostra a dificuldade de união entre as diferentes escolas de todo o mundo.

É verdade que dentro de cada contexto, os diferentes pontos de vista podem estar corretos, e que a dificuldade surge quando queremos ser detentores da verdade, da lei, da nossa regra que é sempre melhor que a do outro.

Há escolas que se desenvolveram em zonas montanhosas e que, por isso, dão bastante importância ao facto de podermos estar de frente para o vale ou de frente para a montanha. Há outras escolas que foram criadas em zonas de planície onde o mais importante é encontrar modelos que nos protejam dos ventos ou que nos ajudem a tirar partido da melhor exposição solar.

Em Portugal, que é um país com poucas dimensões, mas cheio de contrastes, encontramos muitas diferenças na construção das casas consoante a região, exatamente porque se adaptam às necessidades de cada clima e de cada forma de viver.

Desde a medida do rodapé ao desenho do azulejo, à cor e intensidade da lâmpada, tudo contribui para o Feng Shui
Alexandre Gama

Se há algo que aprendi e que cada vez mais acentuo é que tudo pode estar correto dependendo da forma e da intenção de como é utilizado. Assim, não há receitas que sejam adequadas a todo o tipo de espaços, até porque se cada pessoa é diferente da outra, também os espaços e as nossas casas refletem essas diferenças.

Se uso sempre a cor amarela para empoderar o espaço e as pessoas, se uso sempre o azul para acalmar, se proponho o laranja para um ambiente mais lúdico, se uso o vermelho para reforçar a fama, etc., tanto posso estar a criar harmonia como posso estar a fazer uma grande asneira.

Mais importante do que seguir um modelo, é em primeiro lugar observar a Natureza. Como funciona o ambiente que circunda a casa em questão, depois avaliar o tipo de vida e o tipo de necessidades de cada habitante e, por fim, propor soluções e melhores layout do espaço para que seja bastante funcional, amplo e fluido, transmitindo conforto, segurança e estabilidade.

Neste contexto podemos sim propor:

  • Cores como o verde e o azul para qualquer divisão virada ou com janelas a nascente;
  • Tons terra suaves para ambientes orientados a poente;
  • Cores fortes e misturadas em ambientes a sul;
  • Tons de branco ou aguarelas para ambientes orientados a norte.

Esta é uma regra, sim, mas é ajustada a cada situação, em vez de definir que o quarto tem de ser azul e a sala cor de terra só porque sim ou porque é a regra.

Recomendo muitas vezes a utilização de plantas vivas e quando o faço explico o porquê. Esta planta vai promover o crescimento e ajudar a que a energia do espaço não estagne. Mas se for um espaço aberto para um jardim cheio de plantas essa recomendação torna-se desnecessária.

Posso também propor que se use uma vela, pois simboliza luz, paixão, vida, ou um cristal natural, que simboliza equilíbrio e estabilidade energética, mas deixo bem claro que não há peças de decoração Feng Shui, ou melhor, todas o são.

Desde a medida do rodapé ao desenho do azulejo, à cor e intensidade da lâmpada, tudo contribui para o Feng Shui.

Esclareço também que o Feng Shui é tudo na vida, desde a decoração à Natureza e as pessoas que nos espaços vivem ou circulam. Assim, é também o conjunto de vivências que temos em cada ambiente, o conjunto das emoções que vivemos e um canto de nós próprios e da nossa casa.

Fica assim descartada a ideia de que precisamos ou devemos comprar determinada peça decorativa para colocar em tal local para termos mais sorte no amor, nas finanças ou na saúde.

Utilize o Feng Shui para facilitar e equilibrar a sua vida, mas não se deixe ficar dependente dele.

Alexandre Saldanha da Gama é consultor de Feng Shui e autor do livro ‘Feng Shui @ Lares e Costumes Portugueses’. Estudioso de pessoas e da sua energia, criou a marca Feng Shui Integrativo através da qual orienta seminários, cursos, palestras e faz consultas de astrologia do ki das 9 estrelas. Desenvolve e acompanha in loco projetos de decoração, dá consultas de Feng Shui e faz limpezas energéticas de espaços.

Mais sobre dicas , especialista