Crónica. Feng Shui e as superstições
Alexandre Gama, cronista da Saber Viver e consultor de Feng Shui, fala sobre o que distingue, na sua essência, as superstições do Feng Shui. Saiba tudo.
O Feng Shui é muitas vezes associado a uma disciplina supersticiosa e pouco credível para os céticos. Na verdade, há vários universos bem diferentes que usam o Feng Shui como nome e isto deve-se ao facto deste ter sido sempre visto como um conjunto de saberes que podem dar poder a quem os possui e, desta forma, foi ao longo dos séculos reservado apenas para alguns.
Tudo isto leva a uma nuvem de magia, de curiosidade, do uso e abuso do termo e muitas vezes do mau uso das técnicas.
Encontramos então várias escolas, vários caminhos, com objetivos e propósitos diferentes, embora na origem todos sejam o mesmo. O estudo e continuada observação dos fenómenos da Natureza e das suas caraterísticas e de como podemos viver com mais conforto, harmonia e segurança.
Criar casas e espaços adequados às nossas necessidades, físicas, biológicas e energéticas, com o tempo e com a necessidade de vedar e esconder a informação, levou a que muito conhecimento fosse tirado do contexto e passasse a ser utilizado por mera receita e sem grandes resultados.
Ao trabalhar através das receitas, das crenças, estamos apenas a repetir ensinamentos e muitas vezes a utilizá-los da forma oposta ao que seria adequado. Ainda assim, podem funcionar (dizem alguns).
O Feng Shui começou por ser algo bastante credível, podendo mesmo ser considerado uma ciência exata, por outro lado, quando começa a ser utilizado não como método de observação, avaliação da situação e proposta de resoluções adequadas às necessidades de cada caso, mas sim como uma repetição e reprodução de receitas que podem até mesmo ser inadequadas, passamos então a ter uma disciplina vazia de sabedoria e preenchida de crenças e superstições.
Feng Shui vs. Superstições
Há público e amantes das diferentes formas de trabalhar.
Temos de um lado o que eu chamo de Feng Shui contemporâneo e adaptado à nossa cultura, onde tentamos encontrar a melhor solução para aquele espaço e para as pessoas que nele vivem, de modo a podermos ter a melhor vivência e a melhor eficiência na sua utilização e, como consequência, encontramos pessoas felizes, saudáveis, realizadas e poderosas.
Por outro lado, temos a superstição, uma cultura de receitas associadas a crenças de induzir as pessoas a uma falsa sensação de prazer, poder e felicidade que pode funcionar durante uns tempos, mas que de todo pode ser sustentado no tempo.
E pode funcionar porque a motivação e a crença de um indivíduo contribuem também para a vibração de um espaço e, consequentemente, podem também contribuir positivamente.
Esta linha de pensamento leva-me também a falar sobre as diferentes formas de encontrar o meu equilíbrio.
Tudo nesta vida tem uma função e tudo é também a manifestação física da minha vibração. Assim, quando o meu interior, a minha vibração interna, está em harmonia, tendo a atrair situações felizes e a concretizar os meus objetivos.
Como consequência do meu bem-estar interior posso encontrar e desfrutar de tudo de bom que o universo me serve.
Já quando o meu equilíbrio depende basicamente do meu exterior, perco o rumo, o meu centro, e deixo-me manipular pelo ambiente que me rodeia.
Quero ser feliz, cheio de saúde e o mais poderoso, mas isso tudo a que custo? Com que desgaste? Não conseguimos permanecer muito tempo nesse registo, pois não ressoamos verdadeiramente com ele.
Correndo o risco de me ter repetido nos últimos parágrafos, precisei de reforçar estas ideias pois são elas o foco deste artigo. Independentemente de poder acender um pau de incenso, de juntar à decoração da minha casa determinada cor, uma planta viva, um quadro ou até mesmo adicionar mais ou menos luz artificial ou natural. Assim como fazer rezas, meditações, acender uma vela, etc.
Tudo isto pode ser uma mera superstição e então vale o que vale, ou pode, por outro lado, fazer parte de uma preparação, de uma rotina ou ritual que me ajuda a sentir melhor o espaço, a desfrutar dele com mais qualidade e a estar mais consciente de mim, das minhas necessidades e desafios.
Podemos então procurar o nosso melhor potencial, sentir o nosso verdadeiro poder e sermos bastante felizes quando o trabalho é feito de dentro para fora. De mim para o exterior, e não de fora para dentro, como acontece no munda da superstição.
Alexandre Saldanha da Gama é consultor de Feng Shui e autor do livro ‘Feng Shui @ Lares e Costumes Portugueses’. Estudioso de pessoas e da sua energia, criou a marca Feng Shui Integrativo através da qual orienta seminários, cursos, palestras e faz consultas de astrologia do ki das 9 estrelas. Desenvolve e acompanha in loco projetos de decoração, dá consultas de Feng Shui e faz limpezas energéticas de espaços.