Se no ginásio usamos muitas vezes pesos e máquinas para a prática de exercícios, no Hatha Yoga só o nosso corpo se convoca. E todos os músculos são energizados e ‘chamados a participar’. Mas o que distingue (e até sublima) o yoga é a insistência na consciência dos movimentos, a forma como somos convidados a usar o corpo e, ao mesmo tempo, sermos sensíveis à forma como o usamos.
Para nós, yogis, todas as pessoas são diferentes, todos os corpos são diferentes: assimétricos, com mais ou menos flexibilidade, mais ou menos sensibilidade. Não há dois corpos iguais, não há duas formas de sentir idênticas.
Não podem existir duas representações iguais da mesma postura, e é claro que a prática de yoga não deve fazer de si algo que não é, mas sim estimulá-la para que se torne na melhor versão possível de si mesma.
Treinamos o corpo com a consciência funcional do mesmo, respeitando os seus limites, definidos pela relação entre a nossa força de vontade e a biomecânica individual (ou seja, capacidade física).
Adapte a sua prática ao seu tipo de corpo e caráter
Tal como referido, somos todos diferentes, vemos e sentimos de forma diferente e são diferentes as coisas de que gostamos e/ou que nos fazem sentir bem. Por isso, existem no yoga diferentes formas de exercitar a mente e o corpo com o conhecimento adequado do esqueleto humano, dos movimentos das articulações, da respiração e da maneira como nos podemos mover de forma inteligente e com segurança.
É importante relembrar que, em primeiro lugar, a execução dos Asanas (posturas usadas no yoga) deve ser adaptada às condicionantes físicas do praticante.
Mais do que uma representação estética idealizada da postura, ou seja, em vez de se esforçar em recriar a postura esteticamente perfeita, a postura deve ser adaptada à estrutura esquelética e às capacidades do praticante.
No Hatha Yoga funcional podemos diferenciar a intensidade dos alinhamentos necessários através do conhecimento das biomecânicas do corpo.
Este conhecimento permite colocar o corpo numa determinada postura de uma forma mais segura, sem forçar demasiado as articulações ao ativar a “energia muscular” e a “energia orgânica”, utilizando movimentos articulares adequados para os quais é necessário o desenvolvimento da consciência corporal.
Isto é principalmente quando as práticas são mais ativas e dinâmicas, evitando assim a criação de potenciais lesões e protegendo o corpo com segurança.
Como ganhar consciência corporal (e crescer espiritualmente)
Para colocar o corpo numa determinada postura de forma mais segura, sem forçar demasiado as articulações, os tendões e/ou os ligamentos, podem ser diferenciadas duas fases:
1ª fase: energia ou força muscular
Levar a energia da periferia para o centro do corpo. A força muscular move-se de fora para dentro, em direção às linhas centrais do corpo.
Esta força “abraça” os músculos em redor dos ossos, por todos os lados, integrando os membros e as articulações, e criando uma maior estabilidade.
Ao ativarmos a nossa força muscular estamos a criar uma maior consciencialização e sensibilidade.
2ª fase: energia ou força “orgânica”/força “expansiva”
É uma força de expansão, alongamento e ampliação que irradia em todas as direções.
O movimento deve ser subtil, fluido e consciente: contraindo o músculo em direção ao centro, do músculo até aos ossos, numa primeira fase de integração e estabilidade, para de seguida se criar espaço nas articulações ao expandir e alongar os membros, mantendo a ativação muscular inicial.
Resultados
Nas práticas “mais estáticas”, o alinhamento não precisa de ser tão orientado para que o ritmo dado ao exercício possa ser mais intuitivo, com pouca necessidade de força muscular e diminuindo assim os riscos de lesões no momento.
Se aplicar estas duas técnicas irá desenvolver a consciência do seu corpo, das suas capacidades e limitações, estará a desenvolver uma consciência mais ampla de si e da forma como lida com o mundo à sua volta.
Poderá assim tomar decisões mais acertadas quanto à posição a assumir em determinadas situações, melhorando a sua vida e adquirindo mais controle e assertividade.
Ao alinhar o seu corpo, estará também a alinhar a sua mente e, portanto, a crescer espiritualmente.
Encontre a técnica que mais se adapte a si
Ouve-se dizer que o yoga é uma metodologia fantástica disponível para todos, mas é de facto importante saber escolher, encontrar o tipo de yoga que necessitamos e que nem sempre é aquele que mais gostaríamos de praticar.
Forte, dinâmico, intenso, lento, calmo ou mais restaurativo? Nalguns casos a orientação do professor pode ser meramente indicativa do objetivo da postura escolhida.
1. Prática de Hatha Yoga dinâmica | Vinyasa Flow com base em alinhamentos biomecânicos
Podemos trabalhar a elaboração de posturas encadeada num ritmo mais dinâmico, com mais consciência nos músculos, nas articulações e nos ossos, onde o controlo das forças da gravidade e dos movimentos é primordial para a prática em segurança.
2. Prática de Hatha Yoga lenta e segura | Yin Yoga
Construímos posturas estáticas que permitem um trabalho mais profundo nos tecidos conjuntivos (tendões, ligamentos). Este tipo de yoga baseia-se no “alinhamento ósseo natural”. Já alguma vez esteve deitada a ler e deu por si de braço suspenso por cima da cabeça, no ar, como numa espécie de equilíbrio?
Neste tipo de postura não é necessário muito esforço, e a facilidade com que se mantêm posicionados os membros do corpo deve-se ao facto de estarmos inconscientemente a praticar aquilo que podemos chamar de “equilíbrio articular”.
Um dos resultados mais imediatos deste equilíbrio é o facto de não ser necessária praticamente nenhuma energia muscular para manter a postura e, portanto, esta é executada com extrema facilidade.
Uma vez atentos ao modo como as nossas fibras musculares esqueléticas se ativam para mover e encaixar os nossos ossos, tendemos a mover-nos com mais facilidade: com total consciência e intenção focada.
Através da constante e contínua observação do corpo em posturas mais estáticas, percebemos quais os músculos que precisamos de ativar, quais os músculos que é necessário relaxar e quais são os micromovimentos necessários para encontrar a postura “perfeita”, onde o nosso corpo se coloca natural e confortavelmente.
É claro que alinhamentos corretos resultam em melhores resultados: menos força nas articulações, mais trabalho para os músculos.
É importante ouvirmos o nosso corpo e entendermos o que precisa para regressar a um estado natural de homeostase (equilíbrio dinâmico). No entanto, no nosso tapete de práticas, é imperativo desafiarmo-nos e mantermo-nos em posturas que façam sobressair as nossas fraquezas, para que possamos explorar os movimentos, com a respiração e alguma paciência, nas áreas do corpo mais comprimidas e/ou tensas.
Tire o melhor partido das técnicas que o yoga oferece testando diferentes modalidades, diferentes estilos e novas sequências, procurando uma prática cada vez mais funcional e adaptada as suas necessidades.
Como já o afirmei várias vezes, no yoga não se trata de ser mais flexível ou mais forte, mas de encontrar o ponto certo de equilíbrio para a saúde interior e a saúde física.
Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.