Como é que o yoga nos pode auxiliar nestes momentos? Há grandes diferenças entre o yoga clássico (início do primeiro milénio) e o yoga moderno (o que entendemos como sendo o yoga de hoje, aquele que podemos encontrar nos estúdios), mas prevalece sempre o mesmo propósito: viver da melhor forma possível ao escapar ao “inferno” que criamos pela forma como pensamos (através de avaliações subjetivas, justificações e julgamentos).
O nosso inferno resume-se ao mal-estar criado por todos os tipos de medo que a mente possa criar, pela forma como a nossa mente lógica processa a informação e como a nossa fértil imaginação a transforma, sempre na ótica de nos protegermos dos piores cenários possíveis, aqueles que nos levam inevitavelmente a criar patologias emocionais: ansiedade, depressão e angústia.
Podemos considerar o yoga como a primeira metodologia de autoajuda inventada e sistematizada pelo ser humano.
De facto, nos seus primórdios, todas as técnicas propostas pelo yoga tinham como objetivo único o ganho de consciência dos pensamentos para se alcançar a capacidade de os restringir.
Não importa se eram considerados positivos ou negativos, a ideia era a de que quantos menos pensamentos, menor o sofrimento: o yoga é o controle das flutuações da mente.
Mas, para se desenvolver esta mestria de controlar as flutuações da mente, o afastamento e a disciplina (via ascetismo extremo) eram peças fundamentais para o sucesso.
É claro que nos dias de hoje, com tantas responsabilidades sociais acumuladas, fugir da sociedade para o bosque ou mudar-se para uma caverna para praticar yoga não é muito realista, e ainda menos apelativo.
Contudo, algumas destas técnicas, desenvolvidas por estes ascetas, são de inestimável valor para os dias de hoje, mesmo sem a necessidade de tanto rigor e sacrifícios mundanos.
A mais conhecida destas técnicas é a meditação (pois é, costuma-se falar de yoga e meditação, mas a meditação é yoga na sua essência).
Embora já todos tenhamos percebido os fundamentos – as técnicas para meditar -, para muitos de nós não deixa de ser algo de inalcançável, ou mesmo só uma fantasia da imaginação (para quem a mente não é de todo controlável).
Mas estas dificuldades já eram conhecidas pelos yogis, pelo que criaram outras técnicas para se poder alcançar o poder da meditação, através do desenvolvimento de métodos respiratórios, partindo da assunção que existe uma ligação direta entre o ritmo dos pensamentos e o ritmo da atividade mental – quanto mais lenta a respiração, mais calma fica a mente.
Comecei a fazer exercícios respiratórios com mais frequência durante o confinamento. Pode parecer cliché, mas têm-me ajudado imenso.
O poder da respiração consciente é enorme! Podemos conectar-nos com o corpo e podemos ouvir tudo o que este tem para nos dizer.
Passar por estas emoções “complicadas” de forma honesta (em vez de fingir que tudo está sempre bem) faz-nos crescer e aprender lições importantes. Não tenho vergonha de o dizer. Sinto-me mais livre e mais equilibrado.
Partilho, se quiserem vivenciar os benefícios da respiração consciente, uma pequena prática simples: a meditação da respiração pelo coração.
Experimentem!
Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.