Aproxima-se o Natal e o final do ano. É tempo de estar em família e de balanços. Serei só eu que acho estranho pensar que estamos quase a chegar ao final de mais uma década?
É precisamente isto que me leva a ter um cuidado ainda maior em relação a tudo o que tenho na minha vida, sejam objetos, compromissos ou mesmo relações. Quase como se passasse a pente fino toda a minha vida.
Por isso, neste Natal vou apenas estar com quem me quer bem e com quem merece o meu amor. As minhas prendas serão “só” a minha presença, o meu carinho e um grande abraço. Vou tirar uns dias para mim e para os meus, completamente desligada das redes sociais e do mundo digital.
Vou aproveitar para limpar e organizar o computador, a casa e deixar só aquilo que é realmente importante. Vou reduzir os compromissos do próximo ano, para poder estar realmente presente e cheia de energia naqueles que aceitar. Vou aproveitar para destralhar mais a casa, dar uma nova vida a coisas que já não uso e doar algumas das coisas a quem mais precisa.
Definir intenções para esta época do ano e também para o próximo, ajuda-me a manter o foco e a perceber se continuo alinhada com os meus valores.
Acho que é cada vez mais difícil mantermos o foco numa sociedade que não dorme, onde há milhentas solicitações e onde temos a obrigação de estarmos sempre disponíveis.
Por isso, mais do que nunca, a velha máxima do minimalismo faz todo o sentido: “identifique o essencial, elimine o resto”.
Mas o que é essencial?
Pergunto-me sempre se consigo viver sem. Defino desafios para mim própria (1 mês sem isto ou sem aquilo). Pergunto-me o tipo de materiais, onde foi produzido, para onde irá no final do seu ciclo de vida.
Pergunto-me tantas vezes se acrescenta alguma coisa à minha vida. Se está alinhado com os meus valores. O que diz a minha intuição?
Parecem ser muitas perguntas, mas a leveza que sinto quando faço e possuo apenas aquilo que está alinhado comigo não tem preço. Ganho tempo, qualidade de vida e felicidade. E claro, poupo dinheiro, o que por sua vez me permite trabalhar menos horas.
Infelizmente, não é uma fórmula mágica, dá trabalho, obriga-nos a viver (quase sempre) em contra-corrente, a lidar muitas vezes com a incompreensão dos outros.
Nestas alturas, como o Natal e o final do ano, os desafios triplicam! São datas festivas e a comemoração parece sempre estar associada com mais, mais e mais. O menos costuma ser sinónimo de escassez, de infelicidade diria até.
É por isso importante nestas alturas passar esta mensagem, mostrar que o mais importante é a nossa presença, são as pessoas e não os objetos, as prendas, os foguetes, o excesso de comida, os quilos de papel de embrulho e tudo o resto que vai parar ao caixote do lixo.
Acredito (mesmo) que quem pensa como eu, e quem já entende o valor do “menos”, tem o dever de passar a mensagem, de mostrar que se pode viver de forma diferente e que é possível e desejável sair desta roda de hamster, de consumo e mais consumo.
Agora, é “só” continuar e seguir em frente, respirar fundo, acreditar que estou certa, explicar com muito amor e carinho e inspirar os outros a fazerem diferente, não só no final deste ano, mas também durante o próximo ano, e no próximo, e no a seguir…
Quem vem comigo?
Ana Milhazes, 34 anos, socióloga, formadora, instrutora de Yoga, autora do Ana, Go Slowly, um blogue sobre tudo aquilo que nos leva em direcção a uma vida mais feliz, baseada no ser em vez do ter. É ainda fundadora do movimento Lixo Zero Portugal e vive com a missão diária de fazer o mínimo de lixo possível, de partilhar os desafios que enfrenta e de inspirar a mudança.