Crónica. O yoga é uma metodologia milenar de bem-estar do futuro
A pergunta parece simplista, mas, na realidade, muita gente duvida quanto à forma de o definir, oscilando entre uma forma de exercício físico, uma maneira de estar na vida ou, ainda, uma religião.
De facto, todas estas possibilidades estão corretas, mas, claro, depende sempre do ponto de vista de onde nos colocamos.
Uma definição assertiva do yoga dos nossos dias é defini-lo como uma metodologia de harmonização “corpo e mente” que visa a guiar na forma como lidamos com as nossas emoções, como cuidamos do nosso corpo e como lidamos com os outros.
Estilo de vida?
Tudo começa com a integração de valores éticos essenciais, os yamas e os nyamas – a que chamamos de “yoga fora do tapete” -, apresentados numa obra que define o que chamamos hoje de yoga clássico (obra compilada em 400 anos d.c.).
Com base nestes valores, foi desenvolvida uma metodologia onde são propostas várias ferramentas que abrangem técnicas de trabalho mental e físico e, consoante as necessidades de cada um, estas poderão ser trabalhadas em simultâneo ou separadamente.
Ao integrar estes valores no quotidiano, poderá ser alcançada uma nova maneira de estar na vida, na forma como nos relacionamos connosco próprios e com os outros, e em que o corpo e a mente devem ser cuidados de forma harmoniosa.
Filosofia, metodologia ou religião?
Na sua base, o yoga é a parte prática de uma filosofia “racionalista”, o Samkhya. Reúne um conjunto de ferramentas que foram evoluindo ao logo do tempo e, neste ponto de vista, está desprovido de conotações religiosas (é o yoga clássico, compilado no obra intitulada de Yoga sutras).
O que acontece é que a cultura Hindu tem-no absorvido e incluído nos seus próprios cultos e rituais.
Portanto, o yoga pode ser dissociado de qualquer conotação religiosa, contudo pode aparecer incluído em rituais devocionais e apresentar-se, deste ponto de vista ocidental, como religioso.
Técnica de autoajuda e de desenvolvimento pessoal?
A procura do yoga começa com a nossa consciência de que algo não está bem e que, em nós, temos a capacidade de melhorar a nossa condição.
Lidar com (muitas) pessoas e/ou com situações inesperadas no quotidiano pode levar a uma desestabilização emocional, ao descuido físico e a um desgaste generalizado do ser (entende-se aqui o conjunto corpo e mente/consciência).
Para alcançar a harmonia, devemos encarar a necessidade de mudar os nossos hábitos e de ver o mundo. E, para isso, deveremos trabalhar os nossos valores, conforme sugerido nos yamas e nyamas.
Mental ou físico?
As bases do yoga emergiram em tempos remotos (antes de cristo), quando o mesmo se resumia em muito a observação da atividade mental e encontrar formas de travar pensamentos aleatórios para manter o equilíbrio emocional. E ate meados do século XIX, o yoga era quase exclusivamente a prática de homens ascéticos que aspiravam à libertação espiritual por meio de técnicas como meditação e recolhimento sensorial.
Nos primórdios do século XX, quando se desenvolveu um interesse pelo fitness e culto do corpo no ocidente, criou-se um frenesim que levou a uma mistura sem precedentes de influências ocidentais em busca do bem-estar e das tradições da cultura física indiana.
Nas décadas de 1920 e 1930 (período de crescimento do nacionalismo indiano), uma nova geração de entusiastas indianos pelo “fitness ocidental” começou a reinventar o yoga, dando-lhe uma nova forma e apresentando-o como um sistema moderno para se ganhar saúde e força que poderia ser praticado pelas pessoas mais comuns.
Neste processo evolutivo do yoga, foram incluídas e adotadas muitas posturas e técnicas à prática tradicional.
Uma forma muito diferente de yoga, com uma predominância de exercício físico, foi criada por vários yogis indianos, principalmente por Krishnamacharya, na década de 1920.
Este yoga era já predominantemente físico, consistindo principalmente ou totalmente em asanas, posturas derivadas do hatha yoga indiano, mas com uma contribuição da ginástica ocidental
Os estilos modernos de yoga, que são globalmente conhecidos hoje, como Ashtanga, Bikram e Iyengar, surgiram deste cruzamento multicultural.
O yoga de hoje
O que explica que uma abordagem milenar se mantenha tão atual e seja tão procurada nos dias de hoje no mundo ocidental?
Nunca se falou tanto e se praticou tanto o yoga, é verdade! A adaptabilidade e versatilidade do yoga às diferentes sociedades que o têm acolhido e os seus benefícios, agora muitas vezes comprovados cientificamente, levaram com certeza a que seja cada vez mais procurado pelas culturas ocidentais.
A prática desta metodologia tem-se alterado, adaptando-se aos que a procuram, preenchendo as necessidades de autorrealização individuais, ao ritmo de cada um e na dose certa. Entre o misticismo e a lógica, permite trabalhar a mente e o corpo, em conjunto ou separadamente, e de forma progressiva.
O yoga oferece exotismo, mas também ferramentas válidas para o bem-estar de cada um, e pode ser declinado em função das capacidades de quem o procura. O seu sucesso está na sua maleabilidade e efetividade.
De facto, a prática de yoga tem-se amplificado no mundo inteiro e o número de praticantes vai aumentando gradualmente. Parece que estamos a chegar ao ponto em que o yoga, já milenar, está a tornar-se a ferramenta de bem-estar do futuro, para nos manter saudáveis e realizados.
Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.