Crónica. 4 regras de disciplina verbal para uma mudança pessoal
Jean-Pierre de Oliveira dá-nos a conhecer uma técnica de quatro regras infalíveis de disciplina verbal para uma mudança pessoal suave e fácil de introduzir no dia a dia. Descubra tudo.
“Ser saudável não tem só a ver com o que comes ou o que fazes, é também sobre o que pensas e o que dizes”. Esta não é só uma frase altamente instagramável, é mesmo um ensinamento que a metodologia do yoga nos relembra através de uma técnica antiga chamada de ‘austeridade verbal’ para o alcance da paz interior.
Segundo os sábios antigos, o segredo do equilíbrio está na disciplina verbal, conhecida como Vâk Tapas. Esta está bem explícita na bíblia Hindu, o Bhagavad Gita, também estudada no yoga e onde são enumerados os quatros parâmetros para desenvolver um discurso saudável, aquele que é considerado de não-violento, de verdadeiro, agradável e benéfico para os outros, que poderemos então chamar de austeridade verbal e que nos poderá conduzir à saúde mental desejável.
Muitas vezes, quando sentimos uma vontade de mudar a manifestar-se – mudar-nos a nós, em vez de querer mudar o mundo a torto e a direito -, porque já percebemos que tentar mudar os outros é uma batalha perdida, este é um caminho que requer algum autoconhecimento, ou aquilo a que poderíamos chamar de maturidade.
Existem claramente várias formas de se alcançar a maturidade, mas é principalmente através da experiência, aquela que advém da nossa passagem pelas adversidades do quotidiano, que deveríamos lá chegar.
Proponho-me a guiar-vos neste caminho ao apresentar-vos esta técnica de quatro regras infalíveis de disciplina verbal para uma mudança pessoal mais suave e fácil de incorporar no nosso dia a dia.
4 regras infalíveis de disciplina verbal
Em poucas palavras, o que é a disciplina verbal? É a nossa capacidade em desenvolver um discurso verbal não violento, verdadeiro, agradável e benéfico para os outros.
É um exercício sobre nós próprios, de autocontrole e uma forma eficiente de desenvolvimento pessoal que promete suavizar os nossos relacionamentos, quer sejam eles pessoais ou profissionais.
1ª regra: Desenvolva um discurso não-violento: Anudvega karaṁ vākyaṁ
Dê mais atenção à sua forma de se expressar. Encontre uma forma positiva de transmitir os seus pensamentos e opiniões, mais subtil e mais envolta de compaixão. O principal objetivo é conseguir observar as suas palavras e evitar as críticas pejorativas de forma a não magoar os demais.
Sugestão de mantra a repetir pela manhã: “Hoje decido que o meu discurso será de não violência, para mim e para os outros. Vou ter cuidado na forma como me expresso e evitar magoar. Vou encontrar sempre uma alternativa positiva para expressar a minha opinião, as minhas ideias e os meus sentimentos”.
2ª regra: Desenvolva um discurso verdadeiro: Satyam Eva, Satyam jayate
Trata-se simplesmente de evitar qualquer tipo de mentira (mesmo para evitar possíveis complicações). Dê mais atenção ao que precisa de dizer, à informação que quer transmitir e reflita sobre o motivo genuíno da sua intenção.
Sugestão de mantra a repetir pela manhã: “Hoje o meu discurso será verdadeiro. Vou ter cuidado na forma como me expresso e evitar qualquer tipo de mentira, mesmo que bem intencionada. Vou encontrar sempre uma alternativa positiva mesmo que esta seja o meu silêncio. As mentiras afastam-me da pessoa que eu sou realmente. Quero ser amada pela pessoa que sou. Prefiro ser genuína do que parecer perfeita”.
3ª regra: Desenvolva um discurso agradável: Priyam
Em vez de falar rapidamente, como se tivesse sempre todas as respostas na ponta da língua e estivesse pronta para ser a primeira a responder, abrande para conscientemente desenvolver uma linguagem gentil e cuidada. Fale sempre de forma ponderada e num tom suave e escolha as suas palavras intencionalmente.
Sugestão de mantra a repetir pela manhã: “Hoje decido que o meu discurso será agradável, para mim e para os outros. Vou ter cuidado na forma como me expresso e colocar-me sempre do ponto de visto do que eu quero e não do que eu vejo, tenho ou do sitio onde estou e que não me agrada. Vou encontrar sempre uma alternativa ponderada para expressar a minha opinião, as minhas ideias e os meus sentimentos num tom ameno e sereno”.
4ª regra: Desenvolve um discurso adequado, que beneficie o outro: Hitaṁ
Ao conversar, tenha a consciência de perceber se o outro está interessado ou mentalmente disponível no que tem a dizer. Uma das piores formas de violência emocional no discurso é falar insistentemente com uma pessoa que não está disposta a ouvir e, provavelmente, a fazer frete.
Sugestão de mantra a repetir pela manhã: “ Hoje, sempre que comunicar com alguém, irei estar atenta para ver se a outra pessoa está mesmo disposta a ouvir-me ou se já está com o corpo em posição de se querer escapar para eu o/a poder libertar e para que eu não gaste o meu tempo e a minha energia em vão”.
Que tal assumir este compromisso de quatro regras? Um dia por semana, para começar, para aos poucos integrá-lo com mais frequência no seu quotidiano. Tenho a certeza que a sua vida irá, com o tempo, ficar mais leve e serena.
Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.