Crónica. Saber olhar para dentro
Viver somente à procura de sensações imediatas é extremamente redutor para o único ser vivo com capacidade para co-criar um futuro e uma vida mais feliz. Por isso, devemos saber olhar para dentro.
Saber viver é saber olhar para dentro de nós. Fazê-lo é desconfortável, porque significa conseguir reconhecer e aceitar limitações, características e, até (muito importante!), os nossos pontos fortes, aquilo que nos posiciona e nos destaca das outras pessoas.
A verdade é que, muitas vezes, não sabemos o que fazer com a consciencialização dos nossos pontos fortes. O que é uma pena.
Conseguir fazer o exercício de “olhar para dentro” significa que o que está “fora” perdeu importância, em honra do foco numa maior clareza de espírito, o que leva à inevitável clareza de intenção relativamente ao que queremos para nós.
Queremo-lo verdadeiramente ou querem-no por nós?
Acreditamos, muitas vezes, que devemos cumprir com expectativas profissionais de terceiros, quando a nossa principal intenção é sermos realmente felizes com aquilo que fazemos profissionalmente.
E o mesmo se passa com a vida “pessoal”. Será que estamos realmente a viver a nossa vida ou será que estamos a viver a vida que alguém quis para nós?
Estaremos a viver uma vida com real propósito ou estamos somente a corresponder às expectativas de uma sociedade que valoriza o que é “certo”. Certo para quem? Permita-me que lhe faça esta pergunta.
Fazer, corajosamente, perguntas
Pois é, olhar para dentro significa retirar qualquer lente que possa comprometer o que estamos a ver. Significa também fazer as perguntas certas, para obter as respostas certas. Atenção: não disse as “respostas fáceis”.
Saber viver é saber olhar para dentro de nós. E, mais do que isso, honrar as conclusões a que chegamos quando ganhamos coragem para o fazer.
Sugiro que responda a questões como:
- O que vejo realmente cá dentro de mim?
- Qual o meu maior sonho?
- O que faria da minha vida se conseguisse lidar melhor com os meus medos?
- Como seria a minha vida se conseguisse trabalhar no que realmente me faz feliz?
- E como seria a minha vida se me permitisse viver aquele amor?
- Como seria a minha vida se conseguisse finalmente pedir desculpas aquela pessoa de quem tanto gosto?
Podia continuar a escrever estas perguntas desconfortáveis. Sei que entende onde quero chegar.
Para uma maior clareza e felicidade na nossa vida, devemos conseguir olhar para dentro de nós sem medo. Porque aquilo que vamos encontrar é aquilo que temos vindo a construir.
Que, nesta época e sempre, consigamos honrar a pessoa que somos, e não a vontade de alguém.