Crónica. Ser professor(a) de yoga é uma carreira possível em Portugal?

Roma não se construiu num dia, e da mesma forma, precisa de estar consciente que não vai conseguir criar uma notoriedade profissional nacional, como influencer na área do bem-estar, com um retorno financeiro satisfatório logo a seguir ao primeiro mês de aulas… Mas estou convencido de que qualquer yogi preparado para enfrentar os desafios do tempo, pode construir uma carreira de sonho no mundo do yoga em Portugal, e porque não, no mundo inteiro, desde que domine o Inglês.

Também estou convencido de que há espaço para que possa expressar a sua voz como professor(a) de yoga e que não precisa de se encaixar num molde específico, muitas vezes caricatural, independentemente de ser, ou não, jovem, sexy e flexível.

No entanto, independentemente das suas características pessoais, precisa com toda a certeza de reunir algumas características como: ser criativo(a), paciente, resiliente e, com toda a certeza, profundamente determinado(a) a servir os outros.

Partilho aqui convosco algumas das minhas recomendações para que consiga criar uma vida próspera como professor(a) de yoga.

Claro que podem existir outras formas de ser bem sucedido(a), mas estas são exatamente as coisas que eu gostaria de ter sabido quando comecei a minha carreira. Teria ganho um tempo valioso e evitado um grande desperdício de energia.

O mercado do trabalho

Deixar o seu emprego para se tornar professor(a) de yoga não é assim tão linear quanto parece. Existem hoje em dia grandes quantidades de professores a ser formados “em série” e a um ritmo cada vez mais acelerado.

De acordo com o Yoga Journal e a Yoga Alliance EUA, só nos Estados Unidos, o número de professores de yoga duplicou nos últimos seis anos. Isto significa que há hoje em dia muita concorrência e que esta se tem intensificado, principalmente na última década.

Os dados relacionados com o mercado português são quase inexistentes, mas já são muitos os jovens professores estrangeiros a fugir de mercados mais saturados para tentar a sua sorte na capital portuguesa ou na costa atlântica nacional.

O período de formação

Na verdade, e ao contrário do que se acredita, fazer só uma formação de professor não basta para dar aulas de qualidade profissional e não o(a) prepara verdadeiramente para ensinar neste novo mundo ultracompetitivo do bem-estar holístico e do desenvolvimento pessoal moderno.

Poderá conseguir uma visão sobre a filosofia do yoga, saber qual é a linguagem certa e os alinhamentos corretos, mas não adquirir o que só a experiência lhe pode trazer: como lidar com as aulas vazias? Como lidar com a variabilidade emocional do ser humano? Como gerir aulas com praticantes díspares? Ou como conseguir rentabilizar o seu tempo para o tornar mais rentável?

Mitos e fantasia

Fazer um curso no oriente pode dar um ar de “autenticidade” à sua formação, mas não lhe garante necessariamente uma maior qualidade de aprendizagem.

A maioria dos Ashrams e retiros formativos em sítios paradisíacos são negócios projetados para a rentabilidade, e não direcionados para a sua educação profissional. Assim, não lhe vão trazer matéria relevante sobre “como ser um bom professor de yoga”.

Na verdade, as escolas de formação ocidentais são as mais adaptadas à sua futura realidade profissional em três aspetos importantes:

• O tipo de aluno: Hábitos e rotinas de estilo de vida (sedentarismo, alimentação …);
• A mentalidade: Visão ocidental focada no resultado imediato;
• Os estilos de yoga: Tipo de posturas e movimentos mais direcionados a uma fisiologia específica, linguagem e técnicas mais adaptadas ao estilo de vida local.

Prepare-se para lidar com estereótipos

Cada profissão vem com seus próprios estereótipos e, por alguma razão, as pessoas esperam sempre que os professores de yoga sejam “seres iluminados”, livres de stresse, de preocupações e de negatividade.

Estas expectativas são obviamente irrealistas, mas infelizmente recorrentes. Deverá, portanto, dedicar-se a transmitir aos seus alunos que ensinar yoga não é um catalisador para se chegar à iluminação e que nem faz parte do caderno de encargos da função.

O professor de yoga é “um estudante da vida”, tal como os seus alunos com quem partilha as ferramentas propostas pela metodologia.

Como iniciar uma carreira de professor de yoga

• Evitar escolher uma formação com critérios únicos como o preço e a localização;
• Procure sempre saber mais sobre a cultura interna da escola que chamou à sua atenção, sobre os seus valores e a experiência dos professores formadores;
• Verifique e avalie as suas afinidades e grau de empatia com a entidade formadora. Tente conhecer o tipo de práticas e a filosofia de estudo propostos e saber de que forma são elaboradas e transmitidas as aulas.

 

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Antes de dar o passo final…

1. Esteja preparado(a) financeiramente. Tente manter fontes de rendimento alternativas;

2. Esteja preparado(a) socialmente. Irá sentir um desajuste. Irá muitas vezes trabalhar quando os seus próximos estarão de folga e disponíveis;

3.Lembre-se que criar uma comunidade leva o seu tempo e que poderá demorar alguns anos até conseguir um retorno financeiro sustentável;

4. Arranje tempo para sua própria prática. Mantenha a sua prática de yoga regular, de preferência com o seu antigo professor: siga os seus desenvolvimentos ganhando com a sua experiência, para assim sustentar o seu próprio crescimento com consistência;

5. Prepare-se para lidar com estereótipos. Aprenda a gerir as suas expectativas e a controlar as suas emoções. Faça o seu trabalho interior de análise pessoal.

Vejo muitos jovens professores a ficarem frustrados porque gostariam que tudo acontecesse mais depressa. Mas, na verdade, o processo é mesmo assim, demorado.

É importante comemorar as pequenas vitórias e preparar-se para o sucesso a longo prazo. Fazer uma formação de professor de yoga é mesmo apenas só o começo. Construir uma carreira  pode levar pelo menos 2 ou 3 anos de esforço consistente inicial.

Garanto-lhe que terá muitas pequenas vitórias ao longo do seu caminho e são estas mesmo que irão construir o(a) professor(a) que está determinado(a) a ser.

Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.