Nos seus primórdios, o yoga era simplesmente definido como sendo “o controlo das flutuações da mente” e o seu objetivo era o de se conseguir travar o sofrimento interior (ao evitar pensamentos aleatórios discordantes).
Para se criarem novos hábitos de pensar, é preciso criar novas rotinas, e novas rotinas são criadas através da repetição de tarefas, até que estas fiquem enraizadas.
Um treino não deixa de ser a repetição de uma rotina com um determinado objetivo. Trata-se de um processo para adquirir conhecimentos, habilidades e capacidades. E o que será então o yoga senão isso?
Com o tempo, o yoga evoluiu e transformou-se numa metodologia mais completa, abrangente e universal.
Absorveu um leque diversificado de influências filosóficas e de ferramentas práticas, para hoje resultar num sistema complexo de possíveis caminhos para a iluminação (ou seja, para desenvolver uma mente isenta de filtros emocionais), com enfâse especial no Hatha Yoga, cuja metodologia é baseada no fortalecimento do físico com o objetivo de transcender a consciência ao utilizar todo o potencial do corpo. Resumindo, o yoga junta treino mental e físico para uma mudança positiva integral.
Mas, deixo agora os aspetos filosóficos e históricos e passo a coisas mais práticas… Relacionamentos, vida profissional, vida social, estabilidade (ou instabilidade) económica, tudo entra na equação que mantém as nossas emoções equilibradas ou não.
Um desequilíbrio maior resultará numa qualquer patologia emocional. Trocando por miúdos: crises de ansiedade, fobias, perturbações obsessivas/compulsivas.
Por sua vez, estas patologias poderão despoletar uma ou várias manifestações (isto é, somatizações orgânicas), como alergias, asma, urticária, insónias, sensação de fadiga, diminuição das capacidades do sistema imunitário, dor e até alterações cardiovasculares e respiratórias. Para além disso, pode também contribuir para uma disfuncionalidade relacional e dificuldade na vivência familiar.
Quer uma dica? Está tudo na sua mente…
O yoga e a cura pela mente
Se aceitamos que um estado de espírito negativo tem uma série de consequências nefastas para o nosso corpo e mente, podemos aceitar o inverso também. E aqui, Psicologia e yoga concordam.
A ciência oferece-nos técnicas, mas a filosofia do yoga oferece exercícios mais práticos que nos convidam a ativar as qualidades positivas que existem dentro de nós, mas que permanecem bloqueadas no subconsciente, e que nos devolvem assim ao nosso dia a dia.
Entre as ferramentas mais amplamente utilizadas pelo yoga para dominar a mente encontramos as técnicas de respiração consciente (pranayamas) e de meditação.
Benefícios da respiração consciente | pranayamas
Praticar pranayamas é unir mente e corpo ao criar uma forte sintonia entre eles.
- Esta prática traz-nos para o momento presente, acalma, tranquiliza, reduz o stresse e a ansiedade.
- Energiza o corpo e aumenta a vitalidade.
- Além de acalmar e promover o relaxamento geral, respirar corretamente pode ajudar a prevenir doenças, reduzir a hipertensão e a depressão, e ainda auxiliar na perda de peso.
- Pranayamas levam-nos a respirar de forma consciente e com “profundidade” (ao respeitar e prolongar os ciclos naturais de inspiração e expiração).
- Ajuda-nos, ainda, a oxigenar melhor o cérebro, beneficiando assim a saúde física e mental como um todo.
Meditação
Nos diversos benefícios já observados em praticantes de meditação, é importante destacar a grande influência nas suas mudanças comportamentais.
Estudos mostram que a meditação também pode auxiliar na diminuição de pensamentos distrativos e ruminantes, na melhoria da atenção, na saúde física e na qualidade das relações familiares e profissionais.
Outras pesquisas apontam para o facto de os praticantes regulares de meditação demonstrarem-se mais alegres, mais estáveis emocionalmente, confiantes e tranquilos.
Para muitos especialistas, os benefícios são não só diversos, mas também quase sempre imediatos. Para além de se desenvolver uma perceção mais holística da vida, podemos ainda observar outros benefícios:
- Redução dos níveis de stresse;
- Aumento da capacidade de concentração;
- Aumento da capacidade de memorização;
- Desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático;
- Desenvolvimento da criatividade;
- Redução significativa da violência;
- Equilíbrio do campo emocional;
- Redução de dores crónicas;
- Redução de ansiedade generalizada;
- Aumento da capacidade imunitária.
O yoga e a cura pelo corpo
Todos sabemos que uma prática de yoga consiste em sequências de posturas, chamadas asanas. Estes asanas são a espinha dorsal de qualquer tipo de aula de yoga moderno, incluindo as minhas aulas de Hatha Yoga Funcional.
Os asanas destinam-se a aceder aos diferentes planos de movimento (frontal, transverso e sagital) e às diferentes partes do corpo como uma forma de manutenção articular, lubrificação completa de articulações e ativação muscular geral. São poucas as atividades físicas que conseguem oferecer um trabalho tão completo.
À medida que envelhecemos, o corpo perde elasticidade e amplitude de movimento. Para além disso, se tivermos uma vida muito sedentária, independentemente da idade, podemos lesionar-nos com mais facilidade. Com uma prática regular de asanas poderemos prevenir lesões.
Conclusão…
Se admitirmos que somos consciência, e que esta consciência se materializa através de vários níveis de vibração energética, podemos então visualizar o ser humano como se este se tratasse de uma palete de diferentes graduações de uma mesma cor, desde a sua tonalidade mais subtil à sua tonalidade mais opaca. O corpo será a nossa camada mais densa e a mente a nossa camada mais subtil.
E não adianta, nesta perspetiva, resolver um problema numa destas duas pontas se não tratamos de todo o caminho de ligação entre elas. Estaremos só a tratar parte do problema de forma superficial. O trabalho será incompleto e o resultado temporário.
Fica fácil perceber, assim, esta ideia, e deixa de fazer sentido, para quem quer melhorar a sua condição geral, concentrar-se exclusivamente numa perspetiva, ou seja, só pela mente ou só pelo corpo.
Para tratarmos de nós de forma efetiva precisamos de nos tratar tanto por fora como por dentro, e é isso mesmo que o yoga nos oferece: o treino perfeito!
Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.