Maggie Nichols denunciou, em 2015, a conduta imprópria que Larry Nassar, médico oficial da Federação Americana de Ginástica, que esteve em muitas das suas consultas privadas quando tinha apenas 15 anos. Foi a primeira a fazer uma denúncia e ganhou o nome de Atleta A para proteger a sua identidade, o que de pouco valeu uma vez que acabou por sofrer represálias por ter denunciado o caso e, durante um ano, nada aconteceu ao médico.
Atleta A é um documentário recém-chegado à Netflix, com pouco mais de 1h40, que reporta o encobrimento de abusos sexuais não só por parte de Larry Nassar (sendo este o protagonista da história), mas também de outros treinadores da equipa americana, em que nada chegou a acontecer.
Rachael Denhollander e Jamie Dantzscher foram mais dois nomes (entre centenas) que descreveram as violações que ocorreram de cada vez que se encontraram com o médico que, em sua defesa, disse serem intervenções médicas e que, por isso, estariam justificadas.
O caso começou a ver a luz do dia quando o jornal The Indianapolis Star falou com algumas das vítimas e, aos poucos, tornou-se evidente que tudo estava a ser encoberto pelo Presidente da Federação na altura, Steve Penny, e por Márta Karolyi, treinadora e líder da seleção americana de ginástica.
Além disto, as jovens desportistas eram constantemente vítimas de violência física e psicológica para compactuar com o sistema competitivo e exigente americano da ginástica.
Maggie Nichols e toda a equipa treinavam dia e noite no rancho Karolyi, no Texas, para serem as melhores das melhores. Não podiam inclusivamente ter contacto com os pais.
O objetivo era chegarem ao Jogos Olímpicos, o sonho de todas elas, e foi por esta altura que a ginasta começou a perguntar às colegas se Larry Nassar também tinha o mesmo comportamento com elas. As respostas foram sempre afirmativas.
Mas não foi só no rancho que os abusos ocorreram. Também durante as próprias Olimpíadas (nomeadamente em Londres, 2012) as jovens eram molestadas e, a pouco e pouco, as denúncias começaram a surgir.
O problema é que a Federação não comunicou às autoridades as acusações e alega ter começado uma investigação interna, sendo que demorou cinco semanas até o FBI ter sido chamado. E ainda assim, depois disso, não houve desenvolvimentos, o que permitiu a Nassar continuar a exercer.
Em 2017, o médico foi finalmente acusado e condenado a 60 anos por posse de pornografia infantil, aos quais se juntaram mais 175 pelos abusos sexuais. No total, foram mais de 250 vítimas que quebraram o silêncio e divulgaram as atrocidades feitas pelo médico oficial da Federação Americana de Ginástica.